28/08/2016

Parque Nacional do Caparaó: Pico do Bandeira

Inverno, lua cheia, camping reservado, tudo certo para conhecer um dos pontos culminantes do Brasil: o Pico da Bandeira, com seus 2.892 metros de elevação. Mais ou menos assim Giu e eu saímos de BH numa sexta a noite de temperatura agradável, mas muito trânsito.

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1º dia: BH x Realeza


Quem mora em Belo Horizonte e região conhece a fama da BR-381 durante os feriados. Por isso, para evitar a dor de cabeça com o trânsito intenso desses dias, resolvemos fazer uma viagem relativamente longa em um final de semana normal.


Saímos da região da Pampulha por volta das 19h, horário de pico. Muito trânsito em BH e na saída da cidade, muitos trechos lentos na BR-381 até o trevo para Itabira, a 70km da capital. A viagem só fluiu mesmo depois de João Monlevade, quando pegamos a BR-262 sentido Vitória-ES.


Por volta das 23:30h chegamos a Realeza, a 270km de BH, um cruzamento entre as BRs 116 e 262. Era nosso lugar de pouso, ficamos em um hotel bem simples, de beira de estrada, bem em frente ao Posto Barrigão. A diária para casal saía por R$80. Preço justo.


2º dia: Vale Encantado e Pico da Bandeira

Acordamos 7h de sábado, manhã bem nublada e fria nos arredores de Manhuaçu. Tomamos café e descemos com nossas coisas pro carro, logo já estávamos na estrada, rumo ao Parque Nacional do Caparaó. Trânsito bem tranquilo pela manhã na BR-262, exceto os poucos quilômetros que passam por Manhuaçu.


Alguns quilômetros após Manhuaçu entramos à direita em um trevo com sinalização decente, sentido Manhumirim. Nesta parte saímos da BR-262 e entramos na MG-111, rodovia com asfalto regular, estreita e sinuosa. O trecho estava pouco movimentado, então seguimos com tranquilidade até Alto Jequitibá, onde pegamos à esquerda no trevo para Alto Caparaó. Depois de Manhuaçu, as rodovias possuem algumas indicações para o Parque Nacional do Caparaó/Pico da Bandeira. Embora sejam muitos trevos, todos estão sinalizados. É preciso ter atenção, pois grande parte da sinalização só aparece bem próxima aos trevos.


De Alto Jequitibá a Alto Caparaó a rodovia fica ainda mais sinuosa, com diversos aclives e declives acentuados, mas continua pouco movimentada. Com tranquilidade chegamos a Alto Caparaó, acredito que por volta de umas 9h.



Paramos numa lojinha da avenida principal para comprar um adesivo do Pico da Bandeira e seguimos direto para o PNC. A subida até a portaria do parque é toda calçada e a sinalização na cidade é boa. Fizemos todos os procedimentos de entrada e seguimos direto para a Tronqueira.


Da portaria do PNC até a Tronqueira são aproximadamente 6km de subida, ora bem acentuada, ora tranquila. Ao menos na estiagem, carros de passeio sobem tranquilamente. Importante ressaltar que os trechos mais críticos já foram calçados.


Um pouco antes de chegar na Tronqueira já nos deparamos com carros estacionados na margem da estrada. O estacionamento estava bem cheio, sorte nossa é que os campistas tem uma área reservada, então conseguimos parar a viatura por lá.


Viatura estacionada, preparamos a mochila de ataque com algumas coisinhas e fomos ao Vale Encantado, formado pelo rio José Pedro. O início é pela mesma trilha para o Pico da Bandeira, com uma bifurcação sinalizada por volta dos 290 metros de trilha, onde fomos pela esquerda. A trilha até o rio é tranquila, só a descida até o leito do rio que merece atenção pelo desnível, fizemos o trajeto de 470 metros em 12 minutos.


O Vale Encantando possui diversos poços e pequenas quedas do rio José Pedro. No inverno as águas cristalinas são bem geladas, dificultando o banho de rio. Como, ainda por cima, estava bem nublado, nem cogitamos a hipótese do banho. Fomos apenas conhecer o local e rapidamente voltamos a Tronqueira, para iniciar a primeira parte da subida ao pico.


Cargueiras preparadas, deixamos a Tronqueira às 11:20 do final da manhã de sábado. A subida até o Terreirão altera trechos de subida mais leve com outros de subida mais pesada, a trilha é bem batida durante todo o percurso. Para quem já está acostumado com o montanhismo/trekking, a subida é relativamente tranquila, mas não deixa de ser um pouco cansativa. Esse trecho Tronqueira x Terreirão acompanha de perto o Rio José Pedro, mas somente em dois momentos se encontra com ele, são os locais para abastecer as garrafas.



Algumas estacas e sinalizações nas rochas indicam o caminho, muitos trechos apresentam diversas trilhas paralelas, embora todas sigam para o mesmo destino. Sob um céu bastante nublado e após cruzar alguns grupos, subindo e descendo, chegamos ao Terreirão depois de 2h de caminhada. Montamos nossa barraca na área à esquerda de quem chega ao Terreirão, próximo ao início da trilha que sobe ao Bandeira. Bem próximo a alguns arbustos, estávamos abrigados de uma possível ventania noturna. Montamos a barraca e almoçamos simultaneamente, depois de tudo montado e comido, demos início a segunda parte da caminhada: o ataque ao Bandeira.


A subida inicial, logo após sair do Terreirão é tranquila, mas vai ficando mais acentuada com a distância, até chegar numa rampa bem inclinada. Vencida essa rampa, desafio que deve ser bem complicado sob chuva, o caminho volta a ser suave. Após um extenso trecho sobre um platô, vamos nos aproximando de uma pesada subida, que vai quase que escalando o maciço em direção ao pico. Era por volta de 14h e, neste momento, muitos grupos estavam retornando para a Tronqueira, grande parte extenuado, parecia que tinham voltado da guerra.


Passo-a-passo fomos vencendo a subida e ganhando altitude, cada vez mais próximos do ponto culminante. Antes da subida final, uma placa indicando a trilha para o Bandeira, à esquerda, e para a Casa Queimada e demais picos (Calçado e Cristal), à direita. O tempo nublado, ora com uma ligeira neblina nos acompanhou desde a Tronqueira, e não nos deixaria livres justo no trecho final. Foram 2h de caminhada desde o Terreirão até o pico.


Chegamos a torre, ao lado do pico, sob uma espessa neblina. Em raros momentos o Sol conseguia vencer o denso tapete de nuvens e brilhar, de leve, no céu. Caminhamos até o cruzeiro, ponto culminante, e lá ficamos por um bom tempo. Às vezes a neblina era tão densa que a torre (que ficava a uns 30-40 metros de lá) desaparecia por completo. Depois de um tempo parados o frio começou a bater forte. Estava sem termômetro, mas levando em consideração a previsão que acompanhei durante a semana, a temperatura naquele momento estava próxima dos 5ºC.


Como o céu nublado não apresentava nenhum sinal de melhora, abortamos o ataque ao Calçado, já que só veríamos aquelas mesmas nuvens. Iniciamos a descida por volta de 16h e ainda encontramos dois grupos pequenos que estavam subindo, provavelmente na tentativa de ver o por do Sol.


A volta foi bem tranquila, em alguns pontos da descida conseguimos visualizar o Sol se pondo e formações rochosas bem interessantes do lado do Espírito Santo. Quando estávamos bem próximos ao Terreirão a noite caiu por completo e terminamos o trajeto com a ajuda de lanternas. O frio já batia forte por lá e ainda tínhamos que cozinhar.


Cozinhamos fora da barraca, pois a Arpenaz 2 mal comporta duas pessoas deitadas. Foi um sacrifício descascar e picar a cebola em uma temperatura quase congelante. Depois de forrar e aquecer o estômago, foi hora de recolher as coisas e tentar dormir. Durante a madrugada fez muito frio mesmo. Imagino que a temperatura tenha chegado perto do 0ºC. O saco de dormir até que suportou bem, o isolante térmico foi nosso maior inimigo. A barraca apertada e cheia também. Como, em alguns momentos, eu encostava nas paredes, acabava que  saco de dormir gelava de dentro pra fora. Ainda sim foi possível dormir boa parte da noite só com camisa, samba-canção e meia. No fim da noite tive que vestir o fleece.



O que ficou de aprendizado: precisamos de um isolante de verdade, tanto pra isolar do chão gelado como pra aumentar um pouco do conforto nos pisos mais duros (este não é o caso do Caparaó). Também precisamos pensar numa forma melhor de organizar as tralhas na barraca. Talvez deixar as cargueiras do lado de fora seja a melhor opção pra Arpenaz 2.

Neste dia caminhamos 8,5km.


3º dia: PNC x BH


Acordamos com a claridade da manhã, mas o Sol ainda não iluminava o Terreirão. A grama e a cobertura da barraca estavam congeladas. O potinho com água de miojo de um companheiro estava congelado. A manhã estavam bem fria mesmo. Meu dedão doía dentro da bota, estava meio dormente.


Enquanto o Sol não iluminava nossa área por completo, fomos em busca dele. Encontramos a trilha Terreirão x Cristal e tiramos algumas fotos do vale do Rio Caparaó e do pico. O céu da manhã estava bem aberto e com nuvens bem espaçadas. Sorte de quem subiu de madrugada ou pela manhã. Inveja nossa.


Depois de tomar café e secar a barraca no Sol, iniciamos a descida por volta das 9h. Rapidamente chegamos a Tronqueira. Guardamos o material no carro e iniciamos a descida até a cidade. Como já era por volta de 12h, decidimos por almoçar em Alto Caparaó, num restaurante de comida caseira bem na rua principal. Comida bem boa. Por volta das 13h deixamos a cidade, rumo a Belo Horizonte. Quando voltamos a BR-262, pegamos um bocado de trânsito lento até Realeza. A viagem de volta seguiu tranquila até João Monlevade, a 120km de BH. Depois foi muita lentidão e trânsito parado. Gastamos 4h de JM até BH. O tempo só não foi maior porque pegamos um desvio por terra logo após o trevo para Ravena. Isso porque era um final de semana normal.


Estamos com a volta ao PNC engatilhada, já que a na primeira visita não demos muita sorte. Até lá tentaremos encontrar melhores isolantes. E também voltaremos por Ponte Nova, pra evitar o trânsito caótico de domingo na 381.



DICAS E INFOS:
Antes de mais nada, para acampar no PNC é preciso agendar com antecedência no site da unidade: http://www.icmbio.gov.br/parnacaparao/. Em 2016, o ingresso estava em 15$ para brasileiros e o camping 6$ por noite.


A trilha, de uma maneira geral, é tranquila do ponto de vista técnico, mas exige um bom esforço físico, já que é só subida. No inverno o frio corta com força, não subestime-o. Leve roupas e equipamentos apropriados para o frio. Se não tiver, é possível alugar em algumas lojas de montanhismo em Alto Caparaó. Até o Terreirão há boa disponibilidade de água pelo caminho. O ataque ao pico possui pouca ou nenhuma fonte de água nos meses de inverno. A navegação até o Pico da Bandeira, pelo lado mineiro, é bem tranquila.


Para os meses mais quentes, o Parque possui algumas cachoeiras e áreas boa para banho.


Os campings possuem infraestrutura básica, como pias, banheiros e duchas (de água geladíssima).


COMO CHEGAR:
De carro, partindo de Belo Horizonte, siga para BR-381, saída para Vitória-ES. Em João Monlevade pegue a saída para ao Espírito Santo, pela BR-262. Após Manhuaçu, próximo a Reduto, entre à direita na rodovia estadual MG-111. Depois da entrada para Alto Jequitibá, vire à esquerda na bifurcação para Alto Caparaó. Chegando a Alto Caparaó, siga pela avenida principal (Pico da Bandeira) até o Parque Nacional.


Até a portaria são cerca de 330km desde BH, por rodovias asfaltadas. Depois da portaria começa uma longa e pesada subida até o acampamento Tronqueira.


De ônibus, saindo de BH, pegue alguma linha que pare em Manhuaçu. Daqui é preciso pegar o ônibus que faz ligação com Alto Caparaó. É preciso pesquisar o nome das empresas que fazem este trajeto.

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