06/04/2016

Lapinha da Serra II: Poço do Soberbo e Cachoeira do Rubinho

As cachoeiras nas proximidades do vilarejo de Lapinha da Serra estavam no meu radar há tempos. Na Semana Santa de 2016 tive a oportunidade de conhecer algumas delas, como o Poço do Soberbo e a Cachoeira do Rubinho, sempre na companhia da Giu. Uma caminhada tranquila, com muito Sol (ao contrário da previsão) e água em abundância.

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Ao planejar o roteiro para Lapinha da Serra esbarrei na falta de informação sobre o acesso às cachoeiras da região, como o Soberbo e a Bicame. Cada um dos meus amigos dizia uma coisa, embora todos concordassem que seria difícil chegar de carro (mesmo 4x4) até as proximidades do Soberbo. Antes de partir conversei com o Ildeu, um dos proprietários da Fazenda Cachoeira, onde está localizado o Poço do Soberbo. Já em Lapinha da Serra terminei de sanar minhas dúvidas no receptivo do Vandir, ao lado das capelinhas. Informações atualizadas sobre o Soberbo e a Bicame detalho nos próximos parágrafos.

A caminhada até o poço pode ter início em vários pontos. Qualquer seja o início, a caminhada é bem tranquila, quase sempre por uma estradinha de terra pouco sombreada, ou seja: difícil de se perder e fácil de se queimar com o Sol.


Desde o centro do vilarejo são quase 17,5km de caminhada. Carros de passeio chegam até o lugar conhecido como Pé de Manga, na segunda porteira, onde existem pessoas controlando a entrada, ao menos nos feriados. Saindo do pé de manga a caminhada fica 5km mais curta, totalizando quase 12km até o poço. De moto ou veículo 4x4 é possível atravessar um pequeno trecho alagado (as motos podem passar por cima) e subir até a porteira da Fazenda Cachoeira, de onde também é possível acessar a cachoeira Bicame. Da entrada da fazenda são aproximadamente 10km de pernada.

Para as motos trail/bigtrail e os 4x4 mais preparados (com um pneu bom, no mínimo) é possível descer até o antigo rancho, utilizado como ponto de apoio pelos tropeiros. São aproximadamente 5km de descida, passando por muitos afloramentos rochosos e trechos pedregosos. Do rancho até o poço a caminhada tem cerca de 5km de extensão. Atualmente o Vandir faz esse transfer até o rancho em veículo próprio, cobrando 80$/pessoa, saindo com no mínimo 6 e no máximo 12 em uma Toyota Bandeirante adaptada. Para entrar com veículo próprio é necessário pagar uma taxa de 50$ por viatura.

1º dia: Poço do Soberbo
Disponível no Wikiloc.

Saímos de BH na sexta de feriado. Mais tarde do que queríamos, é verdade, mas não pegamos muito trânsito e chegamos a Lapinha por volta de 11h. Fomos direto ao receptivo do Vandir, ao lado das capelinhas, e acertamos por lá nosso camping no Poço do Soberbo. ( Em março/2016) Foi nos cobrado um ingresso de R$25/pessoa, mais o valor de R$15/pessoa por pernoite.

Acertada as contas, seguimos para a porteira da Fazenda Cachoeira, onde deixaríamos a viatura, a pouco mais de 7km do centro do povoado. Na segunda porteira passamos pelo “posto de controle”. Esquecemos de pegar algum comprovante no Vandir, mas conversamos com o pessoal e eles nos deixaram seguir sem problemas. Passamos pelo trecho alagado, que deve ter um pouco mais de 5m de comprimento e a profundidade em alguns pontos chega a cobrir a roda de 16”. Depois subimos por muitos cascalhos e pedras até a entrada da fazenda. Estacionamos o carro na única sombra existente, o Sol brilhava com força, sem sinal de chuva.

Enquanto arrumávamos nossas mochilas passou uma caminhonete e a chance de conseguir uma carona até o rancho, mas isso não é problema. Por volta de 12h30 pulamos a porteira e demos início a mais uma pernada pelo Espinhaço. A primeira parte da trilha é seguindo a estradinha que leva ao rancho. Bem no comecinho temos um belo visual do vale do Córrego Fundo e do Ribeirão Soberbo, que lá embaixo, junto com o Rio de Pedras (que desce da Bicame) formam o poço.

Neste início o relevo do terreno é bem suave, quase plano, com pequenas subidas e descidas. Fomos nos aproximando do trecho em que a estrada faz um zigue-zague para descer até o fundo do vale, em busca do atalho que nos economizaria algumas centenas de metros. Depois de pequenos fracassos, encontramos o atalho, que sai à direita da estrada, num trecho arenoso. Não tinha totem logo no começo da trilha, só mais pra frente. Na volta acabei empilhando umas pedras por lá para facilitar a localização.


Depois do primeiro atalho a estrada faz mais um pequeno zigue-zague, para descer mais um pouco. Logo na primeira curva pra direita visualizamos uma trilha bem marcada que saía pela tangente, no rumo certo. Resolvemos seguir por ela. O segundo atalho não funcionou muito bem, logo a trilha fechou ainda mais e foi até difícil seguir o trilho original em alguns pontos. Provavelmente a trilha foi abandonada há algum tempo. Com algum vara-mato interceptamos uma trilha bem batida que seguia num sentido completamente novo, o alto da serra. Ficamos curiosos pra saber onde aquela trilha bem marcada ia dar, mas ficou só curiosidade mesmo. Fomos direto ao rancho e por lá descansamos alguns minutos na sombra. Nos primeiros 5km de caminhada não visualizei nenhum ponto de água confiável.

Do rancho até o Poço Soberbo a trilha, que ainda segue a antiga estrada usada pela mineração, ganha alguns trechos sombreados e possui boa disponibilidade de água, já que sempre temos a companhia do Córrego Fundo e suas águas cristalinas. Cruzamos o córrego algumas vezes e por volta das 16h nos aproximamos das quedas do Rio das Pedras.

De longe ouvíamos o som grave das águas descendo a serra. Logo tivemos o visual das sucessivas cachoeiras e ficamos surpresos. Muita água, mas muita água mesmo! Uma cabeça ou tromba d’água descia a serra. No encontro com o Córrego Fundo o rio transbordava e ocupava toda sua calha e mais um pouco.

Mais alguns minutos caminhando e chegamos ao que deveria ser o Poço do Soberbo, mas a água era tanta que ele estava mais pra um rio. Com a cheia o poço deve ter ficado, no mínimo, uns 2 metros mais alto. Montamos nossa barraca ao lado de uma das ruínas da mineração e observamos a força da água. Entramos num beirinha do poço para tomar banho e só. Fomos dormir ouvindo o barulho das águas, o que me fez sonhar com cachoeira umas duas vezes durante a noite.

Neste dia caminhamos 10km.

2º dia: Cachoeira do Rubinho
Disponível no Wikiloc.

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Acordamos pela manhã e o volume de água que descia pelo Rio das Pedras tinha diminuído consideravelmente. Uma praia de cascalho já aparecia e as águas estavam com menor turbidez. Tomamos um banho de rio de verdade e decidimos mudar os planos, cancelando uma ida a Bicame. Pela dificuldade da trilha e, principalmente, pelo rio, já que o céu não estava dos mais abertos. Nossa opção para o segundo dia foi seguir até a Cachoeira do Rubinho, a menos de 3km do Soberbo.

A primeira tarefa era atravessar o Rio das Pedras no alto da cachoeira do Soberbo. Tinha uma opção mais fácil, que é o caminho das mulas que vêm de Fechados, mas esquecemos disso e fomos pular de pedra em pedra. Chegando nas pedras acima da cachoeira do Soberbo e seguimos sentido noroeste, acompanhando a certa distância o Ribeirão Soberbo. Das rochas do alto da cachoeira do Soberbo vemos uma placa, a trilha batida começa bem ao lado dela.

A placa não é nada simpática: entrada proibida, invasores serão processados. Como cowboys fora da lei seguimos pela trilha bem demarcada, embora estreita, que integra a travessia Fechados x Lapinha da Serra. O relevo é bem suave, praticamente plano. Pontos de água confiáveis somente no trecho final da trilha, já com cerca de 30 minutos de caminhada.

Antes de chegar ao ponto de água é possível visualizar a cachoeira do Rubinho, mas a trilha ainda não vai em direção ao poço. Depois do ponto de água ela se aproxima de um dos afluentes do Ribeirão Soberbo, para então cruzá-lo nas proximidades de um curral bem forrado. Aqui atravessamos uma cerca e seguimos pela trilha até uma bifurcação. O caminho mais batido continua sentido Fechados, o mais escondido desce em direção ao poço do Rubinho.

Rubinho tem o poço tão grande quanto o do Soberbo, com a diferença que é possível chegar na queda com maior facilidade. Ao contrário do Soberbo não há praia de areia e cascalho. As rochas formam dois poços, um pequeno mais próximo a queda e outro enorme, de águas calmas. Único porém é que os mosquitos estavam sedentos.


Depois de um bom banho no poço, percebemos algumas nuvens escuras se aproximando e fomos arrumar nossas coisas pra volta. Neste interim chegou um grupo com 3 senhores, todos aparentando ter mais de 40 anos, mais de 50 até. Conversamos um pouco e um deles disse que nunca tinha visto tanta água descendo  pelo Rio das Pedras como no dia anterior. Era muita água mesmo!

Antes que a chuva começasse batemos em retirada e logo chegamos ao topo da parte alta do Soberbo, sempre acompanhados pelos mosquitos. No caminho ainda tivemos o prazer de ver uma coruja das grandes no alto da copa de uma árvore. Assim que chegamos ao nosso acampamento a chuva começou a cair e durou por algumas horas. Antes do final do dia ela parou e ainda deu tempo de preparar o almoço/janta com luz natural.

Neste dia caminhamos 5,2km.

3º dia: Cânion do Rio das Pedras e a volta

O dia amanheceu com poucas nuvens, o que era péssimo para um dia de retorno, já que a vontade era aproveitar um pouco mais do local. Seguimos até um ponto a jusante do poço para ver o cânion do Rio das Pedras. A força da água e os desníveis não nos deixaram seguir muito adiante. Fiquei imaginando como estaria o local no dia da enchente do Rio das Pedras, perdemos a oportunidade de observar isso.

O Sol pedia e assim fizemos: mais um mergulho no poço antes da retirada. Saímos de lá com o Sol a pino, que nos acompanhou durante os 10km da volta até o carro. Muitas paradas para refrescar e repor a energia que o calor drenava. Terminamos a pernada por volta de 15h30. Antes de descer ainda encontramos o Vandir voltando da Bicame e um vivente finalizando uma pernada que começou nas proximidades de Candeias e passou pelo alto do Cânion Peixe Tolo.

Na volta pra BH pegamos alguns desvios por terra pra escapar do congestionamento. Chegando a ponte sobre o Rio das Velhas não teve jeito: tudo parado. Pegamos o desvio por Lapinha para fugir do trânsito pesado na região central de Lagoa Santa. Deu certo, chegamos em casa por volta de 18h30, com mais duas cachoeiras na bagagem. Agora só falta a Bicame!


Neste dia caminhamos 10km, descontada as explorações.

DICAS E INFOS:
Para conhecer Soberbo e Rubinho, a melhor opção é acampar na Fazenda Cachoeira, já que o trajeto é relativamente longo, sendo que a volta é só subida. Boa disponibilidade de água ao longo da rota, principalmente depois que cruzamos o Córrego Fundo, mais ou menos na metade do caminho. O ideal é ficar uns dias acampados por lá, para explorar a região, que tem muitas cachoeiras.

A caminhada é quase sempre por áreas expostas, filtro solar e chapéu são essenciais, principalmente no verão. Ao redor do poço só o que sobrou da mineração, não há qualquer infraestrutura por lá.

COMO CHEGAR:
De carro, desde Belo Horizonte, siga pela MG-010 para a Serra do Cipó. Após a ponte estreita sobre o Rio Cipó, entre à esquerda na primeira rotatória, para Santana do Riacho. Passe o centro de Santana do Riacho e siga em direção à Lapinha. Ao chegar no cotovelo, curva bem fechada no final do trajeto, siga direto até onde for possível. Carros comuns ficam no pé de manga, veículos 4x4 ou motos conseguem subir até a porteira da Fazenda Cachoeira.

De ônibus, a viação Saritur faz o trajeto desde BH até Santana do Riacho. Lá é preciso seguir caminhando ou, de preferência, arrumar uma carona para o início do trajeto.

4 comentários:

  1. Ótima informações! Vou divulgá-las!

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    1. Obrigado Juh! Atente-se somente para os valores, a postagem foi escrita em 2016, de lá pra cá podem ter aumentado os preços. Bons ventos!

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  2. Olá! Excelentes informações. Sabe informar um número de telefone para contato com o Vandir? Gratidão.

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    1. Olá Júnior, infelizmente não possuo o contato do receptivo, porém, imagino que deva conseguir no google. Bons ventos!

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