08/12/2019

CarnaMato IV - 2019


Pra quem gosta da montanha o Carnaval é uma das melhores datas do ano, já que são 5 dias livres para andar até enjoar. Em um ano com poucos feriados propícios para travessias mais longas, tratei de bolar uma boa rota para ocupar 4 dias desses 5 dias. Com a benção do tempo, que prometia somente um pouco de chuva pro período, viajei até o vilarejo de Lapinha, em Santana do Riacho.

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O roteiro escolhido foi a saída da Lapinha pela estradinha Transamante até o topo do Cânion Peixe Tolo; depois descer para parte baixa do Parque Estadual da Serra do Intendente e visitar as cachoeiras da região; por fim, retornar à Lapinha por trilha antiga a partir da Cachoeira do Altar, subindo a Serra do Intendente.


1º dia: Lapinha x Afluente do Rio das Pedras

Deixei BH por volta das 8:50, domingo de Carnaval. Como já era de esperar, a viagem foi tranquila até Lapinha da Serra, onde cheguei duas horas depois. Tinha que procurar um local para deixar a moto durante os 3,5 dias de caminhada, então procurei Seu Tarcísio, com quem havia deixado o carro em 2017, quando havia tentado um outro circuito na região.

Moto guardada, hora de ajeitar os últimos detalhes e colocar o pé na estrada, literalmente. Às 11:14 deixei as capelinhas do centro do vilarejo, seguindo pela poeirenta estradinha de terra, como se estivesse retornando para Santana do Riacho. O dia prometia ser longo e cansativo, com sol forte e cargueira pesada.

A caminhada segue em nível, com ligeiras subidas. Vou observando o imponente paredão da Serra do Abreu à direita, percebendo também a boa quantidade de água que descia pela vertente a minha esquerda… choveu um bocado durante a semana. Depois de 5.5k, às 12:16 chego ao Pé de Manga, onde dois rapazes faziam o controle de entrada para o Poço do Soberbo e para a Cachoeira Bicame. Como estava de travessia e não iria a nenhum dos dois lugares, passei tranquilamente.


Agora sigo por uma estradinha um pouco mais prejudicada e cruzo com alguns ciclistas. Depois de pouco mais de 1k enfrento a primeira subida de verdade da rota, um trecho bem cascalhado da estradinha que dá acesso aos atrativos da região. A subida, porém, é rápida e logo passo pela porteira da RPPN Brumas do Espinhaço e Ermo dos Gerais.

O cerrado e a capoeira ficam para trás e passo a caminhar entre os campos rupestres bem característicos do Espinhaço. A estradinha segue em ligeiro aclive, indo em direção às cabeceiras do Córrego Lapinha. Em alguns momentos deixo a estrada para cortar caminho por eventuais trilhas. Quando me aproximo de uma subida mais forte, deixo a estradinha para caminhar em direção a uma cerca no rumo norte, por atalho um bom trecho.

A trilha que passa pela cerca reencontra a estrada um pouco mais a frente, logo depois da casinha que serve como ponto de apoio e controle de entrada da Cachoeira Bicame. Passo direto pela casinha e paro logo a frente num pequeno afluente do Córrego Fundo, onde coleto um pouco de água. Às 13:41, depois de 10.2k, deixo o local, ignorando também o acesso pra cachoeira Bicame.

A subida agora é uma constante e cada vez mais forte. Seguindo pela Transamante cruzo uma cancela no alto de um morrote, o relevo estabiliza e a minha esquerda tenho uma belíssima visão do vale do Rio das Pedras. Depois de admirar por alguns minutos aquelas campinas que se estendem para o norte, cruzo uma ponte de madeira e enfrento o segundo lance de subida mais forte.

Após o ponto culminante do 1º dia de caminhada, onde o GPS marcou 1.360m de elevação, tem início uma forte descida com cascalho, calhau e matacões no leito da estradinha. Faço a descida com cuidado por conta do peso da cargueira e em alguns minutos chego ao fim do morro. A caminhada agora é em ligeiro declive, seguindo em direção ao Rio das Pedras.

Às 14:43, depois de 13.9k, chego à ponte molhada sobre o Rio das Pedras. A correnteza no local impressionava, certamente a Bicame e o Soberbo estavam repletos de água. Como ainda era relativamente cedo e faltavam cerca de 3k para a área de acampamento, aproveito a rara sombra para um descanso. Apoiado na cargueira tiro um breve cochilo pra recobrar as energias antes de seguir viagem. Depois do cochilo, um banho de rio para reanimar e refrescar.

Às 16:04 deixo o local e continuo acompanhando a estradinha Transamante. Dez minutos mais tarde cruzo um afluente do Rio das Pedras, ponto interessante para reabastecimento das garrafinhas. Atravessando campos de altitude, a estrada segue em aclive, com amplo visual para o Pico do Breu, bem limpo naquela tarde ensolarada. Próximo a um ponto mais elevado da estradinha, entro em uma trilha à esquerda e desço por um trecho de capim alto acompanhando uma antiga cerca elétrica.

Acampamento nos arredores do Rio das Pedras

Vou me aproximando da área de acampamento, tendo no horizonte a visão de uma voçoroca que se forma nas proximidades de outro afluente do Rio das Pedras. Observo também a presença de alguns trilheiros por lá, cerca de 5 ou 6 motos. Eles descem acompanhando a voçoroca e em alguns instantes passam por mim, dirigindo-se para a Lapinha.

Às 16:50 cruzo um afluente do Rio das Pedras e ando mais algumas dezenas de metros até encontrar uma área bem interessante para acampamento, com um belo visual do Pico do Breu. O mesmo local onde acampei em 2017, mas agora o tempo estava bem mais agradável. Com um bom tempo livre até começar a escurecer, aproveito o fim de tarde para lavar a camisa que caminhei e fazer a janta. O período da noite foi dedicado a uma ligeira observação do céu e, principalmente, ao sono.

Neste dia caminhei 17.2k.

Dia 2: Afluente Rio das Pedras x Cânion Peixe Tolo

Depois de uma boa noite de sono, tomei café e ajeitei a cargueira. Às 08:12 deixo a área de acampamento e continuo pela antiga estradinha Transamente. Depois de uma primeira subida mais íngreme, deixo o leito da estradinha para seguir por umas trilhas discretas que saem à esquerda, no sentido nordeste. Esse atalho evita uma grande barriga que a estradinha dá e economiza mais de meio quilômetro de caminhada.

Adiante cruzo uma cerca de arame liso, que devia ser a tal cerca eletrificada, e intercepto a estradinha. Sigo em ligeiro aclive, com amplo visual para o vale do Rio das Pedras, ao sul. Neste trecho o relevo e a vegetação são típicas dos platôs das terras altas do Espinhaço. Passo por alguns animais pastando e, mais a frente, deixo a estradinha para cortar caminho por uma trilha discreta à esquerda. Ao reencontrar a Transamente, cruzo ela para seguir por uma trilha discreta do lado direita, que me levará à borda leste da serra.

A caminhada agora é em ligeiro declive entre campos rupestres e também passo por outros animais pastando na região. Cruzo um riachinho minguado, nas cabeceiras do Rio das Pedras. Depois de uma ligeira subida, às 09:33 intercepto uma outra estradinha e, agora, sigo no sentido sul-sudeste. Ao invés de manter a trilha clássica que desce direto pela borda leste do Espinhaço, saindo próximo ao bairro de Candeias, prefiro explorar uns caminhos mais ao sul, margeando o Cânion Peixe Tolo.

Sigo pela estradinha em relevo suave por quase 2k, até tomar a esquerda em uma bifurcação e me aproximar de uma cerca recém colocada, muito provavelmente delimitando o limite oeste do Parque Estadual da Serra do Intendente. Depois da cerca a trilha é bem discreta e vai descendo pelos campos rupestres, no fundo do cânion. Após um trecho de descida mais puxado, chego a um pequeno platô, com um visual bem interessante do cânion, um ponto de vista até então inédito para mim.

Visão "dos fundos"

A caminhada segue em declive, aos poucos a trilha vai tomando o sentido leste, em direção à borda da serra. O caminho, discreto, segue avançando entre campos rupestres e porções de cerradinho, repleto de candeias. Até as proximidades do Ribeirão Peixe Tolo a caminhada é de fácil navegação. No trecho de acesso ao ribeirão, no entanto, a trilha dá uma sumida e as canelas-de-ema contribuem para isso. Vou descendo entre os tufos no sentido nordeste e às 11:30, depois de 10.8k chego ao ribeirão, onde faço uma parada para banho e lanche. O local é bem agradável, com alguns pocinhos, mas pouca sombra. Descendo o ribeirão, por pouco mais de 500 metros, chega-se ao topo da Cachoeira Peixe Tolo (ou Bocaina).

Às 12:09 retomo a caminhada, vou subindo por um trecho de campos rupestres, tentando achar a trilha mais batida. Depois de um trecho arenoso, reencontro um trilho principal, mas logo ele vai desaparecendo entre os campos rupestres, para reaparecer no trecho de descida mais forte. Rapidamente chego à borda da serra e tem início a descida mais pesada do trekking. A trilha é estreita em alguns pontos, com barranco de um dos lados, além de estar repleta de cascalho.

Depois de descer um bocado a trilha deixa os campos rupestres e embrenha em um capão de mata, onde está com um aspecto de suja. Neste momento faço uso do facão, dando uma limpada nos galhos caídos sobre a trilha e nos cipós. E um ponto uma árvore caiu bem no meio do caminho, fazendo com que um desvio fosse improvisado no local. Após uma boa caminhada no interior do capão, saio novamente em campos rupestres, já próximo do Rancho Peixe Tolo, que fica no final da encosta.

O trecho final é feito em zigue-zague e, às 13:11, depois de 13.7k, passo pelo rancho, após pedir permissão a um dos moradores do local. A caminhada agora segue no sentido sul, cruzando trechos de capoeira e capões de mata, em direção ao acesso principal do Cânion Peixe Tolo. Neste caminho alguns córregos servem como abastecimento de água. Após cruzar um afluente do ribeirão Peixe Tolo, atravesso uma tronqueira e enfrento um trecho de trilha bem suja, quase apagada, até interceptar a estradinha.

Na trilha principal do Peixe Tolo, agora sigo avançando para o interior do cânion. A trilha é bem consolidada e segue sempre à direita do ribeirão, cruzando, primeiro, um trecho de cerrado, para depois se embrenhar nos capões de mata do interior do cânion. Com aproximadamente 30 minutos de caminhada no interior do cânion, a trilha pela margem acaba, agora é preciso pular as pedras do leito. São aproximadamente 500 metros de maior intensidade e dificuldade, até chegar ao encontro das águas no interior do cânion. Neste ponto a trilha reaparece à direita e já é possível ver a cachoeira despencando do paredão.

Paredões do cânion

Às 14:29 chego à Cachoeira do Peixe Tolo, também conhecida como Cachoeira da Bocaina, e passo boa parte da tarde por lá, na companhia de algumas outras pessoas que tinham feito a trilha normal. Depois de um merecido banho e repouso, um pouco antes das 16:00 começo a fazer o caminho de volta, descendo bem tranquilo pelo leito do ribeirão, já que a ideia era acampar na entrada do cânion. Às 16:22 chego ao local escolhido para acampar, um pouco antes de chegar ao córrego que é preciso cruzar no início da trilha.

O fim da tarde foi dedicado às tarefas comuns de acampamento, como lavar roupas e cozinhar.

Neste dia caminhei 19.6k.

Dia 3: Cânion Peixe Tolo x Rancho Abandonado

O dia amanheceu claro, com nuvens esparsas na entrada do cânion, porém não tardou muito e logo uma nebulosidade se aproximou da serra e tomou conta. Depois de enrolar um pouco, deixo a área onde acampei às 8:32, teria uma caminhada tranquila nesses quilômetros iniciais.

Saio do Peixe Tolo pelo caminho tradicional, a estradinha. Somente um aclive moderado neste trecho inicial, porém com amplo visual para a borda da Serra do Espinhaço e entrada do cânion. A caminhada é tranquila, uma caminhonete passa por mim e o motorista oferece carona, mas como não iria adiantar muito pra mim, decido recusar. Após 2.2k e 40 minutos chego ao Ribeirão Peixe Tolo, onde, normalmente, a trilha para o cânion se inicia. Aqui não tem jeito, é preciso tirar a bota para atravessar. O ribeirão é profundo o suficiente para encharcar a bota por cima e a lâmina d’água é larga o suficiente para impedir um salto.

Nesse processo de tira e põe a bota são mais de 6 minutos por ali, na beira do ribeirão. Do outro lado prossigo, passando na frente de um bar, apoio para os visitantes. Logo após o bar, em vez de continuar subindo pela estradinha, sigo uma cerca a minha direita. Passo a caminhar por um trecho de capoeirinha e trilhas de gado. Trata-se de um atalho para quem está a pé e vai para os lados da Cachoeira Rabo de Cavalo, que seria meu primeiro destino do dia.

Continuo por um trecho de campos até a trilha me levar para um pequeno capão de mata, onde cruzo um pequeno afluente do Córrego Teodoro. Do outro lado ressurjo em campos e vou me aproximando de uma casinha, aparentemente fechada, Logo na frente da casa uma erosão vai se formando e cruzo o buraco por uma pinguela improvisada. Depois de cruzar percebo a fragilidade da estrutura e alivio em saber que ela suportou minha passagem rs.

De volta a estradinha, sigo por ela até o local que serve como estacionamento dos visitantes da Cachoeira Rabo de Cavalo. Passo direto pela casinha e dou início a curta trilha que leva à cachoeira. A trilha tem 3.7k de extensão, ida e volta, cruza o Córrego Teodoro duas vezes e segue bem próximo a ele, na maior parte do tempo. O trecho final é composto por uma subida moderada e uma descida forte até o poço, sendo que o trecho final é bem irregular, sobre as rochas.


Logo no início da trilha passo pelo posto do IEF, onde fazem um controle de entrada. Recebo a boa notícia de ser o primeiro visitante do dia. Como a distância é pequena, resolvo ir de cargueira e tudo. Em pouco mais de meia hora chego ao belo poço da Rabo de Cavalo, tendo como companhia somente os Bombeiros Militares que já estavam de prontidão.

Pausa para natação, algumas fotos e pra fazer um lanche antes de bater em retirada. Às 11:49, já com a cachoeira começando a encher, saio do poço para cumprir o restante da pernada do dia. Agora por um trecho totalmente inédito para mim. Retorno até o local de estacionamento de visitantes, que aquela altura já via muitos carros estacionados, para alegria do senhor que cobra uma taxa para isso.

Como a área de estacionamento agora é cercada, saio dela e vou margeando a cerca à direita, até interceptar os traços de uma antiga estradinha. Sigo por um trecho de campos no sentido sudeste e, mais a frente, próximo a uma pequena estrutura, encontra a estradinha principal, que dá acesso a uma propriedade local. Ignoro a estradinha que segue para a propriedade e passo por uma porteira bem judiada, iniciando uma forte subida pela Serra do Intendente. Os campos ondulados vão dando lugar aos afloramentos rochosos da vertente da serra. O aclive vai ficando cada vez mais puxado e as paradas para tomar um ar são inevitáveis.

A vegetação arbustiva e herbácea dá lugar a uma floresta e a subida alivia... Sombra! Ar fresco! Avanço pela mata e logo surge, bem no fundo de um vale, a Cachoeira do Altar. Ignoro uma trilha discreta que seguia em frente para dar uma guinada para a direita (norte) e descer uma ladeira bem acentuada. A descida é curta, porém, e logo já estou no leito do Córrego Teodoro, bem próximo da cachoeira. Desço alguns degraus na rocha, atravesso o leito amistoso do córrego e chego ao Altar, às 13:25, depois de 11.6k.

Metros antes da última descida

A parada foi mais ligeira dessa vez, refresco no poço da cachoeira e um lanche rápido, afinal, ainda tinha uma serra inteira pela frente. Às 12:14 deixo o local, tomando uma trilha discreta que sobe à direita do Córrego Teodoro, na saída do poço. Subo pelos campos rupestres e observo um caminho bem sujo à esquerda, por onde sigo, me aproximando de uma casinha escondida em meio a mata. Uma aguinha bem minguada escorre por uma drenagem, aproveito para encher minha garrafinha, pois não havia mais certeza de água até o fim do dia.

Ao invés de seguir pela trilha e fazer uma barriga, decido aproveitar a vegetação arbustiva para tomar um atalho, interceptando a trilha mais batida logo adiante. Este novo caminho me leva para o sul, a princípio margeando a mata e, depois, enveredando por ela. Passo por alguns afluentes do Córrego Teodoro e saio novamente num trecho de campos.

Ignoro uma trilha que segue para sudeste me mantendo à direita, atravesso um pequeno capão de mata e torno a sair em um trecho de campos, espremido entre o capão de mata e alguns afloramentos rochosos. Já tenho no meu horizonte o desafio do restante do dia: os mais de 400 metros de ganho de elevação da Serra do Intendente.

Aos poucos, a caminhada tranquila se transforma numa extensa e pesada subida, com o sol brilhando e desempenhando papel fundamental. A vista, no entanto, é recompensadora. No horizonte o visual para além do Espinhaço, com o conjunto de serras do entorno de Conceição do Mato Dentro. O destaque, porém, é o majestoso Pico do Itambé, a dezenas de quilômetros dali.

Passo a passo ganho altitude pelas encostas da Serra do Intendente, tendo ali, praticamente ao meu lado, o profundo cânion do Rio Preto. Por volta dos 1.225 metros de elevação chego a um maravilhoso platô, que seria ainda mais maravilhoso se tivesse água fácil acesso por perto. Depois de contemplar mais um pouco sigo para o trecho final da subida, já próximo do topo da serra.

A trilha, até então bem demarcada, vai desaparecendo aos poucos. Em alguns trechos perco o rastro, mas torno a achar logo adiante. Depois de muito suor, por volta das 17:10 chego ao topo da Serra do Intendente, onde o GPS marcou 1.401m de elevação. Agora a trilha segue em ligeiro declive, em direção a um rancho abandonado na cabeceira do Rio Preto.

Topo da Serra do Intendente

Já com o sol bem baixo no horizonte me aproximo do rancho. Cruzo o ainda pequeno Rio Preto e passo por um pequeno afluente mais adiante, já na beira da casa. O rancho possui duas construções, mas espalharam esterco por quase todo o local. O único local a salvo é a cozinha da casa, aproveitei então para montar minha barraca ali, o que facilitaria a saída na manhã seguinte.

Às 17:30 finalizado minha caminhada, aproveitando as luzes do fim de tarde para alguns afazeres de acampamento. Neste dia caminhei 19.4k.

Dia 4: Rancho Abandonado x Lapinha

A noite foi relativamente tranquila dentro da casa, a exceção foi o baita susto que um cavalo me deu ao pastar no entorno da casa por volta de meia-noite. Acordei bem cedo, por volta das 5:30, logo ajeitei a cargueira e preparei o desjejum.

A caminhada de retorno pra Lapinha não prometia nada demais, era basicamente esticar o couro pelas estradinhas e trilhas. A ideia era finalizar o circuito cedo para retornar a BH e evitar a loucura do trânsito de fim de Carnaval. Deixei o rancho às 6:30, sob uma espessa neblina. Sigo pelo que sobrou da estradinha de acesso ao rancho, mantendo o rumo sul. A caminhada segue em ligeiro aclive, em alguns pontos deixo a estradinha para cortar caminho por trilhas de gado, que sempre estão presentes neste trecho.

Manhã sombria

Passo por um sombrio capão de mata e torno a sair em um trecho de campos de altitude, porém a neblina não me oferece nada de visual. Às 7:18 passo por uma bifurcação da estradinha, sendo que o caminho da direita desce para o vale do Rio das Pedras, trecho por onde passei no primeiro dia de caminhada. Depois de 5k em pouco mais de 1h de caminhada, deixo a estradinha em favor de uma trilha bem marcada, o antigo caminho da travessia Lapinha x Tabuleiro, então interditado.

Desço pela cascalheira e, pela primeira vez no dia, consigo ver algumas coisas no horizonte. Avanço pelo sopé da serra, adentrando no vale do Rio Parauninha. Rapidamente passo pelo terreno da fazenda Gadalufe, retomando o caminho atual da travessia. Com algum visual, podendo flertar com o Pico do Breu de vez em quando, vou enfrento a ligeira descida que leva ao Rio Parauninha, onde chego às 8:47, depois de 9.5k.

Faço uma parada rápida para descanso e lanche e retomo a caminhada após 25 minutos. Agora sigo em aclive quase que constante, porém suave a maior parte do tempo. As exceções são os pequenos mergulhos que faço para cruzar alguns afluentes do Parauninha.

A medida que vou me aproximando da Lapinha o tempo vai melhorando, com o sol dando o ar da graça algumas vezes. Às 10:00 cruzo o afluente do Córrego Mata-Capim, que próximo dali, a jusante, forma a Cachoeira do Lajeado. Depois de cruzar um segundo afluente do Mata-Capim, resolvo fazer um caminho um pouco diferente, tomando à direita na bifurcação a seguir. Após uma subida moderada por um trecho de campos rupestres, descortina-se no horizonte o belíssimo visual da lagoa e do povoado da Lapinha.

Com todas as baterias esgotadas, tiro então a última foto do circuito de quatro dias e começo a descer. A descida é bem acentuada em alguns pontos, com degraus e trechos com pedras soltas. Com a mochila leve e a vontade de chegar, vou descendo rápido. Passo por um pequeno grupo que iniciava a travessia para Tabuleiro, um deles me pergunta se eu estava vindo de lá….

Aproximação final

Finalizada a descida, chego às margens da lagoa da Lapinha, formada artificialmente com a construção da Represa Coronel Américo Teixeira. Vou ladeando a lagoa e logo passo pela ponte de concreto sobre o Córrego Lapinha. As primeiras casas do povoado começam a aparecer e o fim da caminhada era iminente. Às 11:21, já com alguma fome, me certifico que já tem comida feita no restaurante e decido acabar o circuito por ali mesmo, no melhor estilo.

Neste dia caminhei 17.5k.

LOGÍSTICA:
Como se trata de um circuito, a logística para essa caminhada é relativamente simples, para tanto, basta deslocar-se até o povoado de Lapinha.

Lapinha da Serra, como é mais conhecida, é um povoado pertencente ao município de Santana do Riacho e dista, aproximadamente, 130km de Belo Horizonte. O acesso é pela rodovia MG-010 até a Serra do Cipó. Depois da ponte estreita sobre o Rio Cipó, tome à esquerda na primeira rotatória, seguindo até Santana do Riacho. Chegando a Santana, são mais 13km até a Lapinha, o acesso final é por uma estrada de terra em condições medianas, com aclives e declives acentuados, além de trechos sinuosos e estreitos.

De ônibus, há carros regulares entre Belo Horizonte e Santana do Riacho, porém somente dois horários ao dia. Entre Santana e Lapinha não há transporte regular, de forma que é preciso seguir a pé, de carona ou contratar um serviço no local.

OBSERVAÇÕES:
Este circuito não necessita de autorização específica, embora passe por áreas particulares e também pelo Parque Estadual da Serra do Intendente.

A dificuldade é moderada para experientes, entre as dificuldades principais estão os aclives e declives muito acentuados, trechos de trilha discreta/suja e o trecho pelo leito do rio no cânion Peixe Tolo.

Há boa disponibilidade de água ao longo da rota, porém o caminhante deve se atentar aos trechos de escassez e também em relação ao período de estiagem, quando a oferta de água diminui. Na Lapinha não há sinal de telefone, já na borda leste da Serra é possível captar o sinal da região de Conceição do Mato Dentro (VIVO).

SEJA DISCRETO, LEVE SEU LIXO DE VOLTA, NÃO FAÇA FOGUEIRAS, FECHE AS PORTEIRAS/TRONQUEIRAS QUE ABRIR. Seguir esses poucos passos faz com que a rota permaneça disponível para futuros montanhistas.

Há diversas rotas de escape ao longo do circuito, em especial a saída para a região de Conceição do Mato Dentro ao longo do 2º e 3º dias. Deve-se observar, no entanto, que será necessário percorrer longas distâncias por estradas de terra para chegar às vilas e povoados cercanos, como Candeias, Itacolomi e Tabuleiro. Outra opção é retornar ao ponto inicial, em especial no 1º e em boa parte do 2º dia.

O circuito pode ser realizado em ambos os sentidos, sem qualquer prejuízo. Não há qualquer ponto de apoio ao longo da rota, a exceção dos bares que existem nas proximidades do Cânion Peixe Tolo e da Cachoeira Rabo de Cavalo. Boa parte da caminhada é feita por áreas descampadas, proteja-se!

4 comentários:

  1. opa Hélio, blz?!

    tou pensando em fazer um trajeto semelhante. por isso, queria algumas dicas/orientações, se possível. peço isso, pois vc já caminhou algumas vezes nessa região.

    1) vc relatou que não há problemas em cruzar a RPPN Ermos das Gerais usando a Transamante. sabe dizer se isso continua? já fiz o circuito Lapinha - Soberbo - Bicame - Lapinha e não tive problemas. mas isso já tem uns bons anos.

    2) qdo vc fez o trecho entre a casinha de controle na entrada da Rabo de Cavalo e a cachoeira do Altar, houve algum questionamento por parte do pessoal do parque que fica na casinha?

    3) pelo que entendi, no trecho entre o rancho abandonado e a prainha do Parauninha, vc fez o caminho antigo da Lapinha - Tabuleiro: qdo saiu da trilha que sai do rancho, caiu na estradinha que beira um pastão. largou essa estradinha pra descer uma piramba e pegou a trilha que passa dentro da fazenda. é isso mesmo?

    te parabenizo pelos belos relatos e tracklogs! é bem difícil encontrar tracklogs bem descritos. e os relatos ajudam bastante aqueles que curtem trilhar pelas cartas topográficas! rsrs...

    valeu!

    Alexandre

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    1. opa, Alexandre, tudo bem? vamos lá:

      1. não havia problemas na época, agora a administração local mudou algumas coisas. porém, uma conhecida me relatou que basta avisar na associação de moradores da lapinha sobre a travessia pela transamante. não tem custos, eles lhe entregarão um papel com a autorização.

      2. a casinha saiu daquela área aberta e agora fica no interior da mata, no meio da trilha que vai para a cachoeira rabo de cavalo. como não fui visto, não fui questionado. também acredito que não há problemas em transitar ali.

      3. sim, passei pelo trecho antigo ("interditado") para cortar caminho, não há impedimentos quanto a isso.

      gradicido pelas palavras. qualquer coisa estamos aí. bons ventos!

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    2. valeu pelas respostas Hélio, a dica sobre a associação de moradores veio a calhar!

      tou pensando em fazer o mesmo caminho que vc fez até o topo do cânion do Peixe Tolo. daí, vou fazer isto: topo do cânion - cachu do altar - estradinha que chega no estacionamento da Rabo de Cavalo. se eu ainda tiver perna, rsrs, subo de volta pro topo do cânion pelo caminho que vc usou pra descer, e daí toco pra Lapinha do jeito que vc fez.

      dou um retorno mais pra frente.

      valeu!

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  2. Blz, Hélio?!

    Dando um retorno sobre a autorização, peguei a mesma na Cantina do Jardim. Essa Cantina fica na rua principal da Lapinha, no início da descida sombreada que leva para a ponte sobre o córrego que desagua(va) na lagoa.

    Como vc havia informado, é gratuita e basta preencher um termo e apresentar um documento.

    Pra quem tá de travessia, há uma restrição de horário pra chegar na casinha de controle da RPPN, o limite é 10:30. Mas cheguei lá por volta das 11:20 e não tive problemas, pois quem me concedeu a autorização avisou ao rapaz que estava na casinha que eu chegaria lá depois das 10:30.

    Acho que esse limite de horário aplica-se mais aos grupos grandes (10, 15 pessoas). Se surgir 1 ou um grupo pequeno de mochilados depois das 10:30, talvez não tenha problemas, desde que conversando numa boa com quem estiver na casinha.

    É isso aí, abraços!

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