09/10/2018

Travessia Altamira x Serra do Cipó (via Bandeirinha)

Temporada de montanha a gente fica matutando pra onde ir, principalmente quando tem uns dias livres pela frente. Selecionei algumas travessias pelo Espinhaço mineiro que tinham em comum certa facilidade de chegar e sair de ônibus. Convidei alguns companheiros de montanha, mas não tive sucesso na empreitada. Ficar em casa? Que nada! Se não tem companhia a gente vai solo mesmo.

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Num final de semana ensolarado de julho parti pras bandas do Cipó, para rever alguns caminhos e conhecer outros novos, cruzando a Serra da Bandeirinha desde Altamira até a vila de Serra do Cipó, antiga Cardeal Mota.

1º dia: Altamira x Braúnas

Na sexta liguei para o telefone da Transtatão, empresa que faz o transporte Nova União x Altamira, a fim de confirmar o horário do carro. “Só sai quando o ônibus das 10:00 chega”, disse a filha do Tatão. Como não tinha outro horário e nem outro jeito, foi assim. Menos mal que não precisaria madrugar para pegar o ônibus das 06:30 que sai de BH.

Saí de casa por logo depois das 09:00. Antes de chegar no ponto o ônibus já tinha aparecido, que sorte! Depois de uma boa volta no bairro, às 09:35 já estou na plataforma do metrô, que em qualquer outro lugar do mundo se chamaria trem. O metrô demora um pouco mais do que o esperado, fazendo com que eu desembarcasse no terminal São Gabriel somente às 09:57, sendo que o ônibus para Nova União sairia às 10. Apressado me desloco para o terminal de ônibus, onde chego pontualmente às 10:00. Plataforma cheia, espio umas conversas e logo vem o alívio: ônibus atrasou um pouco. Dez minutos depois ele chega, todos embarcam e logos saímos para Nova União.

Em condições normais, essa viagem não demoraria mais que 1h30. Mas a BR-381 (saída para o ES) é uma caixinha de surpresas, ainda mais quando a rodovia está em obras de duplicação. A nossa frente uma carreta levava imensas peças de concreto, agarrando todo o trânsito. Em aproximadamente 1h de viagem tínhamos percorrido pouco mais de 30km, um pouco mais da metade. Chegamos em Nova União por volta das 12:40 e eu já pensava em alternativas, já que a distância até a Braúnas superava os 18km.

Desci na praça São Vicente, onde fica o posto de combustível de Nova União, e o ônibus rural pra Altamira já estava à espera. Tão logo embarquei, junto com mais algumas pessoas, e o motorista deu partida. Desde Nova União são aproximadamente 16km até Altamira. As diversas paradas e a estrada em condições medianas fazem com que a viagem dure cerca de 50 minutos. Desembarquei no ponto final, onde fica a garagem da Transtatão.

Como desembarquei já no fim do arraial, tinha economizado alguns metros de pernada. Às 13:40 comecei a andar, depois de alguns minutos alongando e fazendo os últimos ajustes na cargueira. Segui pela estradinha de terra rumo a Altamira de Cima ou Mutuca, tinha aproximadamente 8km até chegar ao início da trilha para Braúnas. Logo no início um carro passou por mim, mas nem pedi carona. Em ritmo forte fui levantando poeira na estradinha, cruzei algumas pessoas a pé e outras a cavalo. O sol brilhava intensamente, mas o calor não era tão forte por ali. Passei pelo início da trilha para Lagoa Dourada, que tinha feito ano passado. Na ponte sobre o Rio Preto algumas pessoas curtiam a tarde de sábado.


Depois da ponte, predominam as subidas na estradinha. Numa bifurcação sinalizada, mantenho à direita, sentido contrário ao da cachoeira Alta e do Marimbondo. A condição da estradinha piora, já estou me aproximando do início da trilha. Passo ao lado de alguns sítios, mas não vejo quase ninguém. Às 15:11, depois de 7.7km de caminhada, chego ao início da trilha para Braúnas.

Um carro estava estacionado no final da estradinha, sinal de que veria alguém pelo caminho, ou será que estavam lá para acampar? Adio a parada técnica para quando cruzasse o primeiro córrego, depois de atravessar a Serra de Altamira. A trilha aparenta estar bem mais limpa do que quando fiz em janeiro de 2017. Fui subindo por entre o capão de mata até encontrar os campos rupestres numa porção mais alta da serra. O relevo estabiliza e, sem as árvores, passo a ter uma visão para o vale do Rio Preto. Depois de passar por uma pequena nascente, cruzo uma tronqueira à direita e volto a subir. A trilha agora possui alguns degraus e a caminhada é feita sobre afloramentos e pedras colocadas para calçar o piso. Depois de uma leve guinada para o leste, passo por uma espécie de garganta da Serra de Altamira, local um pouco mais baixo por onde é feita a travessia da serra.

Às 15:34 avisto a placa do Parque Nacional da Serra do Cipó, iluminada pelos raios solares que atravessavam a garganta. Este é o ponto mais alto da travessia, com 1.465m de elevação (GPS). Sigo em ligeiro declive pelos campos de altitude, a esta altura da tarde já na sombra da serra. Rapidamente chego ao primeiro ponto de água da rota, um riachinho, afluente do Ribeirão Bandeirinha. Depois de cruzá-lo, faço minha prometida parada. Coisa de alguns minutos, somente para comer algo, já que estava sem almoço, e reabastecer a garrafinha de água.

De volta à trilha, sigo por pouco mais de 500 metros e tomo à esquerda na bifurcação, seguindo pelo caminho mais batido. O caminho da direita, pouca coisa mais discreto, desce diretamente para o Ribeirão Bandeirinha, cruzando-o em um ponto mais elevado, o caminho ideal para quem deseja fazer essa trilha em época de chuva. Pela esquerda sigo aproveitando as curvas de nível da Serra da Mutuca, cruzo alguns córregos com pouca água e aproveito a visão para as serras do outro lado do vale.

Depois de cruzar o segundo córrego, que tinha um pouco mais de volume, a trilha vai descrevendo uma curva para a direita e começa a descer em direção ao fundo do vale. A descida é moderada em alguns pontos, mas breve, de uma forma geral. Logo chego em uma parte mais plana, em um terreno mais arenoso. Uma trilha mais batida segue para leste em direção ao ribeirão, onde fica um pequeno rancho escondido num capão de mata. Ao me aproximar dele percebo que estou num caminho diferente, então retorno à bifurcação para tomar o caminho certo. É bem possível que após o rancho a trilha continue do outro lado, mas não quis arriscar. O caminho da esquerda segue no rumo nordeste, por uma trilha suja. Cruzo um curto trecho com capim alto e logo chego no resto de cerca que fica na margem do Ribeirão Bandeirinha. É preciso descer por um lajeado até o nível do ribeirão, que corre por uma espécie de valeta. Uma travessia por aqui com o ribeirão cheio não é tarefa simples.

Devido ao atraso da viagem, tinha como plano B acampar nessa região do ribeirão, de preferência no trecho arenoso antes de cruzá-lo. Como passei por ele às 16:38, com cerca de 1h de claridade pela frente e menos de 5km de trilha a percorrer, decidi prosseguir. Desta forma a caminhada ficaria mais balanceada e o dia seguinte seria menos puxado.

Com um passo saltei o ribeirão e continuei pela trilha da outra margem. Cruzo uma curtíssima mata ciliar e estou de volta aos campos de altitude. Em ligeiro aclive, passo por duas mulas amarradas, que estavam pastando, e logo chego a uma fonte de água mirrada, a última antes da cachoeira. Parada somente para respirar com mais calma, mastigar algo e apreciar a luz dourada do sol naquelas serras.

Depois de cruzar o ribeirão, a trilha segue por campos de altitude em relevo estável, são dois morros suaves antes de enfrentar a cascalheira que dá acesso ao poço. As pernas andam no automático e os olhos tentam observar alguma trilha à direita, seja contornando ou se embrenhando num viçoso capão de mata. A curiosidade é por esta suposta trilha ser a ligação entre os Currais e a cachoeira Braúnas, proposta pelo Parque Nacional. Vejo uma trilha mais distante, nas margens do córrego que se encontra num nível mais baixo do terreno, a minha direita. Sigo caminhando.


A Braúnas se revela aos poucos nesta trilha, primeiro as quedas do topo do córrego, depois a Brauninha e, por fim, a queda principal. Desta vez, porém, devido à luz fraca do fim da tarde, aliada com a vazão menor dos córregos por conta do inverno, não foi possível acompanhar toda essa revelação.

A trilha desde Altamira até a Braúnas é super tranquila, com exceção do trecho final, que é uma baita cascalheira, numa descida bem acentuada. Logo no começo da descida vejo uma barraca montada no pequeno platô que existe antes do acesso ao poço, sinal de que teria companhia para a noite. Desço rapidamente, dentro do possível, pois ainda queria tomar um banho no poço antes de escurecer. Às 17:40 chego ao platozinho, sou anunciado por dois cachorros, cumprimento meus futuros vizinhos e trato logo de descer ao poço para tomar um banho. A água estava anestesiante, se o anoitecer não fosse questão de minutos, certamente passaria mais tempo na água para recuperar os músculos. Mesmo habituado a andar, fiquei impressionado com meu rendimento, gastei 4h de Altamira à Braúnas.

O restante da noite foi de conversa com os três vizinhos, janta e fotos noturnas aproveitando a lua que iluminava quase igual ao sol.

Neste dia caminhei 17.9km.

Dia 2: Braúnas x Serra do Cipó

O acampamento próximo ao poço da cachoeira é bem precário, o solo é raso e há muito cascalho e tufos de capim. Donos de barracas não autoportantes devem ter atenção e, de preferência, acampar na parte alta da cachoeira.

Levantei pouco depois das 06:00, mas o frio tornava as coisas mais difíceis. Só fui sair do casulo quando o sol deu as caras por ali. Aí foi arrumar as tralhas, desmontar barraca e tomar café, quase tudo ao mesmo tempo. Tinha planos de sair mais cedo, já que teria um longo trecho sem trilhas definidas até a cachoeira da Farofa de Cima, mas acabei por deixar o acampamento às 09:09.

Desço novamente até o poço e sigo pelas rochas do entorno até a desembocadura daquelas águas. De sunga e mochila nas costas, atravesso uma passagem mais rasa do córrego. Quando a água geladinha vai se aproximando das partes (e da mochila), o jeito é mudar de direção em busca de águas mais rasas. Logo me aproximo da parede na outra margem e subo por ela, andando numa trilha bem estreitinha um pouco acima do nível da água.

Chego a um imenso bloco rochoso que fica na saída do poço da cachoeira, local onde visto minhas roupas e calço as botas. É praticamente impossível ver a trilha que sobe a cachoeira de outro local, a não ser da entrada dela. É um caminho discreto, também acobertado pelas árvores e capim alto. Com o facão na mão, vou subindo pela encosta à esquerda da cachoeira, tentando dar uma limpada na trilha. Foram cerca de 10 minutos em trilha íngreme até alcançar os campos no topo da serra. Deixo minha cargueira na bifurcação e vou dar uma averiguada no topo da cachoeira. A trilha leva até o rio, de onde é possível descer por degraus, de variados tamanhos, até a beira da queda. E, seguindo no sentido contrário, subindo o rio pelo leito se tem acesso ao poço da Brauninha.


Depois de uma exploração bem rápida, às 09:52 estou de volta à bifurcação, pego a cargueira e tomo o rumo noroeste-norte, seguindo por uma trilha bem discreta. A trilha sobe margeando uma mata, vou me mantendo à esquerda de algumas bifurcações. Próximo a uma drenagem essa trilha antiga toma o rumo nordeste, seguindo em direção ao Tatinha, um antigo rancho no alto da serra. Sigo então por um trilho de gado no rumo norte-noroeste, até que ele passa a descrever uma curva para oeste. Neste momento saio do trilho, dando uma guinada de 90º para direita, passando a seguir no rumo norte por um trecho de campos sem trilha definida.

Vou subindo o morrote em direção a uns arbustos que existem no topo. No meio da subida percebo um caminho recentemente pisado, muito provavelmente por gado, e passo a seguir por ele. Passo por uma cerca velha e caminho paralelo a um capão de mata. Quando o trilho começa a dar a volta na mata, passo a descer em direção a um trecho mais limpo do riacho, que preciso vou precisar cruzar mais a frente. Depois de cruzar o riacho, subo por afloramentos rochosos e logo saio em um trecho de campos.

Em dado momento, vejo uma cerca no topo do morro que existe a minha direita. Vou subindo gradativamente pela encosta em direção ao topo do morre e à cerca, cruzando o arame enferrujado às 11:08. Estou no topo da Serra da Bandeirinha, com ampla visão para o vale do Mascate, Serra da Lagoa Dourada (oeste) e da Farofa (leste). O capim, que até então cobria todo o solo, agora é bem curto e rente ao chão. Surgem algumas trilhas antigas e vou seguindo em ligeiro declive em direção a uma drenagem, cujo capim tem um verde que chama atenção. Adiante cruzo mais uma outra drenagem e o caminho passa a ser um pouco mais encardido.

Depois da segunda drenagem, prefiro cruzar por dentro de uns afloramentos, ao invés de fazer o contorno. A vegetação é um pouco mais densa, composta por pequenos arbustos e gramíneas. Vou desviando dos arbustos até que sinto uma picada. Olho para meu braço e não vejo nada. Prossigo a caminhada e sinto a picada novamente. Olho para meu braço novamente, mas desta vez vejo uma espécie de taturana, de um verde bem chamativo. Como segurava o facão com a outra mão, bastou uma cutucada para que ela caísse no chão. Mesmo por cima da camisa de manga comprida e com a lagarta “de pé”, ela conseguiu me queimar. Aproveitei a parada para passar um pouco de álcool gel na região atingida e prossegui.

Logo saí do trecho de afloramentos e retornei aos campos. Vou me aproximando de um capim mais alto, com algumas taiobas, muito provavelmente uma nascente. O capim é tão grande e denso que pareço flutuar ao pisar nele. Vou aproveitando alguns locais já pisados para facilitar o deslocamento. Adiante vou me aproximando de mais uma drenagem, quando percebo um belíssimo campo de sempre-vivas à direita. Nunca tinha visto nada parecido, uma aglomeração de sempre-vivas em uma área tão pequena, que em nada parecia diferente das demais. Vou seguindo entre campos e afloramentos, evitando a vegetação mais alta, até chegar ao Córrego Taioba, às 12:03, depois de 6.9km.

Embora fosse pequeno, as águas calmas do Taioba tinham profundidade razoável. Não queria tirar as botas e a calça, então fui procurar uma maneira de atravessar. Utilizei um arbusto como apoio para alcançar algumas pedras emersas. Depois me joguei pra outra margem, onde aterrissei com segurança e em local seco. Subo pelos campos, ainda sem trilha definida e cruzo outra área com capim alto e taiobas. Passo à esquerda de uns afloramentos, bem próximo ao rio, e intercepto uma trilha de gado, o que me alegra depois de tanto capim. Após umas dezenas de metros a trilha some, restando somente alguns rastros sobre o capim.

Reencontro o Córrego Taioba mais a frente, num ponto onde a travessia é simples. Depois de cruzá-lo sigo novamente entre afloramentos e campos, em um trecho mais arenoso, até chegar ao córrego pela terceira vez. A travessia é simples, mais uma vez. Do outro lado a margem é um pouco mais inclinada, mas nada que dificulte. Novamente em campos, vou me aproximando de um afloramento rochoso. Já bem próximo dele, faço o contorno pela direita e retorno para uma área de campos. Após passar por alguns arbustos que se concentram à direita, vou derivando pra esta direção até que encontro um trilho de vaca, por onde passo a seguir.

Alguns metros a minha frente uma matinha se mostrava desafiante, embora numa parte mais baixa do terreno fosse possível contorná-la com facilidade. Mesmo assim, continuo seguindo pelo trilho de vaca, em direção a essa matinha. Ao me aproximar, pra minha surpresa, havia uma picada que atravessava essa mata. Do outro lado me deparo com uma estaca que já foi vermelha, fruto do antigo projeto de trilhas do Parque. Aliás, ao longo do caminho, já tinha me deparado com outras estacas, mas elas não ajudavam muito, já que não havia trilha pra seguir nas proximidades.

Depois de atravessar a mata, sigo caminhando por uma trilha bem antiga, que o capim quase cobria. Aos poucos a trilha vai desaparecendo e, depois de cruzar um riachinho, vira só capim amassado. Vejo alguns restos de trilhas paralelas ao caminho que estava seguindo, mas nenhuma persistia. A essa altura não precisa quebrar cabeça com isso, já que a consolidada Currais-Farofa estava a alguns minutos de distância.

Às 12:56, depois de 7.7km sem trilhas definidas, intercepto o caminho consolidado que vem dos Currais. A trilha segue em ligeiro declive, com um trecho de vegetação mais densa que parece ter sido limpo recentemente. O caminho vai se aproximando da mata ciliar do Córrego da Farofa, para cruzá-lo mais a frente, em um ponto raso. Mantenho à esquerda na trilha e sigo direto pra uma sombra solitária que existe próximo ao topo da cachoeira da Farofa de Cima. Por lá faço um lanche reforçado, depois de quatro horas de atividade e descanso um pouco antes de visitar o poço da cachoeira.

O visual do topo da Serra da Bandeirinha é sempre muito interessante. Dali do alto da Farofa era possível ver a porção final da Serra da Lagoa Dourada e a Serra das Areias, entre elas o Ribeirão Areias com suas pequenas quedinhas. O Rio Mascate, correndo tranquilamente no fundo do vale, também chama a atenção.


Depois de quase 50 minutos apreciando aquela sombrinha solitária, sigo para o poço da cachoeira. A trilha dá uma volta boa, sendo quase 1km do topo ao poço da cachoeira, local que eu chego às 14:14. Sol batendo diretamente na queda e em algumas partes do poço. Água anestesiante, como a da Braúnas. O jeito é entrar rápido, mas não sem uma breve aclimatação.

Depois do banho, é hora de cumprir o trecho final da travessia. Saio do poço às 15:01, com esperanças de chegar no Cipó antes das 18:00, a fim de pegar o ônibus para BH. Depois de uma suave subida, saindo do pequeno vale do Córrego da Farofa, avisto o conjunto de serras do outro lado do Rio da Bocaina. Logo começa um ligeiro declive por campos de altitude. Passo por um pequeno charco, que é acompanhado de uma senhora erosão, princípios de uma voçoroca. Adiante cruzo uma outra nascente, com águas cristalinas, mas paradas no período de estiagem. A descida vai ficando mais acentuada e vou me aproximando de um capão de mata. Mais a frente é preciso cruzar um riachinho, formado pelas nascentes que cruzei mais atrás. A água escorre bem mirrada.

A trilha segue numa transição entre campos rupestres, cerrado e mata ciliar; e me chama a atenção o fato do caminho estar bem limpo, diferente de quando passei anos atrás, em 2015. Muito provavelmente as mudanças nessa trilha são em virtude do acesso aos Currais pelos brigadistas, mas talvez seja o Parque pensando em colocar este trecho no cardápio. Vou descendo e o barulho de água vai aumentando. Uma entradinha que antes era bem discreta e que tinha um totem marcando, hoje é bem visível. Entro nela para revisitar um poço de águas cristalinas que encanta pelo aconchego. Nunca nadei ali, mas ele sempre me encanta.

Aos poucos a trilha se afasta do capão de mata e passa a cruzar uma transição entre campos rupestres e cerrado. Depois de 14.7km, às 15:57 cruzo mais uma vez o córrego de águas cristalinas, um afluente do Rio da Bocaina. Em ligeiro declive, vou me afastando do córrego para, mais a frente, descer mais um lance desse vale encaixado entre as serras da Bandeirinha e da Farofa. Contorno o morrote que está a minha esquerda e deixo o rumo norte para iniciar minha marcha para o oeste.

No fundo do vale, acompanhando o rio da Bocaina, a trilha cruza áreas de capoeira, onde os moradores remanescentes costumam deixar os animais soltos. Atravesso o córrego de águas cristalinas pela última vez às 16:22. Marchando para oeste, algumas bifurcações e trilhas paralelas, em virtude do trânsito de animais na região. Próximo ao local de travessia do Rio da Bocaina, vou tomando uma saída equivocada da trilha, mas percebo logo e conserto o rumo. Às 16:36 chego no rio, um reencontro com a sociedade. Várias pessoas por ali. Algumas molhando os pés, outras fazendo um ensaio fotográfico. Avanço um pouco pela margem para cruzar o rio passando por uns troncos caídos, sem precisar tirar as botas. Subo pelo bambuzal e logo estou na trilha mais consolidada deste vale do Parque Nacional, acesso pras cachoeiras Andorinhas, Gaviões e Tombador.

Logo que passo pela casa de um dos moradores do Parque, a trilha ampla ganha ares de estradinha. Pelo caminho vou passando algumas pessoas, uns somente com mochilas, outros que pareciam voltar da casa de algum parente, com sacolas cheias de frutas e caixas de isopor. Depois de cruzar um riacho, encaro uma subida poeirenta e chego ao calçamento do Parque Nacional. Uma van esperava a turma que voltava da casa de algum parente.

Depois de quase dois anos sem passar por essas bandas do Parque, percebo algumas diferenças. Um portão colocado na entrada de uma das casas, uma porteira construída para que não utilizassem os arredores da casa dos funcionários como estacionamento. O que não muda é o futuro prédio da portaria 2 do Parque, que parece que nunca vai ser inaugurado/utilizado.

Às 17:01 passo pela porteira nova e vou subindo pelo calçamento em direção ao centro da vila do Cipó. Alguns grupos estavam se preparando para ir embora, mas resisto à tentação de pedir carona ali mesmo. Enfrentando a última subida do trajeto, já depois da Pousada Fazenda Engenho, um carro parou e me ofereceu carona até a rua. Quem negaria? Rs


Começo a conversar com o grupo, que tinha feito a trilha até as cachoeiras do parque e estava bastante curioso sobre minha travessia solo rs. Conversa vai, conversa vem, pergunto se não querem aproveitar para me dar carona até BH. Nem responderam abertamente, mas também não pararam, então fui embora. Depois do trânsito típico de tarde de domingo em Lagoa Santa, onde aproveitei para ensinar aos colegas de Contagem uma pequena forma de se adiantar no engarrafamento, cheguei à região de Venda Nova por volta das 19:00 e finalizei o dia andando mais 4km até chegar em casa.

Neste dia caminhei 19.3km até a porteira do Parque Nacional. Seriam mais 2.6km até o centro do distrito de Serra do Cipó.

DICAS E INFOS:

Os trechos de trilha consolidada possuem baixa dificuldade técnica, com atenção somente para o terreno irregular, uma descida acentuada com muito cascalho e a subida da cachoeira Braúnas. Já o trecho sem trilha consolidada é de alta dificuldade técnica e exige boa orientação. É preciso atravessar o Córrego Taioba por três vezes, cruzar trechos com vegetação alta e porte arbustivo, uma área muitíssimo isolada do Parque Nacional. Em virtude do longo trecho sem trilhas consolidadas, recomendo essa trilha somente para pessoas com experiência no montanhismo.

Há boa disponibilidade de água ao longo da rota, mesmo no inverno, não sendo necessário levar mais que uma garrafa. Não chequei a cobertura telefônica na região, mas normalmente tem sinal na subida da Serra de Altamira (próximo ao ponto em que se adentra ao Parque Nacional) e nas proximidades da portaria 2 – Retiro. Também é possível que tenha algum sinal nos trechos mais altos da Serra da Banderinha.

O trajeto possui poucas áreas interessantes para acampamento, sendo a melhor delas na proximidade do Ribeirão Banderinha. No entorno da Braúnas o melhor local para acampamento é na parte de cima da cachoeira ou no rancho do Tatinha, que fica nas proximidades.

Para facilitar esta travessia, uma opção para evitar o trecho sem trilha consolidada é subir a Braúnas em direção ao rancho do Tatinha e, de lá, seguir por uma trilha antiga até interceptar o caminho consolidado entre os Currais e a Cachoeira da Farofa. Este trajeto aumentaria em alguns quilômetros a distância a ser percorrida.

O ideal é realizar esta travessia com tempo seco, de preferência fora do período chuvoso. Algumas travessias de rio podem ser bem complicadas no período chuvoso ou em caso de cabeça d’água (tromba d’água). No auge do inverno é preciso ter atenção com possíveis focos de incêndio na região.

LOGÍSTICA:

Usando como referência a cidade de Belo Horizonte, a travessia tem início em Altamira, distrito de Nova União, a cerca de 80km da capital. O acesso principal é via BR-381, saída para o Espírito Santo/Vale do Aço. O ponto final é no centro da vila da Serra do Cipó, distrito pertencente a Santana do Riacho. Do Cipó até BH são cerca de 100km de distância.

Como a maioria das travessias, Altamira x Serra do Cipó tem em suas extremidades pontos distantes entre si por via rodoviária. Desta forma é preciso combinar algum serviço de entrega e resgate. Caso opte por ir em carro ou van, é possível encurtar uma parte da caminhada, iniciando o trajeto cerca de 7km após Altamira e finalizando na Portaria 2 do Parque Nacional, a 3km do centro da vila do Cipó.

A logística pode ser feita em transporte coletivo, forma utilizada por mim. Do terminal São Gabriel, em BH, sai a linha 4882 (Consulta DER). De segunda a sábado o ônibus sai às 06:30 e 10:00, nos domingos/feriados às 09:00 (tarifa R$12.95.). De Nova União sai o ônibus rural da Transtatão com destino a Altamira. Este ônibus não possui horário definido, ele sai após a chegada do ônibus das 10h à Altamira (tarifa R$11.50). Caso queira iniciar a caminhada mais cedo, uma opção mais viável é pegar o ônibus das 06:30 e, em Nova União, fretar um táxi ou conseguir uma carona para Altamira.

O retorno da Serra do Cipó para BH pode ser feito em ônibus de viagem da Viação Serro ou Saritur, há alguma disponibilidade de horário, que devem ser checadas com as empresas ou em sites de passagens. O preço informado gira em torno de R$30.

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