29/02/2016

Travessia Lapinha da Serra x Tabuleiro

Essa travessia começou lá na Serra da Canastra, onde conhecemos o Hélder, a Simone e a Cássia, de Berrrlândia. Eles queriam fazer, a Giu queria uma travessia mais tranquila pra começar e eu já tinha feito o trajeto. Então todo mundo combinou mais ou menos e ficou pro Carnaval a famosa travessia da Serra do Espinhaço meridional.


Distância percorrida: 41km

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1º dia: Lapinha da Serra x Rio Parauninha


Acompanhados do Johne e da Jaínne, o pessoal saiu de Uberlândia no sábado de Carnaval e apareceu em BH somente na manhã de domingo. Sem muito descanso fomos direto pra Lapinha da Serra, vilarejo de Santana do Riacho. Estrada mais ou menos tranquila até lá, o grosso do movimento de Carnaval já tinha passado. Por volta de 10h30 chegamos a Lapinha, onde decidiríamos o que fazer com os carros. A ideia inicial era deixar a caminhonete no final (Tabuleiro) e o jipinho no começo (Lapinha), mas teríamos que andar mais 260km entre idas e vindas, o que levaria, no mínimo, 4 horas de viagem. Consenso geral foi deixar o carro na Lapinha e arrumar um resgate por lá mesmo. Conversando aqui e acolá, terminamos no restaurante Sempre Viva, bem perto da capela do vilarejo, onde o Seu Chico aceitou fazer o resgate, cobrando R$300 por carro. Como éramos 9 pessoas, sairia aproximadamente 66 dinheiros pra cada um. DONE DEAL! Os dois carros ficaram ao lado da casa do Seu Chico, que não fica tão no centro do vilarejo, sob a sombra de algumas árvores.



Depois de comer um lanche reforçado, iniciamos nossa jornada sob um Sol forte por volta de 12h45. No beco que dá acesso à lagoa da Lapinha encontramos um pessoal “amigo da serra”, que anotou nossos nomes por medida de controle. Sem mais burocracias, seguimos pela estradinha para contornar a porção norte do lago. Muita gente por lá, nadando com vontade nas águas barrentas. Pelo que apurei com o Seu Chico, abriram as comportas da represa mais abaixo do lago, o que evitou com que atravessássemos um trecho alagado já com 5 minutos de travessia.


Entre a serra e o lago, seguimos caminhando por uma estradinha e passando por porteiras. A última delas dizia que, dali em diante, era propriedade privada e proibido acampar. Após essa porteira seguimos por uma trilha mais à esquerda, pra logo depois começar uma subida de aproximadamente 2,5km até o ponto mais alto do primeiro dia. Subida ora leve, ora pesada, por degraus de pedras, com pouquíssimas sombras.


Logo após a virada da serra, começamos uma ligeira descida por afloramentos rochosos, que termina no córrego do Lajeado (que forma a cachoeira homônima). Nas sombras da mata galeria algumas barracas e um pessoal por lá, curioso. Enchemos nossa garrafa com a água ligeiramente amarelada do córrego e aproveitamos um pouco da primeira sombra considerável do caminho. Circundamos o morrote do cruzeiro pela direita, avistamos um muro de pedra perto da parte alta do córrego e continuamos a pernada, por uma trilha pouco batida que encontra a principal logo adiante (a trilha principal contorna o morrote pela esquerda).



Depois do cruzeiro passamos por algumas trilhas de gado que cortavam a principal, algumas porteiras e aí foi praticamente só descida, bem suave, até o rio Parauninha. Antes disso enchemos nossas garrafas novamente, dessa vez com uma água incolor, no segundo córrego que cruzamos. Chegamos ao rio às 16h30, depois de 3:45h de caminhada e descansos desde a Lapinha. Nadamos um bocado nas águas bem agradáveis do Parauninha e decidimos montar acampamento por ali, mas na margem esquerda do rio.


Depois de um bom banho de rio, hora de fazer a comida, admirar o hotel 1001 estrelas e curtir uma noite de temperatura bem agradável, quase no sopé do Pico do Breu.


Neste dia caminhamos 8,6km.


2º dia: Rio Parauninha x Seu Zé d’Olinta e Dona Maria + ataque ao Cânion Ribeirão do Campo


Acordamos às 6h com o objetivo de começar a pernada cedo, mas quando saímos de lá o relógio já marcava 8h05. Começamos a suave subida do vale do rio Parauninha em uma manhã bem agradável de verão, com céu fechado e ventos refrescantes. Nada como o ar da montanha.


Logo chegamos a porteira no alto dessa primeira subida, com uma singela placa indicando o caminho pra Tabuleiro. Fomos margeando a cerca pela direita e deixamos a trilha mais batida pra entrar em uma que se abria à esquerda, sentido nordeste. Logo após o capão de mata a trilha toma o sentido norte e vai margeando o paredão à nossa direita. Passamos por matas ciliares e nascentes, mas com pouca água. Mais a frente cruzamos uma estreita mata ciliar, onde reabastecemos as garrafas. Saindo do ponto de água, uma bifurcação, na qual seguimos pela direita. A trilha quase some em alguns pontos, em virtude da vegetação e do solo. Cruzamos mais um capão de mata e logo começa uma subida mais pesada à direita, rumo ao patamar mais alto da serra. Pesada, porém rápida, menos de 10 minutos de subida e já estamos num mirante, com vista pro vale do Rio Parauninha e pro Pico do Breu. Sensacional!



Ficamos por lá algum tempo e continuamos a subida, que dessa vez era mais leve, até o ponto mais alto da travessia tradicional (1.423m), quase na porteira que marca o início da área do Parque Natural Municipal de Tabuleiro (PNMT). Um guarda-parque estava na porteira anotando o nome dos visitantes, que deveriam assinar um termo de responsabilidade.


Burocracia cumprida, demos entrada no Parque. Seguimos por um relevo suave. Após cruzar as lajes de um córrego, onde aparece a indicação pra casa da Dona Celi, pegamos à esquerda numa bifurcação, embora a trilha mais batida seguisse pela direita. Após uma ligeira subida, descemos por afloramentos rochosos e depois por campos de altitude até o córrego Água Preta, que conta com uma pinguelinha bem rústica. Mais um pouco de descanso, algumas fotos, e seguimos para a casa do Seu Zé e da Dona Maria, tendo o córrego a nossa direita por algum tempo. Passamos direto pela placa com indicação para a Cachoeira da Escadinha, vencemos uma ligeira subida e começamos a descida que termina no nosso ponto de apoio.


Encontramos Dona Maria na frente da casa, conversamos rapidamente com ela e com uma de suas filhas, cujo nome me foge agora. O descampado mais próximo da casa já estava recheado de barracas, todas de um mesmo grupo. Já o descampado mais distante, na saída da trilha para Tabuleiro estava completamente vazio. Descemos pra lá, montamos nossas barracas e fizemos uma pausa para o almoço, mas sem cozinhar nada.


De barriga cheia, arrumamos nossas coisas e abastecemos nossas garrafinhas para o ataque ao topo da cachoeira. Seriam aproximadamente mais 11km de pernada (ida e volta), mas dessa vez sem o peso da cargueira. Saímos do descampado pela plaquinha que indica o caminho para o alto da cachoeira, que é o início de uma subida suave. Encontramos algumas pessoas pela trilha até chegar ao ponto mais alto desta perna do trajeto. Depois da subida começa uma forte descida que termina no cânion do Ribeirão do Campo, que forma a cachoeira de Tabuleiro. Durante a descida passamos por dezenas de pessoas que retornavam pra Tabuleiro ou pra casa do Seu Zé.


No final da descida resolvemos seguir direto para o mirante da parte alta, com uma visão completa da queda e do poço inferior. Após apreciar a bela vista, fomos para o cânion em busca de um belo mergulho. Muitas pessoas no acesso ao cânion,  no ponto em que se chega ao rio. Descemos pelo rio até encontrar um amplo e profundo poço, quase que só para a gente. As águas do ribeirão não podiam estar em temperatura mais agradável. Depois de nadar um bocado descemos pelo rio até o ponto em que a água despenca seus 273m, formando a terceira maior cachoeira de queda livre do Brasil, a maior de Minas. Sensacional! Ainda mais por estarmos numa época com maior volume de água, então a água caía até o poço, sem se dissipar pelo caminho.



Por volta de 17h30 fizemos o caminho da roça até a casa do Seu Zé, enfrentando uma subida bem cansativa. Chegamos ao camping quase no pôr do Sol. No caminho ainda deu pra visualizar o inconfundível Pico do Itambé, lá pros lados de Serro e Santo Antônio do Itambé. Depois de cozinhar e comer, ainda rolou de apreciar um pouco do céu estrelado, já que a noite estava quase sem nuvens. Maravilha de lugar!


Neste dia caminhamos 22km.


3º dia: Casa do Seu Zé d’Olinta x Tabuleiro + ataque do poço da cachoeira


O dia amanheceu um pouco mais nublado, sem o Sol forte castigando nossas cabeças. Arrumamos nossas coisas pela última vez nesta travessia, iniciando a descida até a sede do Parque e, posteriormente, ao poço da cachoeira. Da Casa do Seu Zé é praticamente só descida até a sede, ora mais forte, ora mais suave. Em alguns pontos temos visão do vilarejo, do cânion do Rio Preto e da estradinha que leva pros lados de Rabo de Cavalo e Cânion Peixe Tolo, em Itacolomi.


Depois de descer um bocado o relevo fica quase plano e passamos por um pequeno cânion. Após o cânion seguimos pela trilha da direita, que leva ao mirante mais tradicional desta travessia. A trilha da esquerda é um atalho que termina na estradinha que liga Tabuleiro a sede do Parque.



Rapidamente chegamos ao mirante com um belo visual frontal de toda a queda e do poço da cachoeira de Tabuleiro, localmente conhecida como Cachoeira do Coração, pelo formatoo do paredão em sua volta. Tiramos algumas fotos e, de repente, aquele grupo de 30 pessoas (ou mais), que também estava acampada na casa do Seu Zé, chega todo de uma vez. Foi a nossa deixa pra pegar as mochilas e ir direto pra sede do Parque, onde também encontramos um bocado de gente. Lá deixamos as cargueiras pra fazer o ataque ao poço da cachoeira carregando só água e um pouco de comida.


A trilha até o poço tem 2,5km, de acordo com as plaquinhas do Parque, entretanto o GPS marcou apenas 2km. Apesar de curto, é um trecho bem chato e cansativo. O início da trilha ainda é tranquilo, até o ponto em que começa uma descida bem forte até o leito do ribeirão. Ao final da descida estamos no Ribeirão do Campo, por onde subimos pelo leito até alcançar o poço da cachoeira. Embora grande parte do trecho final seja pelas pedras do rio, é um trecho que costuma ser tranquilo para os que possuem maior equilíbrio e agilidade.


O poço de Tabuleiro compensa facilmente os 3 dias de caminhada pela serra. Difícil descrevê-lo assim. Só digo que é excelente pra nadar e o visual de lá para os paredões é fantástico. Só estando lá mesmo.


Nadamos um bocado e por volta de 14h30 deixamos o poço, já que havíamos combinado o resgate com Seu Chico às 17h, só que na praça da igreja de Tabuleiro. A subida da volta é bem cansativa, ainda mais depois de três dias caminhando. Menos mal que tínhamos, bem a nossas costas, o belo visual da cachoeira e de boa parte do vale do Ribeirão do Campo.


Chegamos a sede do Parque por volta das 16h. Como todos estavam cansados e a descida até Tabuleiro pela estradinha é bem puxada, resolvi pegar uma carona até o centro do vilarejo. Foi bem tranquilo porque ainda estávamos na terça de carnaval, ou seja, tinha muito movimento por lá. Bem no local combinado encontrei os Chicos, já esperando. Não conseguimos entrar em contato com eles no último dia, pra avisar sobre a alteração do local de resgate. Então falei que o pessoal esperava lá em cima e não houve mais delongas, numa boa o Chico da caminhonete subiu pra resgatar o que restava do pessoal na sede do Parque.


Creio que saímos de Tabuleiro por volta de 17h30-18h e chegamos a Lapinha da Serra por volta de 20h-20h30. Pegamos os carros, comemos algo e logo começamos o retorno pra BH. A estrada tinha algum movimento, mas a viagem seguiu tranquila. Chegamos na casa da Giulia e já passava da meia-noite. O pessoal de Uberlândia seguiu direto, chegando lá somente na manhã da quarta-feira.



Neste dia caminhamos 10,6km.


DICAS E INFOS:
Apesar da logística um pouco cansativa que a travessia Lapinha x Tabuleiro demanda, a não ser que seja contratado um serviço de uma van ou transfer, a caminhada em si é fantástica, Belíssimas paisagens da Serra do Espinhaço meridional, uma ótima opção pra quem está começando trekkings mais longos.


Há pontos de água por toda rota, talvez a oferta seja menor no auge da seca, entre agosto e outubro. As pernoites podem ocorrer em pontos de apoio, que além da infraestrutura local também oferecem refeições para os montanhistas, desde que o contato seja feito com antecedência. A trilha é bem batida por todo o trajeto e a caminhada pode ser feita somente pelo visual, desde que se saiba para onde ir. Como o trajeto é, em grande parte, por campos rupestres e de altitude, a exposição ao tempo é intensa, sendo indispensável o uso de chapéu e protetor solar.


COMO CHEGAR:
De carro, desde Belo Horizonte, basta seguir em direção a Serra do Cipó pela rodovia MG-010. Depois de passar a ponte estreita sobre o Rio Cipó, entre à esquerda na primeira rotatória, sentido Santana do Riacho. Lapinha está a 13km da sede do município, acesso por estrada de terra em condições medianas, mas trafegável por qualquer tipo de veículo.


Para Tabuleiro siga pela MG-010 em direção ao Cipó e continue pela MG-010 até Conceição do Mato Dentro. Chegando a Conceição continue pela principal e entre à esquerda no trevo para Tabuleiro, que fica após o aeroporto municipal. São 16km de estrada de terras em boas condições, mas com aclives e declives acentuados. O acesso à portaria do Parque é feito por uma estrada de terra em condições medianas, com curvas fechadas e um aclive bastante acentuado.


Fique atento, é uma travessia, começa em um ponto e termina em um local diferente. De Lapinha a Tabuleiro, pela estrada, são 130km, sendo 30km de terra.

De ônibus não há ligação direta entre Belo Horizonte e os distritos. A viação Saritur leva até Santana do Riacho, de lá é preciso seguir a pé, de carona ou “táxi”. Já a viação Serro faz a ligação entre Conceição do Mato Dentro e BH. Para Tabuleiro é preciso seguir de carona ou “táxi”.

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