01/08/2018

Chapada Diamantina: Os 3 picos do Nordeste

Afastados do Parque Nacional da Chapada Diamantina, na região centro-sul da Bahia, estão os gigantes do Nordeste brasileiro: Almas, Barbado e Itobira. Embora careçam de medições oficiais, os dados registrados nos três locais superam os 1.900 metros de elevação, sendo o Barbado considerado o mais alto, com 2.032m.

Para os montanhistas acostumados com as serras do sudeste, que “facilmente” ultrapassam os 2.000m de elevação, parece pouco. Pode até ser, mas os visuais dos tetos do Nordeste são tão bonitos quanto os dos pontos culminantes do Brasil.

Como é uma região um pouco esquecida, que conta com poucos relatos e informações, embora os tracklogs sejam fáceis de encontrar, faço aqui minha parte.

Vale ressaltar que os picos estão “isolados”, mas existe uma travessia do Barbado para o Itobira (e vice-versa) que é considerada de alta dificuldade técnica e com trechos sem trilha consolidada.

PICO DO ITOBIRA: 1.935m
Disponível no Wikiloc.

Em 14/04/2018 saí de Andaraí, onde estava morando, com destino a Rio de Contas, a 180km de distância. Gastei exatas duas horas no trajeto, chegando a Rio de Contas por volta das 14h e parando para almoçar na praça principal. O centro histórico é bem bonito e arrumadinho, sem dificuldades encontrei um local para fazer a refeição, o almoço saiu por 10 ou 15 reais, não me lembro ao certo.

A ideia era pernoitar no Pico do Itobira, que aparentava ter uma boa área para montar barraca. Então, para reduzir o peso da cargueira, decidi almoçar de verdade antes de subir e iniciar a caminhada somente na parte da tarde, já que a trilha não é tão longa. Dito e feito, almocei e logo em seguida parti em direção ao povoado de Fazendola, localidade que dá acesso ao pico.

Saindo do centro de Rio de Contas foram cerca de 22.5km até o povoado de Fazendola. O trajeto é feito por uma estrada de terra em boas condições, trafegável por qualquer veículo. As bifurcações são bem sinalizadas, embora algumas não contenham placas sinalizando explicitamente Pico do Itobira. Então, a princípio, NÃO siga as placas para o Pico das Almas, SIGA o caminho para Ponte do Coronel e Fazendola.

Às 14:49 cheguei a Fazendola, um povoado de uma rua e algumas casinhas. Quase no fim da rua dobrei à esquerda, tomando o caminho para uma localidade chamada Fazenda Carambola. Localmente esta localidade pode ter outro nome, um senhor que encontrei no caminho me falou um nome totalmente diferente disso, mas acredito que era o baianês avançado dele rs. Em todos os casos, o nome Fazenda Carambola, ou só Carambola, é o que consta na carta topográfica do IBGE.


De Fazendola são cerca de 6km, por uma estradinha bem cascalhada em condições medianas, até a última casa da tal Fazenda Carambola. Para quem vai de carro, aconselho passar pela tronqueira e deixar o veículo estacionado junto a essa última casa. Mesmo se estiver de 4x4, deixe o veículo lá, já que a estradinha desta última casa até o início da trilha está em condições precárias. Além do mais, são só 1,3km até onde a trilha realmente se inicia.

Como estava de moto, fui até descampado onde a estradinha termina e deixei ela estacionada junto ao muro de pedras. Enquanto finalizava os detalhes para iniciar a subida, reparei num papelão e num machado que estavam bem onde a trilha começava. Muito provavelmente alguém estava por ali. Logo que finalizei a preparação, um senhor aparece puxando um pedaço de árvore rs. Quando me avistou ele largou a madeira e veio caminhando em minha direção. Apresentou-se e começou a conversar. Mesmo ele repetindo o nome a quase todo instante, neste momento me falha a memória. Falou que morava ali na Carambola com a família, que todo mundo ali era família. Falou das irmãs, das primas e sobrinhas que moravam por ali. Contou que mais cedo tinha ido buscar pequi (!!! nem sabia que existia nesta região) num local distante. Por fim, falou pra que eu passasse na casa dele na volta, pra tomar um café.

Pelo horário, tinha certa pressa pra iniciar a subida, pois não sabia como seria dali até o topo. Então, depois de uns bons 15 minutos de papo (ou mais), me despedi e iniciei a trilha. O senhor ainda me acompanhou por uns metros, pois ia recolher o restante da lenha que estava no caminho. A trilha está bem consolidada nesta parte inicial, entre afloramentos rochosos vou avançando por corredores encravados entre as paredes da Serra da Mesa. Às 15:32 cruzo um muro de pedras e cinco minutos mais tarde chego ao Riacho do Gê (segundo carta da região). A travessia é um pouco confusa, embora o nível do riacho seja pequeno, mesmo com as chuvas frequentes dos últimos dias, a trilha se embaralha com as pedras reviradas do leito. Depois de observar um pouco encontrei uma passagem fácil, pulei algumas pedrinhas e logo estava na outra margem, sem molhar os pés.

Agora a trilha segue no sentido oposto ao do riacho, por baixo da mata ciliar. Há um pequeno descampado que pode servir como área de acampamento. O trajeto segue no rumo nordeste, acompanhando o riacho serra cima. Durante boa parte da subida, o riacho sempre estará à direita. A subida começa por um trecho com algumas árvores, que oferecem alguma sombra. Às 15:50, depois de pouco mais de 1.1km, chego a uma tronqueira, onde faço uma pequena parada para hidratação.

Algumas dezenas de metros depois da tronqueira, passo por um pequeno afluente do riacho, que deve secar com a estiagem na região. A subida é moderada e as árvores vão ficando mais raras de encontrar. Sigo subindo entre campos rupestres e com 1.4km de caminhada olho para cima e começo a visualizar meu destino: Pico do Itobira. O tempo estava bem nublado, mas as nuvens estavam altas e a falta de sol contribuía para um melhor qualidade na caminhada. A face sul-sudoeste me fez lembrar da Devils Tower, no estado norte-americano do Wyoming.

Adiante cruzo mais um muro de pedras e os afloramentos rochosos dão lugar a um campo de altitude com menos rochas aparentes. Este trecho é um pouco confuso na navegação, já que existem diversas trilhas e nem todas levam ao mesmo lugar. É preciso ficar atento ao GPS e não perder o rumo nordeste. Depois de passar à direita de um capão de mata, a trilha se reaproxima do riacho.

Às 16:29, depois de 2.5km de caminhada, entro em um pequeno trecho de mata para cruzar o riacho logo em seguida. A subida fica um pouco mais suave e a trilha segue agora à direita de uma mata bem viçosa. Devido às chuvas dos dias anteriores este trecho estava bem úmido, com muita água correndo. E não era pra menos, afinal tratam-se das nascentes do Riacho Gê.

Aos poucos a trilha pelos campos de altitude vai se estabilizando. Na lateral da trilha uma pequena serpente me chamada atenção, ela “flutuava” sobre os tufos de capim e rapidamente se escondeu. Quando começa uma ligeira descida é preciso deixar o rumo norte e dar uma guinada para oeste, tomando à esquerda na bifurcação. É o ataque ao Pico do Itobira. O GPS mostrava 1.713 metros de elevação, o que indicava a subida final com um ganho de elevação superior aos 200 metros.

A trilha segue agora em meio a uma mata de samambaias, com algumas bromélias com folhas espinhentas em forma de serra. Um facão pode ajudar a dar uma limpada nas samambaias, que deve ser uma das espécies mais odiadas pelos montanhistas rs. Aos poucos as samambaias ficam para trás e a subida passa a ser por afloramentos rochosos. Alguns degraus e uma subida bem acentuada até o topo da serra. Foram 28 minutos desde a bifurcação, na base do pico, até a área de acampamento, que fica no topo.


O local é protegido por um pequeno muro de pedras e comporta duas ou três barracas pequenas. Próximo ao acampamento há uma rocha inclinada de tal forma e também protege de uma possível garoa e de um pouco do vento. O tempo tinha piorada, as nuvens baixaram e comprometeram o visual do pico. Por alguns instantes deu pra visualizar o vale da Mutuca e as serras que o cerca. Também foi possível visualizar Rio de Contas e os povoados das proximidades.

O cume verdadeiro, porém, fica um pouco mais para o norte do acampamento. Deixei a mochila protegia da garoa e segui em direção ao cume, onde cheguei às 17:22. O GPS marcou 1.935m, bem menos que os 1.970m que já vi em alguns relatos. Consultando a carta topográfica de Livramento de Nossa Senhora, no entanto, a maior elevação da Serra da Mesa possui 1.930m, mas não é uma medida confirmada.

Do verdadeiro Pico do Itobira pude ver poucas coisas, logo a garoa começou a aumentar e o vento ficou mais forte, me obrigando a descer da rocha que havia subido. Em alguns pontos pega sinal de VIVO e imagino que funcione CLARO também.

Com o tempo piorando, tratei logo de montar acampamento e me entocar na barraca. Durante a noite garoa e chuva praticamente ininterruptas. O vento também era uma constante, mas a barraca suportou bem.

A manhã seguinte amanheceu bem fechada, com garoa praticamente incessante. Enrolei na expectativa do tempo melhorar, mas nada. Então por volta das 10:30 desci. Em bom ritmo e com poucas paradas gastei 1h30 até o ponto onde havia deixado a moto.

DICAS E INFOS:

A trilha de acesso ao Pico do Itobira tem 4km de extensão, 5.3km se considerarmos o início junto a última casa da Fazenda Carambola. A dificuldade técnica é moderada para experientes, podendo ser alta para iniciantes. Destaque para o terreno irregular e alguns degraus de tamanho mediano, onde talvez seja preciso do auxílio dos braços para subir.

Boa disponibilidade de água pelo caminho, já que boa parte da subida acompanha o leito do Riacho Gê. No topo do Itobira sinal de telefonia móvel da operadora VIVO, talvez funcione CLARO também. No topo tem uma área de acampamento protegida por um pequeno muro de pedras, cabem duas ou três barracas pequenas.

Acesso livre e gratuito ao Pico do Itobira, embora este não esteja inserido em nenhuma unidade de conservação.

COMO CHEGAR:
A cidade de referência para chegar ao Pico do Itobira é a pequena Rio de Contas, a sudoeste do Parque Nacional da Chapada Diamantina. Outra cidade de referência na região é Livramento de Nossa Senhora. O aeroporto mais próximo é o de Vitória da Conquista, a 215km, já a capital Salvador está a 615km.

Saindo do centro histórico de Rio de Contas, é preciso seguir em direção ao Açude Brumado. Depois de cruzar a barragem, seguindo pela estrada de terra, há uma bifurcação sinalizada. Nela é preciso seguir à direita, sentido Ponte do Coronel e Fazendola. Depois da Ponte do Coronel (13,5km), basta seguir pela estrada principal, observando a sinalização para o povoado de Fazendola e Pico do Itobira. Chegando ao povoado (22.6km) é preciso entrar à esquerda na única esquina. Até o povoado de Fazendola a estrada está em boas condições.

Depois do povoado a estrada, bem cascalhada, piora a medida em que se aproxima do início da trilha. Alguns quilômetros após a Fazendola há algumas casinhas ao lado da estradinha, numa localidade conhecida como Fazenda Carambola. Até a última casa são 6.3km, ponto sugerido para estacionar os veículos. Se estiver de moto, pode segui por pouco mais de 1km até o ponto onde a trilha realmente tem início.

PICO DAS ALMAS: 1.945m
Disponível no Wikiloc.

Depois de descer do Pico do Itobira, vi que o tempo estava melhorando e decidi fazer um ataque ao Pico das Almas, pois pretendia retornar a Andaraí logo depois. Saí da base do Itobira por volta das 12:10 e joguei o caminho mais curto no GPS, que me mandou por umas estradas bem alternativas, com pitadas de trilha. Para quem deseja fazer o trajeto Itobira x Almas (e vice-versa), o ideal é retornar pelo caminho principal sentido Rio de Contas, até a bifurcação que separa o caminho para os dois picos, próximo ao Açude Brumado.

Às 12:59 passei pela Fazenda Brumadinho, um pequeno povoado tal qual a Fazendola. Na entrada do povoado tem uma mata-burro e uma cancela que fica sempre aberta, no canto uma placa informa que o acesso ao Pico das Almas só é permitido com guia local. No entanto, não tive nenhum problema ao adentrar no local, até porque não se trata de propriedade particular e sim de uma estrada de rodagem que dá acesso a alguns sítios e fazendas da região.


Depois do povoado de Brumadinho a estrada segue em condições precárias, mas trafegáveis por qualquer tipo de veículo, inclusive carros de passeio. Neste caso é bom que a pessoa dirigindo tenha alguma experiência em estradas de terra, caso contrário pode ter dificuldades em subir com o veículo. Após o povoado são 3.2km de estradinha até o início da trilha, sendo que, depois de cruzar um afluente do Rio Brumado, a estrada segue em forte aclive.

Em menos de 10 minutos chego ao ponto onde a trilha se inicia, deixo a moto na sombra de um solitário eucalipto e esvazio a cargueira, deixando somente o necessário para a subida. Às 13:20 começo a caminhada para o Pico das Almas. O tempo estava bem melhor do que no dia anterior, com o sol aparecendo em alguns instantes, o que contribuía para a subida.

Saindo do eucalipto, subo a estradinha por mais alguns metros até deixá-la em favor de uma trilha que sai à esquerda. Em terreno estável vou avançando para oeste, por um vale encaixado na base da Serra das Almas. À esquerda um paredão que parece intransponível, o que me faz pensar em como será essa subida até o pico rs. Passo por um ponto de água e, após 1.9km, a trilha dá uma guinada para o sul, deixando o vale encaixado e passando a subir por uma trilha discreta entre afloramentos rochosos.

Após a subida estabilizar, sigo por campos de altitude e passo por algumas nascentes, trechos que estavam alagados. A trilha bem demarcada vai se aproximando de alguns afloramentos rochosos que já me fazem pensar no Espinhaço mineiro. A trilha desemboca e um corredor entre dois desses afloramentos, depois de cruzar uma tronqueira, entro à direita em um outro corredor.

Saio em um amplo campo de altitude, local conhecido como Vale do Queiroz. A trilha vai de encontro a um dos afluentes do Rio Brumado e segue paralelo a este por algumas dezenas de metros. Depois de 2.9km de caminhada, às 14:05, cruzo o riacho de águas cristalinas e começo uma ligeira subida em meio a uma matinha de porte arbustivo. Ao sair da matinha desemboco em um dos trechos mais interessantes da caminhada: um campo de altitude com diversos afloramentos rochosos à esquerda da trilha. Diferente do Espinhaço mineiro, aqui eles saem do chão praticamente em ângulo reto. Mesmo não tão perto das fontes de água, esta é uma das melhores áreas para se acampar.

No horizonte toda a desenvoltura da Serra das Almas, numa subida que, com certeza, não seria fácil. Vou me aproximando de um capão de mata que cruzo em seguida. Após a mata me aproximo de um córrego, também afluente do Rio Brumado. Era um pouco largo para atravessar pulando e um pouco fundo pra não tirar as botas. O tronco retorcido de uma árvore na beira do córrego é a ponte ideal, mas a travessia exige um pouco de equilíbrio. Depois de exatos 4km, às 14:21 chego aos pés Serra das Almas.

A subida é encardida por afloramentos rochosos, com muitos degraus, sendo necessário o auxílio dos braços em algumas partes. Depois de 360 metros o primeiro lance de subida termina e começa um breve platô, seguido por outra forte subida. Em franco aclive ganho elevação pela Serra das Almas e sou recompensado por uma paisagem de encher os olhos. Pra quem está acostumado com a horizontalidade do Parque Nacional da Chapada Diamantina e com os afloramentos à 45º para oeste do Espinhaço mineiro, aquelas rochas apontando para o céu, com praticamente 90º de inclinação chamam a atenção.

Vou me aproximando de uma grande rocha, que de longe parece intransponível, mas ao chegar perto percebo que o caminho continua por uma fenda, que passa entre os dois imensos blocos. Por alguns instantes a subida estabiliza e tenho a minha frente a última súbida até o cume. A trilha segue em direção ao paredão e parece contorná-lo. Na verdade uma trilha perdida até segue como se contornasse o pico, mas é preciso deixar esse caminho de lado e dar início a uma escalaminhada até o topo.

Este trecho final possui 340 metros de extensão, a trilha é discreta pois a caminhada é sobre a rocha. Com algumas escalaminhadas e alguns lances de exposição à altura sigo em subindo e às 15:18 chego ao ponto culminante da Serra das Almas. O GPS marcava 1.945 metros de elevação, após uma caminhada que totalizou 5.7km.


O cume tem pequenas áreas protegidas que podem servir como acampamento, mas a subida final é mais complicada para quem pretende fazê-la com cargueira nas costas. Do alto se tem uma visão espetacular. Para sudeste as cidades de Livramento de Nossa Senhora e Rio de Contas, além dos diversos povoados. A nordeste o Pico do Itobira, de onde tinha saído algumas horas antes. Também é possível ver toda a extensão da Serra das Almas e da Serra do Rio de Contas para o sul. Como a visibilidade estava ótima, pude identificar também as serras no entorno de Brumado, com as marcas da mineração da Magnesita. Por fim, para leste, os paredões inconfundíveis da Serra do Sincorá, lá pras bandas de Ibicoara e Mucugê.

Pico das Almas, sem sombra de dúvida, tem um dos visuais mais interessantes da Chapada Diamantina. Poderia ficar ali observando, ouvindo somente o vento, por várias horas. Como não pretendia pernoitar por ali, afinal nem tinha subido com o material de camping, por volta das 15:45 iniciei a descida. Foram cerca de 1h30 até retornar ao ponto onde havia estacionado a moto.

COMO CHEGAR:
A cidade de referência para chegar ao Pico do Itobira é a pequena Rio de Contas, a sudoeste do Parque Nacional da Chapada Diamantina. Outra cidade de referência na região é Livramento de Nossa Senhora. O aeroporto mais próximo é o de Vitória da Conquista, a 215km, já a capital Salvador está a 615km.

Saindo do centro histórico de Rio de Contas, é preciso seguir em direção ao Açude Brumado. Depois de cruzar a barragem, seguindo pela estrada de terra, há uma bifurcação sinalizada. Nela é preciso seguir à esquerda, como indicam as placas para o Pico das Almas. Daí basta seguir pela estradinha principal, tomando à esquerda nas bifurcações importante, até chegar à Fazenda Brumadinho, um povoado a 14,2km do centro. Até Brumadinho a estrada está em boas condições para qualquer veículo. A partir do povoado a estrada piora bastante, ainda assim é acessível por veículos de passeio. Após passar pelo Rio Brumadinho, a estradinha segue em constante aclive até o ponto onde a trilha se inicia, a 3.3km do povoado. O veículo pode ser deixado junto ao pé de eucalipto.

PICO DO BARBADO: 2.032m
Disponível no Wikiloc.

Algumas semanas após conhecer o Pico das Almas e do Itobira, era a vez de conhecer o teto do Nordeste. O Pico do Barbado está na divisa entre os municípios baianos de Abaíra e Rio do Pires, podendo ser acessado pelos dois lados, embora a ascensão via Abaíra seja a mais praticada.
No dia 01/06/2018 saí de Andaraí por volta das 10:40 de uma sexta-feira ensolarada. A viagem foi tranquila, embora um pouco demorada, até localidade de Catolés de Cima, que fica a 35km do centro de Abaíra.

Chegando a Catolés de Cima, subimos à esquerda na única esquina e continuamos pela rua até o final. Depois das últimas casas a estradinha meio que termina, mas continua adiante rs. Começa um declive moderado e algumas dezenas de metros adiante a trilha para o pico tem início. Deixamos as motos no início da trilha e demos início à caminhada às 14:25, um pouco tarde para um bate-volta.

A trilha de acesso ao pico é bem consolidada até a forquilha, embora esteja suja em alguns trechos, mas nada que atrapalhe a caminhada ou a orientação. Boa parte da subida é calçada por pedras, sugerindo que por ali passavam tropas montadas. Logo com 560 metros de caminhada passamos pelo primeiro ponto de água, muito provavelmente o único perene. A partir daí tem início uma subida moderada, que vai ziguezagueando serra cima, ganhando altitude rapidamente.


Nas “curvas” da serra passamos a ter um belo visual do vale do Rio Ribeirão e das localidades bem abaixo, além da belíssima Serra do Atalho. A subida é constante, mas bastante sombreada, um pequeno alívio. Com 1.9km de caminhada, às 15:00, passamos por uma cancela velha à esquerda, acesso ao único sítio da região. De primeira não consegui ver qualquer casinha no local, somente um cafezal já judiado. Tampouco havia sinal de gente por ali, mas o sítio é um ponto de abastecimento de água, já que o Riacho Calado (IBGE), que nasce nas encostas do Barbado, passa por trás da casa.

A mata bem viçosa, que nos acompanhou serra acima, termina abruptamente, e passamos a caminhar por campos de altitude. Estamos no local denominado forquilha, com 1.688m de elevação, onde a subida termina e tem início a descida pela outra encosta da serra. Um muro de pedras indica a divisa entre os municípios de Abaíra e Rio do Pires.

Chegamos à forquilha às 15:23, depois de percorrer exatos 3km. Havia uma água mirrada escorrendo pelo chão, mas não o suficiente para beber. Fui informado que este seria o melhor local de acampamento da rota, e realmente é. Existem alguns locais planos, com poucos afloramentos rochosos e com algumas rochas que abrigam do vento. Da forquilha pra cima, encontrar um bom local para camping é uma raridade, então suba leve.

A trilha que até então seguia no rumo noroeste, a partir da forquilha dá uma guinada para sudoeste, para subir a última encosta mais alta da Serra do Barbado. Como a caminhada é sobre lajeados e afloramentos rochosos, a trilha possui marcação discreta, sendo necessário observar a rota no GPS e possíveis totens. A subida final tem início bem pesado, com vários degraus. A medida que se sobe o relevo vai se estabilizando até chegar ao cume. Neste trecho passamos por um ponto de água, que deve secar durante a estiagem. Havia também uma pequena lapa, que pode servir de abrigo em caso de mau tempo.

Em determinado momento, com a subida um pouco mais estável, é preciso ficar atento com uma guinada para direita (sudoeste) que a trilha dá, pois há alguns trilhos visíveis que seguem na direção sul.

Às 16:08 chegamos ao ponto culminante do nordeste brasileiro, onde o GPS marcou 2.033m de elevação, bem próximo da medida de 2.032m da carta topográfica de Livramento do Brumado. Foram 1h43 de caminhada no modo light para percorrer os 4.1km de trilha desde Catolés de Cima até o cume.

Do Pico do Barbado se tem uma visão impressionante da região e ainda fomos contemplados com o bom tempo. Dentre os pontos significativos, destaco: o inconfudível pico pontiagudo do Itobira, ao sul; a elevação proeminente da Serra das Almas, também ao sul; o chapadão formado pela Serra do Atalho e Serra da Tromba, no sentido leste-nordeste; as elevações da Serra de Santana e Serra do Bastião, também no sentido leste-nordeste; o chapadão da região do agropolo, entre Mucugê e Ibicoara, no sentido sudeste; a cadeia montanhosa da Serra do Sincorá e Serra do Esbarrancado, desde as bandas de Ibicoara até Palmeiras, no leque nordeste-sudeste. Tive a sensação de visualizar também o topo do Morrão, a impressionantes 96 quilômetros de distância, em linha reta. Ufa!


O Pico do Barbado tem visual para horas de contemplação, ainda mais com o tempo ensolarado e com poucas nuvens, bem diferentes dos dias anteriores. Como ainda seguiria para Ibicoara e havia subido sem equipamento, o jeito era descer. Iniciamos o retorno por volta das 16:40 e o fizemos em modo speed, chegando ao ponto inicial da trilha após cerca de 1h20.

COMO CHEGAR:

A principal trilha de acesso ao Pico do Barbado tem início nos arredores da localidade de Catolés de Cima, no município de Abaíra. De carro, o acesso é através da rodovia BA-148, sendo que o trevo para Catolés está localizado entre as cidades de Abaíra e Piatã.

Desde o trevo o acesso é feito por estrada de terra em condições medianas, com sinalização decente. São 26km do asfalto da BA-148 até Catolés de Cima, onde a trilha tem início. Sem meio de transporte próprio o acesso é um pouco complicado, sendo necessário verificar o horário das vans até Catolés ou contratar um serviço de táxi ou mototáxi. A empresa Novo Horizonte tem linhas para as cidades de Piatã e Abaíra.

O povoado de Catolés de Cima está a 125km de Livramento de Nossa Senhora e a 150km de Seabra, cidades importantes da região. O aeroporto mais próximo é o de Lençois, a 221km de distância. Todos os acessos são asfaltados até o trevo para Catolés.

Nenhum comentário:

Postar um comentário