Afastados
do Parque Nacional da Chapada Diamantina, na região centro-sul da
Bahia, estão os gigantes do Nordeste brasileiro: Almas, Barbado e
Itobira. Embora careçam de medições oficiais, os dados registrados
nos três locais superam os 1.900 metros de elevação, sendo o
Barbado considerado o mais alto, com 2.032m.
Para
os montanhistas acostumados com as serras do sudeste, que
“facilmente” ultrapassam os 2.000m de elevação, parece pouco.
Pode até ser, mas os visuais dos tetos do Nordeste são tão bonitos
quanto os dos pontos culminantes do Brasil.
Como
é uma região um pouco esquecida, que conta com poucos relatos e
informações, embora os tracklogs sejam fáceis de encontrar, faço
aqui minha parte.
Vale
ressaltar que os picos estão “isolados”, mas existe uma
travessia do Barbado para o Itobira (e vice-versa) que é considerada
de alta dificuldade técnica e com trechos sem trilha consolidada.
PICO
DO ITOBIRA: 1.935m
Disponível
no Wikiloc.
Em
14/04/2018 saí de Andaraí, onde estava morando, com destino a Rio
de Contas, a 180km de distância. Gastei exatas duas horas no
trajeto, chegando a Rio de Contas por volta das 14h e parando para
almoçar na praça principal. O centro histórico é bem bonito e
arrumadinho, sem dificuldades encontrei um local para fazer a
refeição, o almoço saiu por 10 ou 15 reais, não me lembro ao
certo.
A
ideia era pernoitar no Pico do Itobira, que aparentava ter uma boa
área para montar barraca. Então, para reduzir o peso da cargueira,
decidi almoçar de verdade antes de subir e iniciar a caminhada
somente na parte da tarde, já que a trilha não é tão longa. Dito
e feito, almocei e logo em seguida parti em direção ao povoado de
Fazendola, localidade que dá acesso ao pico.
Saindo
do centro de Rio de Contas foram cerca de 22.5km até o povoado de
Fazendola. O trajeto é feito por uma estrada de terra em boas
condições, trafegável por qualquer veículo. As bifurcações são
bem sinalizadas, embora algumas não contenham placas sinalizando
explicitamente Pico do Itobira. Então, a princípio, NÃO siga as
placas para o Pico das Almas, SIGA o caminho para Ponte do Coronel e
Fazendola.
Às
14:49 cheguei a Fazendola, um povoado de uma rua e algumas casinhas.
Quase no fim da rua dobrei à esquerda, tomando o caminho para uma
localidade chamada Fazenda Carambola. Localmente esta localidade pode
ter outro nome, um senhor que encontrei no caminho me falou um nome
totalmente diferente disso, mas acredito que era o baianês avançado
dele rs. Em todos os casos, o nome Fazenda Carambola, ou só
Carambola, é o que consta na carta topográfica do IBGE.
Como
estava de moto, fui até descampado onde a estradinha termina e
deixei ela estacionada junto ao muro de pedras. Enquanto finalizava
os detalhes para iniciar a subida, reparei num papelão e num machado
que estavam bem onde a trilha começava. Muito provavelmente alguém
estava por ali. Logo que finalizei a preparação, um senhor aparece
puxando um pedaço de árvore rs. Quando me avistou ele largou a
madeira e veio caminhando em minha direção. Apresentou-se e começou
a conversar. Mesmo ele repetindo o nome a quase todo instante, neste
momento me falha a memória. Falou que morava ali na Carambola com a
família, que todo mundo ali era família. Falou das irmãs, das
primas e sobrinhas que moravam por ali. Contou que mais cedo tinha
ido buscar pequi (!!! nem sabia que existia nesta região) num local
distante. Por fim, falou pra que eu passasse na casa dele na volta,
pra tomar um café.
Pelo
horário, tinha certa pressa pra iniciar a subida, pois não sabia
como seria dali até o topo. Então, depois de uns bons 15 minutos de
papo (ou mais), me despedi e iniciei a trilha. O senhor ainda me
acompanhou por uns metros, pois ia recolher o restante da lenha que
estava no caminho. A trilha está bem consolidada nesta parte
inicial, entre afloramentos rochosos vou avançando por corredores
encravados entre as paredes da Serra da Mesa. Às 15:32 cruzo um muro
de pedras e cinco minutos mais tarde chego ao Riacho do Gê (segundo
carta da região). A travessia é um pouco confusa, embora o nível
do riacho seja pequeno, mesmo com as chuvas frequentes dos últimos
dias, a trilha se embaralha com as pedras reviradas do leito. Depois
de observar um pouco encontrei uma passagem fácil, pulei algumas
pedrinhas e logo estava na outra margem, sem molhar os pés.
Agora
a trilha segue no sentido oposto ao do riacho, por baixo da mata
ciliar. Há um pequeno descampado que pode servir como área de
acampamento. O trajeto segue no rumo nordeste, acompanhando o riacho
serra cima. Durante boa parte da subida, o riacho sempre estará à
direita. A subida começa por um trecho com algumas árvores, que
oferecem alguma sombra. Às 15:50, depois de pouco mais de 1.1km,
chego a uma tronqueira, onde faço uma pequena parada para
hidratação.
Algumas
dezenas de metros depois da tronqueira, passo por um pequeno afluente
do riacho, que deve secar com a estiagem na região. A subida é
moderada e as árvores vão ficando mais raras de encontrar. Sigo
subindo entre campos rupestres e com 1.4km de caminhada olho para
cima e começo a visualizar meu destino: Pico do Itobira. O tempo
estava bem nublado, mas as nuvens estavam altas e a falta de sol
contribuía para um melhor qualidade na caminhada. A face
sul-sudoeste me fez lembrar da Devils
Tower, no estado norte-americano do Wyoming.
Adiante
cruzo mais um muro de pedras e os afloramentos rochosos dão lugar a
um campo de altitude com menos rochas aparentes. Este trecho é um
pouco confuso na navegação, já que existem diversas trilhas e nem
todas levam ao mesmo lugar. É preciso ficar atento ao GPS e não
perder o rumo nordeste. Depois de passar à direita de um capão de
mata, a trilha se reaproxima do riacho.
Às
16:29, depois de 2.5km de caminhada, entro em um pequeno trecho de
mata para cruzar o riacho logo em seguida. A subida fica um pouco
mais suave e a trilha segue agora à direita de uma mata bem viçosa.
Devido às chuvas dos dias anteriores este trecho estava bem úmido,
com muita água correndo. E não era pra menos, afinal tratam-se das
nascentes do Riacho Gê.
Aos
poucos a trilha pelos campos de altitude vai se estabilizando. Na
lateral da trilha uma pequena serpente me chamada atenção, ela
“flutuava” sobre os tufos de capim e rapidamente se escondeu.
Quando começa uma ligeira descida é preciso deixar o rumo norte e
dar uma guinada para oeste, tomando à esquerda na bifurcação. É o
ataque ao Pico do Itobira. O GPS mostrava 1.713 metros de elevação,
o que indicava a subida final com um ganho de elevação superior aos
200 metros.
A
trilha segue agora em meio a uma mata de samambaias, com algumas
bromélias com folhas espinhentas em forma de serra. Um facão pode
ajudar a dar uma limpada nas samambaias, que deve ser uma das
espécies mais odiadas pelos montanhistas rs. Aos poucos as
samambaias ficam para trás e a subida passa a ser por afloramentos
rochosos. Alguns degraus e uma subida bem acentuada até o topo da
serra. Foram 28 minutos desde a bifurcação, na base do pico, até a
área de acampamento, que fica no topo.
O
cume verdadeiro, porém, fica um pouco mais para o norte do
acampamento. Deixei a mochila protegia da garoa e segui em direção
ao cume, onde cheguei às 17:22. O GPS marcou 1.935m, bem menos que
os 1.970m que já vi em alguns relatos. Consultando a carta
topográfica de Livramento de Nossa Senhora, no entanto, a maior
elevação da Serra da Mesa possui 1.930m, mas não é uma medida
confirmada.
Do
verdadeiro Pico do Itobira pude ver poucas coisas, logo a garoa
começou a aumentar e o vento ficou mais forte, me obrigando a descer
da rocha que havia subido. Em alguns pontos pega sinal de VIVO e
imagino que funcione CLARO também.
Com
o tempo piorando, tratei logo de montar acampamento e me entocar na
barraca. Durante a noite garoa e chuva praticamente ininterruptas. O
vento também era uma constante, mas a barraca suportou bem.
A
manhã seguinte amanheceu bem fechada, com garoa praticamente
incessante. Enrolei na expectativa do tempo melhorar, mas nada. Então
por volta das 10:30 desci. Em bom ritmo e com poucas paradas gastei
1h30 até o ponto onde havia deixado a moto.
DICAS
E INFOS:
A
trilha de acesso ao Pico do Itobira tem 4km de extensão, 5.3km se
considerarmos o início junto a última casa da Fazenda Carambola. A
dificuldade técnica é moderada para experientes, podendo ser alta
para iniciantes. Destaque para o terreno irregular e alguns degraus
de tamanho mediano, onde talvez seja preciso do auxílio dos braços
para subir.
Boa
disponibilidade de água pelo caminho, já que boa parte da subida
acompanha o leito do Riacho Gê. No topo do Itobira sinal de
telefonia móvel da operadora VIVO, talvez funcione CLARO também. No
topo tem uma área de acampamento protegida por um pequeno muro de
pedras, cabem duas ou três barracas pequenas.
Acesso
livre e gratuito ao Pico do Itobira, embora este não esteja inserido
em nenhuma unidade de conservação.
COMO
CHEGAR:
A
cidade de referência para chegar ao Pico do Itobira é a pequena Rio
de Contas, a sudoeste do Parque Nacional da Chapada Diamantina. Outra
cidade de referência na região é Livramento de Nossa Senhora. O
aeroporto mais próximo é o de Vitória da Conquista, a 215km, já a
capital Salvador está a 615km.
Saindo
do centro histórico de Rio de Contas, é preciso seguir em direção
ao Açude Brumado. Depois de cruzar a barragem, seguindo pela estrada
de terra, há uma bifurcação sinalizada. Nela é preciso seguir à
direita, sentido Ponte do Coronel e Fazendola. Depois da Ponte do
Coronel (13,5km), basta seguir pela estrada principal, observando a
sinalização para o povoado de Fazendola e Pico do Itobira. Chegando
ao povoado (22.6km) é preciso entrar à esquerda na única esquina.
Até o povoado de Fazendola a estrada está em boas condições.
Depois
do povoado a estrada, bem cascalhada, piora a medida em que se
aproxima do início da trilha. Alguns quilômetros após a Fazendola
há algumas casinhas ao lado da estradinha, numa localidade conhecida
como Fazenda Carambola. Até a última casa são 6.3km, ponto
sugerido para estacionar os veículos. Se estiver de moto, pode segui
por pouco mais de 1km até o ponto onde a trilha realmente tem
início.
PICO
DAS ALMAS: 1.945m
Disponível
no Wikiloc.
Depois
de descer do Pico do Itobira, vi que o tempo estava melhorando e
decidi fazer um ataque ao Pico das Almas, pois pretendia retornar a
Andaraí logo depois. Saí da base do Itobira por volta das 12:10 e
joguei o caminho mais curto no GPS, que me mandou por umas estradas
bem alternativas, com pitadas de trilha. Para quem deseja fazer o
trajeto Itobira x Almas (e vice-versa), o ideal é retornar pelo
caminho principal sentido Rio de Contas, até a bifurcação que
separa o caminho para os dois picos, próximo ao Açude Brumado.
Às
12:59 passei pela Fazenda Brumadinho, um pequeno povoado tal qual a
Fazendola. Na entrada do povoado tem uma mata-burro e uma cancela que
fica sempre aberta, no canto uma placa informa que o acesso ao Pico
das Almas só é permitido com guia local. No entanto, não tive
nenhum problema ao adentrar no local, até porque não se trata de
propriedade particular e sim de uma estrada de rodagem que dá acesso
a alguns sítios e fazendas da região.
Em
menos de 10 minutos chego ao ponto onde a trilha se inicia, deixo a
moto na sombra de um solitário eucalipto e esvazio a cargueira,
deixando somente o necessário para a subida. Às 13:20 começo a
caminhada para o Pico das Almas. O tempo estava bem melhor do que no
dia anterior, com o sol aparecendo em alguns instantes, o que
contribuía para a subida.
Saindo
do eucalipto, subo a estradinha por mais alguns metros até deixá-la
em favor de uma trilha que sai à esquerda. Em terreno estável vou
avançando para oeste, por um vale encaixado na base da Serra das
Almas. À esquerda um paredão que parece intransponível, o que me
faz pensar em como será essa subida até o pico rs. Passo por um
ponto de água e, após 1.9km, a trilha dá uma guinada para o sul,
deixando o vale encaixado e passando a subir por uma trilha discreta
entre afloramentos rochosos.
Após
a subida estabilizar, sigo por campos de altitude e passo por algumas
nascentes, trechos que estavam alagados. A trilha bem demarcada vai
se aproximando de alguns afloramentos rochosos que já me fazem
pensar no Espinhaço mineiro. A trilha desemboca e um corredor entre
dois desses afloramentos, depois de cruzar uma tronqueira, entro à
direita em um outro corredor.
Saio
em um amplo campo de altitude, local conhecido como Vale do Queiroz.
A trilha vai de encontro a um dos afluentes do Rio Brumado e segue
paralelo a este por algumas dezenas de metros. Depois de 2.9km de
caminhada, às 14:05, cruzo o riacho de águas cristalinas e começo
uma ligeira subida em meio a uma matinha de porte arbustivo. Ao sair
da matinha desemboco em um dos trechos mais interessantes da
caminhada: um campo de altitude com diversos afloramentos rochosos à
esquerda da trilha. Diferente do Espinhaço mineiro, aqui eles saem
do chão praticamente em ângulo reto. Mesmo não tão perto das
fontes de água, esta é uma das melhores áreas para se acampar.
No
horizonte toda a desenvoltura da Serra das Almas, numa subida que,
com certeza, não seria fácil. Vou me aproximando de um capão de
mata que cruzo em seguida. Após a mata me aproximo de um córrego,
também afluente do Rio Brumado. Era um pouco largo para atravessar
pulando e um pouco fundo pra não tirar as botas. O tronco retorcido
de uma árvore na beira do córrego é a ponte ideal, mas a travessia
exige um pouco de equilíbrio. Depois de exatos 4km, às 14:21 chego
aos pés Serra das Almas.
A
subida é encardida por afloramentos rochosos, com muitos degraus,
sendo necessário o auxílio dos braços em algumas partes. Depois de
360 metros o primeiro lance de subida termina e começa um breve
platô, seguido por outra forte subida. Em franco aclive ganho
elevação pela Serra das Almas e sou recompensado por uma paisagem
de encher os olhos. Pra quem está acostumado com a horizontalidade
do Parque Nacional da Chapada Diamantina e com os afloramentos à 45º
para oeste do Espinhaço mineiro, aquelas rochas apontando para o
céu, com praticamente 90º de inclinação chamam a atenção.
Vou
me aproximando de uma grande rocha, que de longe parece
intransponível, mas ao chegar perto percebo que o caminho continua
por uma fenda, que passa entre os dois imensos blocos. Por alguns
instantes a subida estabiliza e tenho a minha frente a última súbida
até o cume. A trilha segue em direção ao paredão e parece
contorná-lo. Na verdade uma trilha perdida até segue como se
contornasse o pico, mas é preciso deixar esse caminho de lado e dar
início a uma escalaminhada até o topo.
Este
trecho final possui 340 metros de extensão, a trilha é discreta
pois a caminhada é sobre a rocha. Com algumas escalaminhadas e
alguns lances de exposição à altura sigo em subindo e às 15:18
chego ao ponto culminante da Serra das Almas. O GPS marcava 1.945
metros de elevação, após uma caminhada que totalizou 5.7km.
Pico
das Almas, sem sombra de dúvida, tem um dos visuais mais
interessantes da Chapada Diamantina. Poderia ficar ali observando,
ouvindo somente o vento, por várias horas. Como não pretendia
pernoitar por ali, afinal nem tinha subido com o material de camping,
por volta das 15:45 iniciei a descida. Foram cerca de 1h30 até
retornar ao ponto onde havia estacionado a moto.
COMO
CHEGAR:
A
cidade de referência para chegar ao Pico do Itobira é a pequena Rio
de Contas, a sudoeste do Parque Nacional da Chapada Diamantina. Outra
cidade de referência na região é Livramento de Nossa Senhora. O
aeroporto mais próximo é o de Vitória da Conquista, a 215km, já a
capital Salvador está a 615km.
Saindo
do centro histórico de Rio de Contas, é preciso seguir em direção
ao Açude Brumado. Depois de cruzar a barragem, seguindo pela estrada
de terra, há uma bifurcação sinalizada. Nela é preciso seguir à
esquerda, como indicam as placas para o Pico das Almas. Daí
basta seguir pela estradinha principal, tomando à esquerda nas
bifurcações importante, até chegar à Fazenda Brumadinho, um
povoado a 14,2km do centro. Até Brumadinho a estrada está em boas
condições para qualquer veículo. A partir do povoado a estrada
piora bastante, ainda assim é acessível por veículos de passeio.
Após passar pelo Rio Brumadinho, a estradinha segue em constante
aclive até o ponto onde a trilha se inicia, a 3.3km do povoado. O
veículo pode ser deixado junto ao pé de eucalipto.
PICO
DO BARBADO: 2.032m
Disponível
no Wikiloc.
Algumas
semanas após conhecer o Pico das Almas e do Itobira, era a vez de
conhecer o teto do Nordeste. O Pico do Barbado está na divisa entre
os municípios baianos de Abaíra e Rio do Pires, podendo ser
acessado pelos dois lados, embora a ascensão via Abaíra seja a mais
praticada.
No
dia 01/06/2018 saí de Andaraí por volta das 10:40 de uma
sexta-feira ensolarada. A viagem foi tranquila, embora um pouco
demorada, até localidade de Catolés de Cima, que fica a 35km do
centro de Abaíra.
Chegando
a Catolés de Cima, subimos à esquerda na única esquina e
continuamos pela rua até o final. Depois das últimas casas a
estradinha meio que termina, mas continua adiante rs. Começa um
declive moderado e algumas dezenas de metros adiante a trilha para o
pico tem início. Deixamos as motos no início da trilha e demos
início à caminhada às 14:25, um pouco tarde para um bate-volta.
A
trilha de acesso ao pico é bem consolidada até a forquilha, embora
esteja suja em alguns trechos, mas nada que atrapalhe a caminhada ou
a orientação. Boa parte da subida é calçada por pedras, sugerindo
que por ali passavam tropas montadas. Logo com 560 metros de
caminhada passamos pelo primeiro ponto de água, muito provavelmente
o único perene. A partir daí tem início uma subida moderada, que
vai ziguezagueando serra cima, ganhando altitude rapidamente.
A
mata bem viçosa, que nos acompanhou serra acima, termina
abruptamente, e passamos a caminhar por campos de altitude. Estamos
no local denominado forquilha, com 1.688m de elevação, onde a
subida termina e tem início a descida pela outra encosta da serra.
Um muro de pedras indica a divisa entre os municípios de Abaíra e
Rio do Pires.
Chegamos
à forquilha às 15:23, depois de percorrer exatos 3km. Havia uma
água mirrada escorrendo pelo chão, mas não o suficiente para
beber. Fui informado que este seria o melhor local de acampamento da
rota, e realmente é. Existem alguns locais planos, com poucos
afloramentos rochosos e com algumas rochas que abrigam do vento. Da
forquilha pra cima, encontrar um bom local para camping é uma
raridade, então suba leve.
A
trilha que até então seguia no rumo noroeste, a partir da forquilha
dá uma guinada para sudoeste, para subir a última encosta mais alta
da Serra do Barbado. Como a caminhada é sobre lajeados e
afloramentos rochosos, a trilha possui marcação discreta, sendo
necessário observar a rota no GPS e possíveis totens. A subida
final tem início bem pesado, com vários degraus. A medida que se
sobe o relevo vai se estabilizando até chegar ao cume. Neste trecho
passamos por um ponto de água, que deve secar durante a estiagem.
Havia também uma pequena lapa, que pode servir de abrigo em caso de
mau tempo.
Em
determinado momento, com a subida um pouco mais estável, é preciso
ficar atento com uma guinada para direita (sudoeste) que a trilha dá,
pois há alguns trilhos visíveis que seguem na direção sul.
Às
16:08 chegamos ao ponto culminante do nordeste brasileiro, onde o GPS
marcou 2.033m de elevação, bem próximo da medida de 2.032m da
carta topográfica de Livramento do Brumado. Foram 1h43 de caminhada
no modo light para percorrer os 4.1km de trilha desde Catolés de
Cima até o cume.
Do
Pico do Barbado se tem uma visão impressionante da região e ainda
fomos contemplados com o bom tempo. Dentre os pontos significativos,
destaco: o inconfudível pico pontiagudo do Itobira, ao sul; a
elevação proeminente da Serra das Almas, também ao sul; o chapadão
formado pela Serra do Atalho e Serra da Tromba, no sentido
leste-nordeste; as elevações da Serra de Santana e Serra do
Bastião, também no sentido leste-nordeste; o chapadão da região
do agropolo, entre Mucugê e Ibicoara, no sentido sudeste; a cadeia
montanhosa da Serra do Sincorá e Serra do Esbarrancado, desde as
bandas de Ibicoara até Palmeiras, no leque nordeste-sudeste. Tive a
sensação de visualizar também o topo do Morrão, a impressionantes
96 quilômetros de distância, em linha reta. Ufa!
COMO
CHEGAR:
A
principal trilha de acesso ao Pico do Barbado tem início nos
arredores da localidade de Catolés de Cima, no município de Abaíra.
De carro, o acesso é através da rodovia BA-148, sendo que o trevo
para Catolés está localizado entre as cidades de Abaíra e Piatã.
Desde
o trevo o acesso é feito por estrada de terra em condições
medianas, com sinalização decente. São 26km do asfalto da BA-148
até Catolés de Cima, onde a trilha tem início. Sem meio de
transporte próprio o acesso é um pouco complicado, sendo necessário
verificar o horário das vans até Catolés ou contratar um serviço
de táxi ou mototáxi. A empresa Novo Horizonte tem linhas para as
cidades de Piatã e Abaíra.
O
povoado de Catolés de Cima está a 125km de Livramento de Nossa
Senhora e a 150km de Seabra, cidades importantes da região. O
aeroporto mais próximo é o de Lençois, a 221km de distância.
Todos os acessos são asfaltados até o trevo para Catolés.
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