08/12/2019

Parque Nacional do Caparaó: Pico da Bandeira, Calçado e Cristal


Pouco mais de três anos após minha primeira ida ao Caparaó, retorno à região para, enfim, conquistar os três principais picos do parque e contemplar todo o entorno.

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Pré-conquista

Ainda no mês de julho, precisamente nos primeiros segundos do dia 1º, fiz a solicitação de reserva para o camping da Tronqueira e do Terreirão, através do site oficial do Parque Nacional do Caparaó. Dizem que um homem prevenido vale por dois rs. De imediato consegui a reserva para o Terreirão e, na semana anterior a nossa ida, fui contatado pelo Parque para saber do meu interesse em ficar na Tronqueira, que é o primeiro acampamento (mais distante do Pico da Bandeira).

Como o carro chega até a Tronqueira, para facilitar todos os preparativos e minimizar o frio, optamos por ficar neste acampamento. Então, numa manhã ensolarada de agosto, Lidi e eu deixamos Santa Luzia, cidade vizinha de BH e partimos rumo ao Bandeira!

Por do sol na Tronqueira

A programação do 1º dia consistia apenas na viagem até Alto Caparaó, onde fica a portaria mineira do PNC. A viagem, estimada em 6h, durou mais ou menos isso mesmo, incluindo uma parada para almoçar. Chegamos ao PNC no início da tarde. Após os trâmites de entrada, sem custos, iniciamos a subida – de carro – até a Tronqueira. No caminho passamos pela Cachoeira Bonita, que acessamos através de uma caminhada de poucos minutos e que nos proporcionou o banho do dia. Antes do por do sol ainda visitamos o Vale Encantado, que tem um visual excepcional no fim de tarde.

Circuito Bandeira, Calçado e Cristal

Por volta das 19:00 de sábado nos recolhemos e tentamos descansar para a jornada do dia seguinte. A Tronqueira deveria estar com capacidade máxima, ou próximo disso. Mesmo com 99% das pessoas ali se preparando para subir na madrugada, a noite foi de farra, com muito barulho e conversa alta, dificultando nosso repouso. Após a saída dos grupos maiores, que saíram entre 21 (!!!) e 23:00, enfim foi possível ter sossego.

O GPS despertou às 00:45. Acordei a Lidi e começamos os preparativos. Fizemos o “desjejum”, já que não conseguimos decidir se era janta ou café rs. Depois de ajeitar as mochilas de ataque, saímos da Tronqueira às 01:41. A trilha começa um grauzinho acima, são aproximadamente 500 metros de subida moderada, com muitos degraus nos lajeados. A lua, quase cheia, iluminava bem nos trechos descampados.

Alto Caparaó desde a Tronqueira

Até o Terreirão, que é o acampamento mais avançado do lado mineiro, a trilha vai acompanhando o leito do Rio José Pedro, sempre à esquerda. Após a subida inicial mais forte, a trilha dá uma estabilizada e é possível manter um bom ritmo. No caminho passamos pelo Rancho dos Cabritos, um descampado próximo do rio, um bom ponto para reabastecimento, ainda que bem próximo da Tronqueira.

Após o rancho a subida volta a ser mais forte, com muitos caminhos paralelos. Mais acima outro ponto que a trilha se aproxima do Rio José Pedro e onde também é mais fácil reabastecer. Faltando menos de um quilômetro para o Terreirão a subida volta a ganhar força e ressurgem os diversos trilhos paralelos. Às 3:13 chegamos ao acampamento mais avançado, com um tempo inferior ao que eu havia planejado.

Com 3,8km percorridos, mais que a metade da distância entre a Tronqueira e o Pico da Bandeira, paramos por alguns minutos no Terreirão. No pouco tempo que ficamos ali já foi possível sentir o frio característico do local. Até então a temperatura estava bem agradável, não fazia frio nem calor, mas a Lidi suava igual tampa de chaleira rs.

A lua já havia se despedido, então a lanterna seria fundamental dali em diante. Às 3:29 deixamos o Terreirão, já avistando as luzes de lanterna nas cotas mais altas da serra, indicando que os grupos maiores já estavam próximos do fim. A saída do Terreirão é um pouco confusa, uma trilha bem irregular com vários degraus que embrenha entre gramíneas e arbustos. Vários caminhos paralelos se formam, então é preciso se atentar às fitas reflexivas e demais marcações para evitar andar mais que o necessário.

Após o trecho irregular entre os arbustos enfrentamos uma rampa mais forte, saindo em um “meio platô”, onde a caminhada segue mais suave. Esse trecho mais suave termina a aproximadamente 1km do cume e é aí que tem início o trecho mais pesado da subida.

A parte final da subida pro Bandeira é bem irregular, com diversos degraus de alturas variadas e forte inclinação. Com o céu começando a clarear, dispenso a lanterna, que já não estava lá essas coisas. Passamos por algumas pessoas mais lentas e às 5:45 passamos pela bifurcação MG/ES. A essa altura a Lidi estava bem esbaforida, mas faltava pouco. Peguei a mochila dela e seguimos juntos os metros finais, até alcançar o cume, onde chegamos às 5:58, bem no horário planejado.

Foram 7,2km da Tronqueira até o Pico, perfazendo um ganho de elevação próximo dos 950 metros. Gastamos 4 horas e 17 minutos no trecho, andando num ritmo tranquilo e com pelo menos duas paradas mais longas. O cume estava cheio, certamente com mais de 100 pessoas, tratamos logo de arrumar um canto pra apreciar o sol nascendo.

Por volta das 6:05 começou o espetáculo da aurora do dia. O sol, discretamente, começou a iluminar todo o conjunto de serras do Caparaó. No horizonte, para leste, se destacava a imponente Serra do Castelo, no estado capixaba, cuja existência eu desconhecia até então. O ponto culminante de lá, o Pico do Forno Grande, parecia ter o mesmo tamanho do Pico da Bandeira… mas como é possível? Bom, a terra não é plana rs. E a distância entre os picos supera os 70km, em linha reta!

Depois do primeiro espetáculo, agora o show do café da manhã a 2.892m acima do nível do mar, com temperatura bem agradável. Bem alimentados, demos prosseguimento a nossa jornada, agora por caminhos distintos. A Lidi iniciou a descida padrão para a Tronqueira, enquanto eu seguia para fechar o circuito, passando pelos picos Calçado e Cristal.

Pico da Bandeira em destaque

Desci até a placa que indica a bifurcação MG/ES e dali segui pela trilha capixaba. Depois de uma subidinha inicial, o caminho segue em ligeiro aclive por um lajeado, com amplos visuais. Às 7:37, depois de 21 minutos de caminhada, chego ao Pico do Calçado, uma espécie de ombro do Bandeira, por isso não é considerado, oficialmente, um ponto culminante. Fiz uma paradinha rápida por lá, pois o objetivo principal estava por vir: Morro do Cristal.

Após o Calçado a enfrento um forte declive, descendo por aderência até uma garganta entre as rochas. Sigo perdendo altitude, ora caminhando sobre lajeados, ora sobre o pouco de solo que se fixou naquela altitude. Chego em um trecho de bambuzinhos bem pequenos, onde observo uma discreta bifurcação. Tomo à direita, pelo caminho discreto, seguindo rumo ao Morro do Cristal. A caminhada agora é pelos afloramentos rochosos e a orientação são os pequenos totens deixados por lá.

Desço até a altitude de 2.619m e chego à base do Morro do Cristal. Agora é tocar pra cima! A subida é bem íngreme e exposta em alguns pontos, demandando bastante atenção. Orientado pelos totens e observando as melhores passagens, às 8:33 chego ao sexto ponto culminante do Brasil: Morro do Cristal e seus 2.769 metros de elevação.

Cristal

O visual é de tirar o fôlego. Para as bandas de Alto Caparaó é possível observar os relevos de meia-laranja e as incontáveis estradinhas abertas no interior dos cafezais. Fico aproximadamente uma hora por ali e aproveito o tempo fresco para tirar um cochilo naquele morro que pertence inteiramente ao estado de Minas Gerais.

Às 9:32, revigorado, inicio a descida para fechar o circuito. Sigo até a base do Morro do Cristal e, em vez de seguir novamente para o Calçado, tomo uma trilha discreta à esquerda, seguindo os totens dispostos ao longo dos lajeados. A trilha toma o rumo nordeste, passando no sopé do Calçado. Em declive sigo até uma das nascentes do Rio Caparaó, onde a água escorre por uma grota. Depois de uma breve subida, o terreno estabiliza e cruzo uma segunda nascente do Rio Caparaó, mas neste ponto a água mirrada escorrega vagarosamente por um lajeado.

Do outro lado desta segunda nascente a trilha se mostra um pouco confusa. Logo de frente há uma aparente continuação, mas se trata de um erro cometido por quem passou anteriormente no local. A trilha continua à direita, um pouco acima do ponto em que seja chega ao lajeado. Após avançar entre as moitas de capim e bambuzinhos, chego a um platô rochoso e sigo no rumo até interceptar a trilha pricipal, às 10:26.

Agora não há nenhuma dificuldade quanto a navegação, bastando seguir serra abaixo pelo caminho já consolidado do lado mineiro. Às 11 horas em ponto chego ao acampamento do Terreirão, onde faço uma ligeira parada. O calorão já dá as caras, mesmo a 2.358m de altitude. Coloco uma blusa mais fresca, hidrato e continuo a descida, agora sem paradas até a Tronqueira, onde chego às 11:47.

Descida acompanhando o rio José Pedro

Circuito finalizado, os três principais pontos culminantes do Parque Nacional do Caparaó conquistados, com um tempo bem inferior ao planejado!

Neste dia caminhei 18,8km, em 10 horas e 6 minutos de atividade, incluindo aí todas as paradas realizadas.

COMO CHEGAR:

De carro, partindo de Belo Horizonte, siga para BR-381, saída para Vitória-ES. Em João Monlevade pegue a saída para ao Espírito Santo, pela BR-262. Após Manhuaçu, em Reduto, entre à direita na rodovia estadual MG-111. Depois da entrada para Alto Jequitibá, vire à esquerda na rotatória para Alto Caparaó. Chegando a Alto Caparaó, siga pela avenida principal (Pico da Bandeira) até o Parque Nacional.

Até a portaria são cerca de 330km desde BH, por rodovias asfaltadas. Depois da portaria começa uma longa e pesada subida até o acampamento Tronqueira, mas acessível para qualquer tipo de veículo pequeno.

De ônibus, saindo de BH, a alternativa é pegar alguma linha com destino a Manhuaçu. Estando em Manhuaçu, tomar um ônibus regional com destino a Alto Caparaó. Neste caso os horários e disponibilidade devem ser checados anteriormente.

OBSERVAÇÕES:
Antes de mais nada, para pernoitar no interior do PNC é preciso agendamento junto a unidade. Todos os trâmites são feitos pelo site: <http://www.icmbio.gov.br/parnacaparao/guia-do-visitante.html>. Atualmente (agosto/2019) não está sendo cobrada a taxa de ingresso e acampamento.

A trilha, de uma forma geral, é tranquila do ponto de vista técnico, a única exceção é o ataque ao Morro do Cristal, que possui um grau de exposição superior aos demais trechos. No entanto, como o aclive é constante na parte inicial (e por consequência, o declive na parte final), o esforço físico é grande, sendo recomendado algum preparo físico para encarar esse circuito.

No inverno o frio é intenso nas partes altas e não deve ser subestimado. Se não tiver equipamentos adequados, a sugestão é acampar na Tronqueira, desta forma é possível levar mais equipamentos (como cobertores e colchões) para rebater as temperaturas baixas. Para a caminhada, o ideal é manter um equilíbrio com a temperatura externa, de forma a não sentir nem calor demasiado, nem frio durante a subida. No caso do suor em excesso, a roupa pode molhar e essa combinação pode ser perigosa no cume do Bandeira, a depender de quanto tempo em que se passará no pico antes do sol nascer. Alguns grupos saem muito cedo, por motivos diversos, mas o ideal é chegar ao pico o mais próximo do nascer do sol.

Em Alto Caparaó é possível alugar equipamentos de montanha.

Os acampamentos, ao menos do lado mineiro, possuem infraestrutura básica: banheiros, pias e chuveiros (de água geladíssima!). Caso você seja daquelas pessoas que não podem viver sem banho, recomendo o banho no Rio José Pedro, pelo menos lá há possibilidade de tomar um sol rs.

Disponibilidade de água ao longo da trilha entre a Tronqueira e o Terreirão. Após o Terreirão, até o Morro do Cristal, não há água corrente na trilha. Na trilha alternativa entre o Cristal e o Terreirão há duas fontes de água nas cabeceiras do Rio Caparaó, mas a vazão é mínima e pode secar no auge da estiagem (a partir de agosto).

Sinal de telefone (VIVO) em alguns pontos do trajeto. Outras operadoras também devem funcionar.

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