08/12/2019

Lapinha da Serra IV: Circuito Bicame-Soberbo

A porção da Serra do Espinhaço ao sul de Diamantina, definida como Espinhaço meridional, possui inúmeros caminhos, nas mais diversas direções. E quando os caminhos não existem, a vegetação e o terreno costumam ser amistosos o suficiente para não impedir o deslocamento.

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Em mais um desses caminhos, partindo novamente do vilarejo de Lapinha, fizemos um novo circuito na região, dessa vez englobando dois dos grandes atrativos da região: Cachoeira do Bicame e Poção do Soberbo!


Dia 1: Lapinha x Rio das Pedras

Na quinta a noite, véspera do feriado santo que precede a Páscoa, deixei BH rumo a Lapinha da Serra, vilarejo do município de Santana do Riacho. Pelo adiantar da hora a estrada estava tranquila, cheguei à Lapinha no início da madrugada e me mandei pra casa do Paulinho, onde passei a noite.

Na sexta, embora tenhamos acordado cedo, demos uma enrolada básica no café da manhã e na busca por alguém para nos deixar no pé de manga, o que já adiantaria um bocado da caminhada. O céu estava maravilhosamente azul, sem qualquer sinal de nuvem naquele pé de serra. Será que a temporada de montanha tinha chegado?

Exitosos na nossa busca, partimos Marcela, Paulo e eu para mais uma jornada pelo Espinhaço. Desembarcamos no pé de manga e informamos que nos deslocaríamos via estradinha Transamante rumo ao Rio das Pedras. Pelo adiantar da hora, o relógio já marcava quase 10:00, e tempo bom, o limite de visitantes da cachoeira do Bicame já havia sido atingido.

Nosso grupo ganhou mais um elemento, um companheiro que dividiria a estradinha conosco até o Rio das Pedras, já que estava indo para o Cânion Peixe Tolo. Começamos a caminhada em bom ritmo, seguindo pela estradinha precária da Transamente., ligação entre Santana do Riacho e Congonhas do Norte.


Não há qualquer dificuldade de navegação neste trecho, pelo caminho cruzamos um grupo de cicilistas e logo chegamos a uma subida repleta de cascalhos, onde do lado se forma uma voçoroca. Depois de vencida a subida, cruzamos a pequena porteira e adentramos à RPPN Ermos dos Gerais e Brumas do Espinhaço.

Agora estávamos em uma área pouco mais elevada, próximo às cabeceiras do Córrego da Lapinha, a nossa direita. No horizonte os inúmeros afloramentos, todos apontando para o oeste, além da imponente Serra do Abreu, ponto culminante daquela região.

Vamos cortando algumas barrigas que a estrada faz por algumas trilhas, agilizando nosso avanço. Quando chegamos ao atalho mais interessante, que corta uma subida puxada, o senhor que controla o acesso à cachoeira chamou nossa atenção desde um ponto mais elevado, de forma que tivemos que enfrentar a bendita subida.

Às 11:22, depois de 4,6km, chegamos ao ponto de apoio para quem passa naquela região. Na casa fizemos somente uma ligeira parada para mastigar qualquer coisa e encher nossas garrafinhas com água mais fresca. O sol estava implacável, mas a sombra estava a caminho…

Ignoramos a trilha bem consolidada que sai à esquerda, rumo à cachoeira do Bicame, e seguimos pela estradinha precária. A subida fica um pouco mais inclinada neste ponto e logo chegamos a um pequeno platô entre serras. Do alto, olhando para o norte, temos uma visão belíssima do vale do Rio das Pedras, ainda verdejante pelas chuvas recentes. Mais ao norte também podemos observar os campos que vamos enfrentar no segundo dia de caminhada.

Depois de um rápido mergulho, a estradinha torna a subir até alcançar o ponto culminante do primeiro dia, onde o GPS marcou 1.361m de elevação. Após o top tem início uma forte descida, mas, ao menos aqui, o capão de mata a nossa esquerda propicia um pouco de sombra. Depois do trecho de descida mais pesado, o terreno estabiliza e vamos seguindo em ligeiro declive até a ponte molhada do Rio das Pedras.

Às 12:30 chegamos ao rio, depois de caminhados 8,5km. Algumas centenas de metros a noroeste dali, um grupo que chegou de carro ao local armava acampamento. Fizemos uma parada prolongada na ponte molhada, com direito a almoço, banho de rio e cochilo. Aqui seria nosso local de acampamento, então estávamos quase tranquilos, mas tinha em mente um ataque à cachoeira do Bicame.

Às 15:10, depois de um longo descanso, chamo o pessoal para tentar uma ida à cachoeira, sem saber se o grupo que armava acampamento perto ali criaria algum caso com a nossa descida, tendo em vista que esse pessoal tinha parte com o dono da terra. Despedimo-nos do nosso companheiro até então, cujo nome me falha a memória, e sem carga tomamos uma trilha discreta que segue para oeste em meio aos campos rupestres. Passamos pelo acampamento do outro grupo sem problemas e, mais a frente, encontramos parte do grupo retornando da cachoeira. Um senhor nos encheu de perguntas, sobre nosso destino, se iríamos acampar, se estávamos levando barraca, entre várias outras, mas não criou caso com a nossa ida.


Após 42 minutos e 2,7km de caminhada chegamos à cachoeira do Bicame, uma das mais bonitas da região. Como o fim de tarde se aproximava, a cachoeira era só nossa, então tratamos de aproveitar. Paulinho fez algumas tomadas de drone e todos nadamos muito. Com o sol já bem baixo, no finzinho da tarde, fizemos o caminho da roça, não sem antes dar uma espiada no topo da cachoeira. Chegamos ao local do nosso acampamento às 18:07, com um trisquinho de luz.

A lua cheia nasceu espetacularmente na borda leste do Espinhaço e começou a clarear tudo como um grande farol. Sob a luz do luar tomamos mais um banho na ponte molhada do Rio das Pedras antes de executar as tarefas usuais de acampamento.

Neste dia caminhamos 13,9km.

Dia 2: Rio das Pedras x Ribeirão Soberbo

O planejamento para o segundo dia era uma caminhada mais leve e curta, aproveitando as diversas quedas e poços do Ribeirão Soberbo. Por conta disso enrolamos no acampamento e deixamos o Rio das Pedras às 9:48. Fizemos uma foto na porteira de madeira e rumamos pelos campos do Espinhaço, seguindo para noroeste.

A caminhada segue em ligeiro aclive aproveitando um sulco em meio a campina. A paisagem é típica do Espinhaço: um campo ondulado espremido entre dois afloramentos rochosos, sendo o que estava a nossa direita mais proeminente. Próximo ao topo do morrote passamos por uma boiada, que pastava tranquila, mas também nos olhava atentamente.


Tão logo a subida termina, descortina-se a nossa frente uma ampla e belíssima campina. Uma paisagem de encher os olhos! Lá na frente, ainda distante e imperceptível ao nossos olhos, corre o Ribeirão Soberbo. Deixamos a velha estradinha em que caminhávamos em favor de uma trilha discreta em meio aos campos. Um pouco mais abaixo cruzamos uma nascente de um dos pequenos tributários do Soberbo. Vamos seguindo para noroeste, agora alternando trechos sem trilhas definidas e outros com trilhas discretas, mantendo o rumo para cruzar mais um tributário do Soberbo na porção mais baixa do terreno.

Às 10:31 cruzamos o tributário, em um trecho até melhor do que o planejado, já que não foi preciso tirar as botas. Pela margem esquerda vamos seguindo por trilhas discretas, que vão ganhando corpo ao passar da caminhada. Vamos cruzando diversas drenagens que são formadas na encosta do afloramento rochoso que temos à esquerda, mantendo alguma proximidade com o tributário no fundo do vale. Após 4km de caminhada, no entanto, deixamos as trilhas que correm paralelas ao afluente do Soberbo e passamos a nos distanciar do fundo do vale, subindo por uma trilha discreta entre os afloramentos rochosos.

A trilha nos leva a uma passagem entre dois morrotes e, a partir daí, começamos a descer em direção ao Ribeirão Soberbo. Aquela altura o sol castigava e aproveitamos uma das poucas sombras do caminho para descansar e comer alguma coisinha. Estávamos bem preguiçosos rs, depois de uns bons minutos de descanso retomamos o passo e chegamos às 12:02 em um lajeado do Ribeirão Soberbo.

Na margem esquerda do ribeirão, uma área colonizada por uma erva de flor amarela estava super florida, o que rendeu algumas paradas para foto. Após abastecer as garrafinhas de água no ribeirão, continuamos por uma trilha discreta na margem esquerda. Nem 1km depois, no entanto, deixamos a trilha e passamos a descer entre a vegetação rasteira de encontro ao Ribeirão Soberbo.

Às 12:29 fizemos a travessia, aproveitando as rochas salientes do leito do ribeirão. Na outra margem logo encaramos uma subida pesada entre os afloramentos rochosos, mas rapidamente ganhamos o topo daquela vertente e interceptamos uma trilha discreta, que nos leva ao rumo desejado. Bem acima do leito, observamos o ribeirão mergulhar em um cânion. Estávamos próximos de uma bela e pouco conhecida cachoeira do Soberbo, um dos nossos objetivos para o dia. Enquanto ajeitava as coisas para fazer o ataque, Paulo me fala que está vindo uma pessoa em nossa direção (!!!). E quem vem lá? Não esperava encontrar ninguém por aquelas bandas! Aos poucos duas pessoas vão se aproximando, uma caminhando pelos lajeados do ribeirão e a outra pela trilha que tínhamos acabado de passar.

Após alguns instantes de apreensão, refletindo sobre quem estaria no nosso encalço, chegam dois rapazes, na faixa dos 30-40 anos. A conversa começa e logo reconheço um dos cabras: era o Talim, que até então conhecia só pelo Instagram, além das caminhadas ele também oferece cursos de navegação em GPS. A conversa rende mais um pouco e o mistério acabou por completo: o outro cidadão era o Marcelo, mais conhecido pela @cromagnon42, outro que também só conhecida pelas redes. Eita Espinhaço pequeno!

O papo rendeu depois desse encontro inusitado no ermo do Soberbo, de forma que só lá pras 13:30 nos despedimos e cada grupo seguiu sua jornada. Talim e Marcelo tomaram rumo ignorado, enquanto nós três partimos morro abaixo, para atacar a cachoeira do Soberbo. A descida não tem trilha definida, seguimos entre as canelas-de-ema até o topo da parede do cânion. Depois de uma rápida leitura do terreno, encontro algumas formas de descer e se aproximar do leito do ribeirão. A descida exige atenção, pois um escorregão pode significar uma queda grave. Apoiando onde era possível e, após uma pequena desescalada, enfim chegamos ao leito do Ribeirão Soberbo, com a belíssima queda, aparentemente sem nome, a nossa frente.


Depois de um banho de rio formidável, calangamos um pouco na pedra e não tardou para que começássemos a subir toda aquela pirambeira. Voltamos para buscar as cargueiras e seguir a jornada pelo Espinhaço, mas, antes, Paulinho fez mais uma tomada de drone.

Seguimos brevemente para oeste. Cruzamos um pequeno afluente do Soberbo e logo depois interceptamos uma trilha discreta. Agora vamos perdendo altitude, enquanto a trilha faz uma curva e toma o rumo sul. Rapidamente chegamos ao topo de um grande degrau do Espinhaço. A nossa frente tínhamos uma forte descida, a esquerda diversos degraus do ribeirão e lá no fundo a encosta da serra próximo ao Poção do Soberbo. A princípio vamos descendo pela trilha discreta, mas num patamar inferior da serra ela toma um rumo divergente do nosso, ponto em que passamos a caminhar pelos campos.

Um degrau formado pelos afloramentos rochosos faz com que tenhamos de desescalaminhar alguns pontos, até que chegamos na parte mais baixa do terreno. Seguimos agora caminhando em direção ao ribeirão, procurando as melhores passagens entre arbustos e canelas-de-ema. Às 16:13, depois de 10km, chegamos a mais uma travessia do Ribeirão Soberbo. Agora a passagem é mais encardida, já que predominam alguns arbustos e pequenas árvores nas margens. Paramos um pouco mais abaixo para o último banho do dia, já que, pelo adiantar da hora, o ideal seria acampar por ali.


Enquanto procurava uma área interessante para acampamento, Paulo resolveu pular de ponta nas águas do Soberbo e acabou batendo o coco em uma pedra submersa, por sorte escapuliu só com um pequeno corte no couro cabeludo. Com os três de banho tomado, seguimos por mais 144 metros até uma área boa para acampar, onde arranchamos às 17:39.

Durante a noite fizemos nossa janta e aguardamos ansiosamente pelo momento que a lua iria iluminar aquele ponto do vale do Soberbo. E fomos recompensados com um verdadeiro farol tomando conta do céu.

Neste dia caminhamos 10,2km.

Dia 3: Ribeirão Soberbo x Lapinha

Levantamos um pouco mais cedo no último dia de caminhada. O céu já estava claro, mas o sol ainda não iluminava aquele canto do vale do Ribeirão Soberbo. Café tomado e buxim cheio, deixamos o local do nosso pernoite às 7:35. A caminhada se desenvolve no sentido sudeste, avançando entre capins e pequenos arbustos, em um trecho sem trilha definida.

Algumas centenas de metros mais tarde entramos em uma espécie de drenagem, onde as rochas nuas facilitavam o deslocamento. Cerca de 500 metros após nosso acampamento, interceptamos uma trilha consolidada, a ligação mais curta entre a Bicame e o Soberbo. Continuamos caminhando para sudeste, em ligeiro declive ladeando o paredão. Mais adiante, e uns 100 metros abaixo, um imenso corte na serra, por onde despenca o Rio das Pedras, vai se aproximando da gente.

A paisagem salta aos olhos e Paulo aproveita para fazer mais uma tomada de drone. Às 8:37, após 2km de caminhada, chegamos ao leito do Rio das Pedras. No fundo do cânion, à montante, víamos a parte de cima daquela queda conhecida como Cachoeirão. A dificuldade é moderada para experientes, entre os principais Mesmo com o horário apertado, não deixaria de tentar um ataque a mais uma cachoeira escondida do Rio das Pedras.


Enquanto Marcela descansava a sombra de uma pedra, Paulo e eu tentávamos a aproximação. Tentamos subir o Rio das Pedras por uma trilha discreta na margem, mas logo ela se mostrou inútil para a nossa proposta. Retornamos a um ponto onde tínhamos fácil acesso à água e lá deixamos nossas roupas de caminhada.

O primeiro desafio era atravessar um poço. A princípio vamos andando sobre as rochas submersas, mas de pouca profundidade. Quando o rio se mostra um pouco mais profundo, caímos de vez na água e nadamos até uma margem, onde um lajeado nos ajuda a avançar. Subimos por um estreito cânion, ora andando dentro da água, ora sobre lajeados… Um pouco mais acima chegamos a um poço relativamente grande, onde despencava uma cachoeira com aproximadamente 8 metros de altura. Aqui não tínhamos muita opção, o jeito era atravessar o poço nadando e escalar a cachoeira. Enquanto Paulo observa, salto na água e atravesso o poço. Evito a queda principal e tento a ascensão por uma quedinha auxiliar do Rio das Pedras, à direita. Um tronco bem posicionado sobre as pedras parecia facilitar a subida… ledo engano!

Subo uma primeira pedra para me aproximar da parede que é preciso escalar. Até aqui tranquilo. Passo para a rocha ao lado, onde o tronco está posicionado como um corrimão. Os respingos de água e os musgos fazem com que essa outra rocha seja muito escorregadia, então o tronco ali é providencial para que eu não escorregue e caia sobre as pedras mais abaixo. Encosto na parede, que tem cerca de 2 metros de altura e fico de pé. A subida parece possível, mas a rocha escorrega muito!

Penso um pouco e decido mudar os planos e subir pela queda auxiliar, onde pequenos degraus parecem tornar a subida mais fácil. Apenas impressão, no entanto. O Rio das Pedras, nessa época, tem um bom volume e a força da água dificulta a subida. Melhor descer!

Retorno ao poço e nado de encontro ao Paulo, que registrava aquele momento de aventura rs. Montanha é isto, reconhecer nossos limites e que tudo tem seu tempo. O banho da manhã já estava pago e curtindo os poços do Rio das Pedras retornamos ao ponto onde a Marcela nos esperava.

Depois de um rápido lanche, começamos a descida do rio. Pelos diversos degraus naturais do leito vamos descendo e cruzando o Rio das Pedras. Na margem esquerda nos afastamos um pouco do leito e encontramos uma trilha bem discreta, que vai descendo por uma drenagem seca. A descida é bem acentuada em diversos pontos, sendo necessária muita atenção e um pouco de técnica para as desescalaminhadas.

Às 10:29, depois de 2,5km desde o acampamento, chegamos ao pé da serra e paramos para admirar mais uma cachoeira do Rio das Pedras, essa, em especial, tinha um poço grande e convidativo. Nosso tempo, no entanto, não era dos mais folgados, então passamos direto por ela.

O caminho segue discreto entre os capins até próximo a mata galeria do Córrego Fundo. Aqui perdemos o rastro da trilha e vamos avançando por onde dá. Com a ajuda do galho retirado de uma árvore caída, vou abrindo passagem entre os arbustos encardidos. Depois de alguns espinhos e capins-navalha, enfim encontramos a trilha discreta que cruza o pequeno Córrego Fundo.

Na outra margem, em uma área mais ou menos limpa nos arredores de uma árvore maior, duas barracas montadas e umas panelas e talheres na beira do rio, mas nada de gente! Certamente tinham acabado de tomar café e foram explorar algum rincão daquelas bandas.

Seguindo pela trilha discreta logo saímos na estradinha que dá acesso ao Poço do Soberbo, onde tomamos à direita. Caminhamos mais 650 metros pela precária estradinha até o Poção, onde chegamos às 10:59 depois de percorrer 3,6km. O local é bem pitoresco com suas casinhas de pedra, seu enorme poço e as carcaças dos maquinários da época da mineração de diamante na região. Não havia ninguém por lá, assim como já havíamos vislumbrado desde o alto da serra. Depois de um bom mergulho no poço, fizemos nosso último lanche, tão reforçado quanto era possível ser.

Deixamos o poção às 12:20, debaixo de uma lua e forte calor. Dou grazadeus que minha calça é modular e sigo só de bermuda, na tentativa de abafar um pouco a caloreira. O retorno do Poço do Soberbo é pela antiga estradinha, o calor aliado com a ausência quase total de sombreamento e o aclive constante faz parecer que esses são os dez quilômetros mais longos das nossas vidas. Cada travessia do Córrego Fundo é um alívio e um refresco para o corpo fumegante.

Próximo ao rancho, que marca, mais ou menos, a metade do caminho, passamos por aquela que classifiquei como a fonte de água mais gostosa do Espinhaço rs. Depois de sofrer com o sol na moleira, encontramos uma água bem fresquinha e um ambiente sombreado, onde podemos beber e nos refrescar enfiando a cabeça debaixo da quedinha.

Às 13:50 passamos pelo rancho, já estávamos com 8,5km andados. Após o rancho deixamos de lado a estradinha e tomamos uma trilha que segue pela direita. Aos poucos a trilha vai se distanciando da estradinha, até que deixa o rumo sul e dá uma guinada para oeste, subindo de vez a encosta. O aclive é forte em alguns pontos, mas a medida que subimos a vista vai ficando cada vez mais interessante. Olhando para trás vemos toda a extensão da Serra do Abreu, inclusive reconhecendo alguns morrotes por onde passamos no primeiro dia de caminhada. Na parte mais baixa do terreno se estende o vale do Córrego Fundão, tributário do Rio das Pedras.


A ladeira atenua e tomamos à esquerda numa bifurcação, o que nos faz caminhar para o sul novamente. Seguimos pelos campos, quase no topo da serra. A trilha perde-se em meio a vegetação rasteira e volta a se encontrar mais a frente. Às 14:26 reencontramos a estradinha velha, por onde seguimos até o final. Avançamos por um falso plano, em ligeiro aclive, até uma cerca bem reforçada, que pulamos para tomar um atalho providencial.

Às 15:40, após uma caminhada de 14,3km, chego ao pé de manga, onde a caminhada teve início dois dias antes. Paulo e Marcela seguem um pouco atrás, em ritmo mais lento. O rapaz que faz o controle de acesso me enche de perguntas, desconfiado sobre a nossa caminhada. E também informa que nosso resgate foi embora, pois teve que socorrer um motociclista que se acidentou na estradinha de terra ali perto.

Sem saber se o resgate vai ou não voltar, fomos em busca de uma forma de retornar à Lapinha. Enquanto Paulo vai à casa de um conhecido do vigia roubar um wi-fi, fico na estrada observando a audácia dos carrapatos que tentam, de qualquer maneira, subir nas minhas pernas. Sem querer saber dos carrapatos, vou atrás de Paulo e um Uninho surge milagrosamente na estrada rs. Surpreso com a minha presença, o motorista aceita meu pedido de carona e embarcamos pra Lapinha. No caminho cruzamos com o carro que faria nosso resgate… tudo resolvido!

Com a fome cortando na alta, chego a casa de Paulo pouco antes das 17, e o anfitrião chega logo depois, junto com a Marcela. O fim da tarde foi destinado a atividade de comer tudo que era possível e retornei a BH na mesma noite.

Neste dia caminhamos 14,3km. Totalizando 38,5km em 3 dias.

LOGÍSTICA:

Como se trata de um circuito, a logística para essa caminhada é relativamente simples, para tanto, basta deslocar-se até o povoado de Lapinha.

Lapinha da Serra, como é mais conhecida, é um povoado pertencente ao município de Santana do Riacho e dista, aproximadamente, 130km de Belo Horizonte. O acesso é pela rodovia MG-010 até a Serra do Cipó. Depois da ponte estreita sobre o Rio Cipó, tome à esquerda na primeira rotatória, seguindo até Santana do Riacho. Chegando a Santana, são mais 13km até a Lapinha, o acesso final é por uma estrada de terra em condições medianas, com aclives e declives acentuados, além de trechos sinuosos e estreitos.

De ônibus, há carros regulares entre Belo Horizonte e Santana do Riacho, porém somente dois horários ao dia. Entre Santana e Lapinha não há transporte regular, de forma que é preciso seguir a pé, de carona ou contratar um serviço no local.

OBSERVAÇÕES:
Circuito de dificuldade entre moderada e alta, em virtude dos trechos sem trilhas definidas, aclives e declives acentuados, lances de escalaminhada e desescalada. Essa caminhada passa por áreas particulares, inclusive RPPNs. Embora o acesso seja livre, recomenda-se discrição ao realizar essa rota.

Há boa disponibilidade de água ao longo da rota, não sendo necessário mais que uma garrafinha por pessoa. Não há sinal de telefone no percurso, caso seja necessário, tentar chamadas de emergência nos pontos com mais horizonte, como na descida do Ribeirão Soberbo ou no topo da serra após o rancho.

SEJA DISCRETO, LEVE SEU LIXO DE VOLTA, NÃO FAÇA FOGUEIRAS, FECHE AS PORTEIRAS/TRONQUEIRAS QUE ABRIR.

Não há rota de escape viável durante o trajeto, devendo o caminhante, em caso de necessidade, sempre retornar à Lapinha. O circuito pode ser realizado nos dois sentidos, sem qualquer tipo de prejuízo. No entanto, caso faça em sentido contrário, as subidas serão mais longas e acentuadas.

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