04/04/2020

Travessia Marins x Itaguaré


Nos fins da alta temporada de montanha, lá na virada de agosto pra setembro, embarcamos para mais uma travessia clássica do montanhismo brasileiro: Marins x Itaguaré. E como não ficamos preso ao usual, aproveitamos a estadia na Mantiqueira para atacar outros dois picos: Maria e Mariana.

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1º dia: Refúgio Marins x Pedra Redonda

Boa parte do grupo deixou o Terminal JK, em Belo Horizonte, por volta das 21:30 de sexta-feira. Alguns gaiatos, eu incluído, embarcaram em Contagem e mais uma dupla em Betim. Nessa formação seguimos até Três Corações, já no sul do estado, onde embarcou o último integrante da travessia. Bonde completo, rompemos o estradão até os arredores de Marmelópolis, onde chegamos por volta das 05:00.

Desembarcamos no Refúgio Marins, de onde seguiríamos a pé serra cima. De cara o que deu pra perceber foi que a montanha estaria cheia, muitos carros estacionados e dois grupos já desembarcados. Como as áreas para acampamento não sobram nesta travessia, tudo indicava que teríamos uma batalha a 2.000 metros de altitude rs.

Pensando nisto, Ernani logo partiu com boa parte do grupo, enquanto alguns gatos pingados e eu enrolávamos no café da manhã e na arrumação. Às 06:04, com o dia querendo clarear, deixamos o refúgio por uma trilha no sentido leste, que logo embrenha em uma mata úmida. Em minutos passo por um ponto de água e tem início um forte aclive. Dez minutos mais tarde chego à estradinha, já com a caminhada rumando para norte-nordeste. Após uma porteira, a estradinha fica bastante precária, com o aclive seguindo constante.

Manhã melhor impossível

Nas poucas frestas que existiam na mata éramos contemplados com o belíssimo visual da Mantiqueira. A temperatura estava bem mais agradável do que imaginei, fazendo com que a caminhada ficasse ainda mais gostosa. Em 37 minutos de caminhada batemos os 1.800 metros de altitude, quando alcançamos o Morro do Careca. A nossa frente as escarpas da Mantiqueira enchiam os olhos. Bem abaixo, no fundo de uma das vertentes, era possível ver alguns sítios, no que devia ser a localidade de Marins.

Resolvemos dar um pulo no ponto de água do Morro do Careca, então continuamos a seguir pela estradinha. Em meio a um declive, fui consultar o GPS e percebi que passamos batidos pelo acesso. Lá estávamos nós retornando ao refúgio! Rota corrigida, voltamos algumas centenas de metros e tomamos uma trilha discreta à esquerda. A dificuldade é moderada para experientes, entre os principais Passamos próximo a uma área de acampamento e, às 06:47, chegamos ao tal ponto de água, uma das nascentes que abastecem o Córrego do Sagui.

A água era bem pouca, mas o suficiente para abastecer o pouco que eu havia tomado da minha garrafinha. Aliás, a paradinha ali foi providencial, pois tinha esquecido uma das minhas garrafinhas na van e tinha partido pra trilha só com 2L. Uma aposta arriscada, mas que no fim deu certo.

Retornamos pela trilha de acesso e, próximo da área de acampamento, pegamos à esquerda, passamos entre duas barracas que lá estavam montadas. De agora em diante a trilha realmente é uma trilha. A estradinha fica pra trás e passamos a caminhada entre os tufos de capim elefante. Os afloramentos também surgem e junto com eles as subidas encardidas bem características da Maringuaré. Desde o Morro do Careca são pouco mais de 600 metros de ganho de elevação até o topo do Marins.

No meio dessa ladeira reencontramos o restante do nosso grupo, agarrado em um dos primeiros trechos de escalaminhada: uma subida quase vertical com aproximadamente 3 metros de altura. Subimos mais um pouco e, numa área um pouco mais convidativa, fizemos uma ligeira pausa para lanche. Passava das 08:15 e até ali tínhamos andado 4,6km.

No retorno à caminhada, subimos mais um pouco e alcançamos a base do Marins. A leste chamava atenção o Marinzinho, onde passaríamos mais tarde. Agora era hora de tomar o rumo sul, para conquistar o pico dos Marins. Já no começo da subida observávamos o grupo do Caveiras da Montanha, que tinha largado bem na nossa frente. Após esconder as cargueiras em meio aos tufos de capim de algum canto da trilha, iniciamos a subida.

A subida dos Marins é o verdadeiro “toca pra cima”. Não há trilha definida e nem há como ter: prevalecem os afloramentos rochosos a esta altura do campeonato. A melhor forma de subir, com o tempo bom, é observar por onde é mais fácil subir e manter sempre o rumo, para não rodear tanto no caminho. Sem deixar a pressão baixar, subimos no pique, passamos pelos Caveiras e alcançamos os 2.417 metros de altitude dos Marins às 09:18, depois de percorrer 6,1km.

De frente para o Marins

Depois de um breve descanso e contemplação, fui logo xeretar o acesso aos picos Maria e Mariana, que se destacavam a sul e sudoeste, respectivamente, do topo dos Marins. Chamo o Robson e começo a descer por uma trilha com aparência de nova. Logo chegamos a uma fenda, uma espécie de chaminé formada por dois blocos rochosos separados por coisa de 1 metro. Opto por descer igual Papai Noel, pela chaminé, enquanto Robson relembra as andanças no Pico do Itambé e se contorce pelos buracos entre as rochas da base.

Cada um a sua maneira, passamos por aquele que é o maior desafio do acesso aos picos, seguimos perdendo altitude até chegar a um colo entre o Maria e o Marins. Agora não tem mistério, basta tocar pra cima entre afloramentos e capins. Às 09:48 chegamos aos 2.391 metros de altitude do pico Maria, com uma belíssima vista do vale do Paraíba do Sul e um visual ainda mais interessante do Mariana.

A ventania ali era surreal e realmente parecia que seríamos carregamos serra abaixo. Ficamos ali contemplando por alguns minutos, enquanto Hudson “Papa” tentava nos alcançar. Também rimos um pouco do André, que empacou em certo ponto da descida dos Marins e ficou lá contemplando o barranco por um par de horas rs.

Trio formado, hora de mais um ataque, desta vez ao pico Mariana, a sudoeste dali. Retornamos até o colo entre os picos Marins e Mariana, onde tomamos uma trilha discreta que seguia à esquerda, no rumo pretendido. A caminhada parece simples até certo ponto, quando a trilha se mistura com os afloramentos rochosos e temos pela frente um belo de um precipício antes de iniciar a subida final do Mariana. Caminho certo ou errado? O fato que estava bem perigoso aquele trecho ali, já que se tratava de um forte declive sobre rocha nua. Sem achar passagem, decidimos por retornar e assim foi por breves minutos, quando vislumbrei uma possível trilha que descia à direita.

Depois de uma breve conversa, decidi arriscar e consegui arrastar o Robson, que estava preocupado com a questão do tempo. O Papa já estava na pegada, então foi só seguir o fluxo rs. A descida é bem forte por uma espécie de fenda na serra. No entanto a vegetação está bem presente no local, com alguns arbustos e muitas gramíneas. Degrau por degrau vamos descendo, até que a trilha estabiliza e passa a ladear o paredão, do qual estávamos no topo havia alguns minutos. Mais a frente tomamos uma trilha que sobe à direita e chegamos à base do Mariana. Dali em diante era uma subida no rumo, pelos afloramentos rochosos, bem semelhante à subida do pico do Baiano, na Serra do Caraça.

Às 10:33 chegamos aos 2.332 metros do pico Mariana, até ali tínhamos percorrido 7,4km. Ventania igual ao pico Maria. Visual arrebatador do vale do Paraíba do Sul e um ponto de vista interessante dos picos Marins e Maria. Assinamos o livro, que estava em condições de dar dó, e ficamos mais alguns minutos por lá, contemplando a beleza da Mantiqueira.

A volta ao Marins foi tranquila, dentro do possível, gastamos exatos 40 minutos para retornar ao ponto culminante daquelas bandas. O pico já estava bem movimentado, com muitas barracas montadas, outras sendo montadas naquele instante e mais ainda por chegar. Não nos demoramos muito por ali e, diante do movimento, acabei esquecendo de assinar o livro de cume.

Rompemos serra abaixo até o “esconderijo” onde descansavam nossas cargueiras. Foi um dos melhores reencontros, diante da fome que estava de matar. Após um belíssimo lanche, às 12:32 deixamos a base dos Marins, sob um sol forte que me lembrava das pernadas no Espinhaço.

Seguimos agora no rumo nordeste-leste, para o topo do Marinzinho. A caminhada segue em aclive pelos afloramentos rochosos. Em determinado ponto, deixamos um possível caminho que seguia à direita, na cumeada, em favor de uma trilha que seguir ladeando o pico. O caminho se mostrava interessante, com relevo mais suave, mas em determinado momento notei que continuássemos naquela, perderíamos o pico do Marinzinho. Hora de recalcular a rota!

Deixamos o rumo nordeste para virar 90º à direita e começar a subir a vertente. A dificuldade maior foi vencer um degrau alto logo na saída da trilha discreta que estávamos. Vencido o degrau, seguimos subindo pelos afloramentos rochosos até interceptar uma trilha mais acima. A trilha faz uma espécie de “U”, primeiro voltando no sentido sudoeste e depois retomando para nordeste. E tão logo retomamos o rumo desejado, já alcançamos o cume do Marinzinho, com seus 2.385 metros. Chegamos ali às 13:11, depois de percorrer 10,5km.

Pedra Redonda e Itaguaré

Do alto do Marinzinho temos um dos visuais mais espetaculares de toda a travessia. De um lado o pico dos Marins, do lado oposto o imponente pico do Itaguaré. Entre os dois, formando uma meia lua ao sul, a depressão do vale do Paraíba, com a Serra do Mar do outro lado. E o tempo estava qualquer coisa sensacional, possibilitando um visual completo de toda a região, sem uma nuvenzinha sequer para atrapalhar.

Gastamos mais um tempo ali, conversamos com um guia e um casal que estavam na mesma jornada que a nossa e comemos um pacote de biscoito maria. A esta altura o restante dos companheiros já deviam estar arranchados ou próximos de arranchar, pra lá da Pedra Redonda.

Às 13:44 retornamos à caminhada. Foram pouco mais de 100 metros até chegar na descida íngreme da face leste do Marinzinho, normalmente considerada um lance de corda. O guia com o casal estava a nossa frente, então esperamos os três descer. Após auxiliar o guia com desenlace da corda que eles utilizaram, chegou a nossa vez. Como as cordas que lá estão já têm alguns anos de vida, optei por descer no melhor estilo cabra da montanha. Desescalada ligeiramente complicada, diga-se de passagem. Porém, fazendo os movimentos corretos, chega-se ao pé da parede com segurança. Na sequência, Robson se apoiou na corda e o Papa optou pelo modo homem-aranha rs.

Vencido o lance de corda sem corda, enfrentamos uma pesada descida até o fundo da encosta, de onde começa uma subida igualmente forte. Nessa subida passamos por algumas pessoas e uma pequeníssima área de acampamento. Adiante passamos também pela Pedra Redonda, um grande totem que pode ser observado em vários momentos da travessia.

Na descida após a Pedra Redonda ultrapassamos o grupo do Caveiras e reencontramos o nosso pessoal estirado em uma área de acampamento relativamente espaçosa. As barracas já estavam montadas e o povo só proseando. Chegamos às 14:55, após 12,2km percorridos. Durante o resto do dia fizemos só prosear e caçar uma sombra pra fugir do calorão do fim de agosto na Mantiqueira.

No fim da tarde foi hora de servir a janta e subir mais um morro pra ver um por do sol espetacular. A noite seguiu quente e foi até difícil dormir com vários apetrechos de inverno. Durante a madrugada uma chuvinha caiu e amenizou a caloreira, assim pudemos dormir confortavelmente.

Neste dia caminhamos 12,2km.

2º dia: Pedra Redonda x Base Itaguaré

Após o refresco durante a madrugada, levantamos cedo para apreciar o sol nascendo dos arredores do acampamento. Tão logo o sol saiu, as nuvens tomaram conta do horizonte. Retornamos ao acampamento para o desjejum e para a desmobilização. Às 07:42 deixamos o local de acampamento, afugentados por uma chuva que começava a cair.

Alvorecer

Vamos avançando no rumo nordeste, molhando por completo entre os enormes capins que fechavam a trilha. A trilha segue em declive, com alguns degraus e muitos caminhos entre os capins. Mantendo a rota desejada, pouco mais de 1km após o início chegamos a uma área de acampamento, onde uma turma juntava coragem pra começar a pernada. Mais a frente tomamos à esquerda numa bifurcação e passamos por uma área de acampamento ampla.

Em um terreno sem muitas variações de altitude, vamos seguindo num bom ritmo, agora sem a presença da chuva. No horizonte o pico do Itaguaré vai ficando mais nítido e as nuvens vão espalhando. Do lado mineiro temos o belo visual dos mares de morros característicos da região sul.

Às 09:13, depois de 2,6km percorridos, tivemos o primeiro visual da fenda no topo do Itaguaré: era o pulo do gato! Mesmo distante era possível ver com nitidez as rochas entaladas nas fendas que permeiam o pico. Depois de avistar o que teríamos pela frente, passamos por uma outra área de acampamento ampla e iniciamos uma descida acentuada. Ao final da descida iniciamos a subida do pico do Itaguaré, que é o trecho mais técnico do segundo dia de caminhada. Começamos passando por baixo de blocos rochosos, sendo que em um deles é preciso tirar a cargueira para dar conta de passar. O verdadeiro túnel da Mantiqueira!

Itaguaré e a fenda

Após os túneis o aclive ganha alguns trechos mais importantes, onde praticamos novamente uma escalaminhada básica. Vamos ganhando altitude e rapidamente chegamos à base do pico, quando o relógio marcava 10:37. Deixamos a carga por ali mesmo e todo o grupo iniciou o ataque. A subida do Itaguaré se assemelha a dos Marins: é por aderência sobre os afloramentos rochosos, logo, o jeito é seguir o famoso “toca pra cima”, dando preferência para as passagens mais tranquilas.

Passamos por um ponto de escalaminhada e, dez minutos após o início do ataque, chegamos ao temido pulo do gato. Bom, a passagem nada mais é que uma das fendas do topo do Itaguaré. A fenda deve ter quase dois metros de largura, mas pra facilitar a vida dos montanhistas há uma pedra entalada na boca da fenda. O porém é que a pedra não é plana, a parte voltada pra cima é como se fosse o topo de um triângulo, isto é: o bloco é mais elevado ao centro e possui descaída dos dois lados. Deu pra entender? Se não deu, saiba: nada demais para quem não tem medo de altura rs.

O Papa e eu fomos os primeiros a passar, depois foi sentar e ver o restante do grupo passando naquele que era considerado o ponto mais perigoso da rota. Depois do pulo a trilha segue um pouco mais técnica que o normal, com alguns aclives mais fortes e pontos de escalaminhada até o cume verdadeiro do Itaguaré. E, aí sim, para acessar o cume verdadeiro, onde está o livro, há um último desafio, que é superar mais uma fenda. Embora bem menos perigosa que a primeira, esta sim exige um pouco mais de técnica. Ou a pessoa sobe rebocada/empurrada ou sobe pulando da rocha inferior para a rocha superior (onde está o livro). É uma conquista mais técnica que o normal? É sim! Porém o perigo não é iminente. Mesmo após as chuvas da manhã, as rochas por onde passamos apresentavam uma ótima aderência, não havendo qualquer risco de escorregões nesses trechos mais críticos.

Às 10:54, portanto, alcançamos o quarto cume da rota: Itaguaré. Até ali a caminhada tinha sido de 4,2km em ritmo tranquilo. O tempo não estava como no dia anterior, mesmo assim era possível desfrutar do belo visual da Mantiqueira, com destaque para o pico dos Marins e os cumes da Serra Fina.

Marinzinho e Marins

Às 11:33 iniciamos a descida, que correu de forma tranquila. Na base fizemos uma breve parada e prosseguimos na sequência. Passamos por uma área de acampamento na base do pico e nos aproximamos do ponto de água. Devido ao calor na serra e ao longo período de estiagem, tinha minhas dúvidas sobre encontrar água ali. Alguns minutos mais tarde as dúvidas se confirmaram: somente algumas poças de água parada no que seria a fonte do Itaguaré. Ninguém do grupo arriscou pegar água no local, nem para tratar, mesmo com alguns integrantes já sofrendo bastante com a seca. Bom, acho que ninguém vai morrer se andar mais 2km, não é mesmo? Pelo menos assim esperava rs.

Seguimos avançando pelos afloramentos rochosos, prestando atenção nos totens deixamos por ali. Mais a frente um caminho começa a descer a serra no rumo norte. Após alguns metros de descida, dou uma conferida no GPS e percebo que a rota não é por ali. Retornamos aqueles metros e tomamos o rumo correto, seguindo para nordeste. O trecho de afloramentos rochosos pós-Itaguaré tem essa ligeira dificuldade de navegação, já que existem algumas trihas “erradas” e a sinalização é precária.

Os afloramentos ficam para trás e embrenhamos numa viçosa mata atlântica, que significava proximidade do ponto de água e um alívio para o calor do meio do dia. Desci num ritmo forte, seguido de perto pela Edilaine, mas nós dois fomos ultrapassados pelo Cowboy, que descia a serra feito bitrem carregada e sem freio rs. Com algumas paradas para aliviar a pressão nas coxas, às 12:51 chegamos ao bendito ponto de água. E pensa numa água boa!

Acredito que bebi uns 2L d’água ali. Fora o banho para dar uma aliviada no calor. Ficamos bom tempinho parados no local, esperando também que todo o grupo se reunisse. Alguns, calejados pela descida, preferiram seguir direto para o fim da travessia, que estava próximo, a fim de evitar o risco do sangue esfriar e as juntas travarem rs.

Renovado depois do banho e da hidratação, segui pelo vale do córrego Lourenço Velho, que tivemos que cruzar mais três vezes antes de encerrar a travessia. Chegamos ao ponto final às 13:35. Enquanto alguns procuravam um lugar para a lápide, outros chegaram super empolgados com a diversão que os dois dias na Mantiqueira proporcionaram.

E foi assim que vencemos mais uma travessia clássica do montanhismo brasileiro. Bem menos difícil do que pensamos, talvez por sair de casa pensando que seria um dos maiores desafios de nossas vidas rs.

Neste dia caminhamos 8,3km. Ao todo foram 20,5km em dois dias.

OBSERVAÇÕES:
A travessia Marins x Itaguaré certamente é uma das mais técnicas do país, quando falamos de trilhas já consolidadas. São alguns trechos de escalaminhada ou desescalada, com exposição à altura; temperaturas baixas para o padrão brasileiro em boa parte do ano; além da escassez de água, praticamente total no fim do período de estiagem. É uma caminhada indicada para pessoas já experientes em travessias e transporte de cargueiras, e que também possuam os equipamentos adequados para a situação.

Do ponto de vista físico, é uma caminhada um pouco mais leve que a sua irmã mais famosa, a Serra Fina. Já do ponto de vista técnico, acredito que não há comparação: Maringuaré exige bem mais do montanhista, principalmente no trecho intermediário entre o pico dos Marins e o Itaguaré.

A melhor época para percorrer a rota é entre os meses de maio e setembro, quando chove menos na região. No entanto, é plenamente possível realizar a caminhada em outras épocas, desde que haja uma janela de tempo bom. Não recomendo de forma alguma realizar esta travessia com chuva. Além da dificuldade da trilha aumentar, perde-se por completo o visual das montanhas e do entorno, que é o principal atrativo.

É plenamente possível realizar o trajeto sem guia, tendo como referência GPS, bússolas, cartas topográficas e afins, assim como fizemos. Se optar por realizar desta forma, é imperativo que o “guia” do grupo ou o montanhista tenha experiência em caminhadas longas e navegação.

Boa parte da caminhada possui sinal de telefonia móvel, principalmente no trecho pela cumeada da serra. No ponto inicial e final, precisamente, não há sinal.

São poucos os pontos de água ao longo da rota, sendo consolidados apenas quatro: nos arredores do Morro do Careca, na base dos Marins (considerada contaminada), na base do Itaguaré e ao fim da trilha, no córrego Lourenço Velho. Convém ressaltar que realizamos a caminhada no auge da estiagem e encontramos água somente no Morro do Careca (bem pouca) e no córrego do trecho final da travessia (em abundância).

De uma forma geral a trilha está bem demarcada, embora careça de sinalização em vários pontos. O trecho entre a base do Marins e a do Itaguaré possui trilha um pouco mais discreta, devido ao movimento menor entre esses dois pontos de interesse. A descida do Itaguaré merece atenção na navegação, principalmente nos trechos de lajeados.

Realizar a travessia em 3 dias, considerado o “modo clássico”, pode facilitar no aspecto físico, em virtude das pequenas distâncias diárias. Por outro lado, é preciso carregar um peso bem superior, principalmente pela ausência total de água na cumeada. Desta forma, pensando em um trekking mais leve e considerando que esta travessia não é tão longa, recomendo que a rota seja percorrida em dois dias, com pernoite para lá da metade da Pedra Redonda. Cabe ressaltar que, embora existam diversos pontos propícios para acampamento, áreas verdadeiramente grandes, onde possam caber diversas barracas, são raras, principalmente no trecho entre os Marins e o Itaguaré.

A saber, só há uma rota de escape no trecho intermediário da travessia, que é a saída pela trilha do Maeda, nas proximidades do Marinzinho. Como é uma travessia curta, com menos de 20km se descontarmos a ida aos picos Maria e Mariana, a principal opção acaba sendo dar meia-volta e descer a serra.

LOGÍSTICA:
Para esta travessia tivemos o apoio de uma van, que nos transportou até o Refúgio dos Marins e nos resgatou no acampamento-base do Itaguaré. Para quem pretende realizar a caminhada de outra forma, são duas opções: transporte coletivo ou veículo próprio. Em caso de veículo próprio, o recomendado é seguir com o mesmo até o Refúgio Marins e combinar um resgate do ponto final até o Refúgio.

Caso a opção seja por transporte coletivo, são algumas opções. As cidades-base podem ser Piquete-SP, para quem vem de SP ou do RJ, ou Marmelópolis-MG, para quem vem de MG. Piquete está a pouco mais de 20km do ponto inicial da travessia, enquanto Marmelópolis está a 12,5km. Esses trechos são percorridos em estradas de terra, com acesso a veículos de passeio.

Já o ponto final dista 13km de Marmelópolis-MG e 17km do bairro de Pinheirinhos (Passa Quatro-MG). Em relação a Piquete a distância já se torna bem maior, superando os 36km. O deslocamento para o bairro de Pinheirinhos é mais adequado para quem deseja retornar a SP ou RJ, já que dá acesso à cidade de Cruzeiro.

Os deslocamentos para Marmelópolis devem ter como referência a cidade de Itajubá, que conta com ônibus diários desde Belo Horizonte.

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