25/06/2016

Serra do Cipó: Cachoeira da Lagoa Dourada


Já escutei muitas histórias sobre o vale da Lagoa Dourada, considerado um dos lugares mais bonitos da região do Cipó, mas nunca havia tido a oportunidade de conhecê-lo, até porque só sabia do caminho via Altamira ou Parque Nacional, trilhas que exigem ao menos uma pernoite. Até que, fuçando o Wikiloc num belo dia (aliás, o Wikiloc é uma ótima ferramenta para qualquer trilheiro/montanhista, assim como um GPS portátil), encontrei o tracklog para a cachoeira da Lagoa Dourada via povoado de São José da Serra, uma caminhada de aproximadamente 6km.


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Com uma trilha aparentemente simples e que poderia ser realizada num bate-volta, a oportunidade de conhecer a Lagoa Dourada logo surgiu, quando a Giulia resolveu convidar sua prima, a Maria, pra uma pernada no Cipó. Assim, partimos em três em busca de mais uma cachoeira do Espinhaço.

Para começo de conversa, a Serra da Lagoa Dourada não tem nenhuma lagoa. Aparentemente o nome vem da impressão que se tinha ao observar a vegetação (de campo de altitude) nas horas douradas do dia. Não tem lagoa, mas tem o rio Jabuticatubas, que serpenteia pelo vale até despencar diversas vezes por um cânion, formando assim várias cachoeiras, inclusive a que nós buscávamos.

Saímos de carro de Belo Horizonte num domingo de Sol com ZERO nuvens e pouco calor, tempo bem agradável para uma caminhada. Viagem foi tranquila pela rodovia MG-010, por onde seguimos até o trevo de acesso para o povoado de São José da Serra, que pertence ao município de Jaboticatubas. Daí em diante seguimos por estradas de terra, geralmente em boas condições, a exceção de algumas costelas de vaca e buracos. Para chegar ao ponto de início da trilha, que fica nos arredores do povoado, pegamos a segunda à esquerda após o trevo que dá acesso à localidade de Capão Grosso (trevo sinalizado), uma estrada mais estreita e com algumas árvores ao redor. Seguimos pela estradinha, que subia um pedaço da serra, por aproximadamente 2,2km, até uma curva mais fechada à direita que tinha uma porteira do lado oposto, ponto em que a estradinha começava a descer e seguir de volta para o povoado.


Neste ponto haviam pequenas clareiras no cerrado da margem direita, local que julgamos apropriado para deixar a viatura enquanto fazíamos a trilha, tinha até sombra. UM AVISO: não deixe o carro na estradinha, nem no cantinho, encostado a cerca. É um trecho estreito e nos 10 minutos que ficamos por lá, arrumando as coisas, passou um caminhão levando um trator na caçamba (!!!). Se o carro estivesse na estrada o caminhão não passaria, ou passaria por cima, já que também não havia espaço para manobrar o caminhão (imagina se o motor ia descer o caminhão de ré levando um trator nas costas?!).

A porteira está trancada com cadeado, além de ter uma cerca na frente, mas há um vão livre entre dois mourões bem ao lado, local de passagem. O início da “trilha” é, então, uma ligeira subida por estradinha de fazenda, meio abandonada. Uns 350 metros após a cerca há uma bifurcação, a estradinha segue à esquerda e o trilho se fecha um pouco, mas só um poquinho mesmo. Seguimos subindo por mais uns 500 metros e reencontramos a estradinha de fazenda, agora já começando um trecho mais cascalhado da subida.

Desde a porteira, por onde entramos, são aproximadamente 2.800 metros só de subida, com apenas 2 ou 3 trechos mais acentuados, que exigem um pouco mais do físico. Em alguns pontos da subida é possível ver, um pouco de lado, a fenda por onde desce o rio Jabuticatubas, nosso destino. Embora a subida tenha algumas bifurcações, quase todas são opções diferentes para o mesmo fim. Como a cachoeira está à direita de quem sobe, em caso de dúvida, é só seguir nesse sentido (direita).


Findando a subida deste primeiro patamar da Serra da Lagoa Dourada, logo aparece uma porteira. Daqui pra frente o relevo se mantem suave até o fim. Logo que cruzamos a porteira, percebemos uma trilha bem batida que segue reto. Pode até parecer, mas este não é o caminho. O certo é manter à direita após cruzar a porteira, meio que margeando a cerca, subir por umas pedras e continuar pela trilha bem marcada sobre o campo de altitude. Logo atingimos o ponto mais alto desta trilha, 1.294m de acordo com o GPS, e começamos uma suave descida até as margens do rio Jabuticatubas, com um belo visual do vale e das outras elevações da Serra da Lagoa Dourada.

No meio da descida passamos por um pequeno afluente do rio Jabuticatubas, onde, mais acima, um grupo de bois pastava na margem. O córrego formava pequenos poços, bem cristalinos e com o fundo coberto por plantas. Esse foi o único ponto de água que encontramos no caminho, com exceção, é claro, da cachoeira.

Descemos mais um pouco e logo encontramos uma cerca, que demarcava um antigo pasto, acredito. Mais a frente um pequeno curral e uma casinha, provavelmente guardando utensílios dos vaqueiros que trabalhavam ou que ainda trabalham por ali. Impossível não perceber as pichações (!!!) nas paredes do cômodo. Ao final da cerca mais uma porteira, continua uma suave descida, por uma capoeira bem rala, até um ponto ideal para armar acampamento: mais ou menos plano, sem pedras, gramado e com bastante sombra.

Fomos até a beira do rio Jabuticatubas e observamos a queda pelo topo. Impossível descer por ali, então procurávamos a trilha para o poço, que surge meio escondida entre as árvores da área de acampamento. A descida é curta e o desnível não é tão grande, rapidamente chegamos ao poço da cachoeira.


A cachoeira da Lagoa Dourada, como é conhecida, é uma queda pequena, com aproximadamente 10 metros de altura, muito parecida com a cachoeira do Bené. O poço também é pequeno e acredito que a profundidade não deva passar de 2,5 metros nos pontos mais profundos. A queda está voltada para a direção oeste-noroeste, então é bem iluminada pelo Sol no período da tarde. Local bem aconchegante para passar o dia e a noite.

As águas do rio Jabuticatubas descem por um cânion, formando diversas outras quedas até chegar ao povoado de São José da Serra. Não explorei o local por preguiça, mas acredito que as quedas e poços inferiores sejam acessíveis. É claro que a dificuldade técnica é maior neste trecho.

Depois de aproveitar a água gelada da cachoeira, já que há uma frente fria pairando sobre Minas, fizemos o caminho da roça. O ponto alto da volta foi o por do Sol contrastando com o nascer da lua cheia, bem acima da Serra da Lagoa Dourada. Daquelas imagens que ficam um bom tempo na memória.

DICAS E INFOS:
No geral, a trilha é de baixa dificuldade, exigindo somente algum preparo físico pela longa subida inicial, de aproximadamente 1.700 metros. Vencido o aclive, o trajeto é por relevo suave até a cachoeira. A caminhada é sempre por áreas abertas, essencial a utilização de chapéu e filtro solar.

A região do vale do Rio Jabuticatubas está bem próxima do limite do Parque Nacional da Serra do Cipó, mas não está inserida no mesmo. De qualquer forma, a cachoeira possui livre acesso pela trilha em questão.

Cachoeira bem agradável, com um pequeno poço bom para o banho. No inverno as águas são mais frias que o habitual, mesmo com Sol forte.


COMO CHEGAR:
De carro, saindo de Belo Horizonte, siga para Serra do Cipó pela rodovia MG-010. Depois do Condomínio Estância do Cipó, fique atento à entrada para São José da Serra, à direita da rodovia.

Siga pela estrada principal e, após o trevo para Capão Grosso, entre na segunda à esquerda e continue por mais 2,2km até encontrar uma porteira de ferro à direita da estradinha.

De ônibus, existe a opção de pegar uma linha direto para a Serra do Cipó (viação Saritur ou Serro) e desembarcar na rodovia MG-010, no trevo de acesso à São José da Serra. A outra opção é pegar um ônibus que faz a linha Serra do Cipó x Jaboticatubas (verificar empresa) ou mesmo o microônibus que sai de Jaboticatubas com destino a São José da Serra. No caso de optar por transporte coletivo, o ideal é programar uma pernoite no vale da Lagoa Dourada.

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