Sabarabuçu é um dos quatro caminhos da Estrada Real, um desvio do Caminho dos Diamantes na altura de Cocais. Segundo o Instituto Estrada Real, a origem do caminho está associada ao fato de, ainda no século XVIII, os viajantes terem se interessado pelo brilho do topo da Serra da Piedade. Imaginando encontrar ouro, abriram caminho pelo vale do Rio das Velhas, mas era só minério (aaaahhh….).
Depois de uma longa estiagem a turma de roias se reuniu, e uma tropa de 12 motos saiu de Cocais com destino a Glaura, num domingo de Sol.
O Caminho de Sabarabuçu talvez seja o menos explorado da Estrada Real. Combina um extenso trecho por estradão ou estrada vicinal de terra e um pequeno, mas implacável, trecho de trilha. Ao contrário da nossa jornada pelo Caminho Velho, desta vez apenas busquei no Wikiloc um trajeto confiável e alimentei o GPS, sem avaliar o caminho disponibilizado pelo IER.
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Nosso ponto de encontro foi o Posto Beija-Flor, bem na saída de Belo Horizonte para o Vale do Aço e Espírito Santo. Combinamos de sair 7:30, mas quando a turma toda se encontra fica difícil de cortar a prosa. Eu mesmo cheguei um pouco atrasado e logo percebi que a mangueirinha que sai da tampa do tanque (suspiro) tinha caído pelo caminho. Por sorte nosso companheiro Tiago carregava umas mangueirinhas no baú da XT. Por volta das 8h deixamos o posto e partimos em direção a Cocais, distrito de Barão de Cocais, a 73km dali. Como o grupo era grande, com motos de 250cc a 990cc, acabou se dividindo e alguns perderam a entrada que leva a Cocais, outros até acertaram a entrada, mas passaram direto em direção a Barão. rs
Depois de ficar esperando um bocado todos se reunirem em Cocais, demos partida ao Caminho de Sabarabuçu às 9:33 de uma manhã ensolarada. O trecho entre Cocais e Antônio dos Santos tem 21km de extensão, passando por estradas vicinais, em boas condições e pouco movimentadas. A princípio o trecho alterna subidas e descidas suaves, mas a partir da metade do trajeto começa um longo e puxado aclive. Vencida a subida, começa uma descida moderada que termina em Antônio dos Santos. Este distrito de Caeté é bem pequeno, com alguns comércios e só. Tomamos à esquerda numa espécie de pracinha ou rotatória e seguimos por um estradão de terra até Caeté.
São cerca de 16km entre Antônio dos Santos e a área urbana de Caeté, onde chegamos 11:14, depois de percorrer 41,5km. O estradão desde Antônio dos Santos apresenta algum movimento de veículos de passeio, como o estradão é largo e em boas condições, dá pra esticar bem. Nos trechos longos de reta dava para beirar os 100km/h. Uma turma na frente andava ainda mais rápido, mas acabou com um pneu furado por um prego. Paramos a cerca de 4km de Caeté e trocamos a câmara de ar da Falcon, utilizando uns galhos de árvores caídas como macaco. Em Caeté alguns abasteceram as máquinas, ainda teríamos cerca de 120km de terra pela frente.
Saindo de Caeté seguimos para Morro Vermelho, também por um estradão e também com movimento interessante de veículos. Depois de uma forte subida e outra descida acentuada, chegamos ao pequeno distrito de Caeté, a 10,5km da sede. Gastamos 15 minutos neste deslocamento, num ritmo bem forte. A passagem foi bem rápida, tomamos à direita numa rua que passa beirando a igreja e seguimos para Sabará.
O trecho entre Morro Vermelho e Sabará tem quase 21km de extensão, por uma estrada vicinal com pouco movimento de veículos. O caminho é quase sempre descendo, já que seguimos em direção ao fundo do vale do Rio das Velhas. A estradinha é bem cascalhada e com muitas curvas, então é preciso ter atenção para não perder a aderência e a tração. Chegamos ao centro de Sabará 12:09 já pensando no almoço. A ideia era comer num restaurante conhecido das redondezas, mas o trajeto da Estrada Real levava para outro lado… então seguimos.
Resumo de Sababuçu
Saímos do centro histórico de Sabará em direção ao bairro Arraial Velho. Depois do asfalto da área urbana, começou um trecho por terra semelhante ao anterior: estrada estreita, muito cascalho e curvas. Depois de 8,6km chegamos a uma porteira, que estava encostada. Neste ponto a Estrada Real passa por dentro de uma propriedade, como pudemos verificar por um marco colocado no fundo do terreno. É uma propriedade pequena, então passa bem próximo da casa, o que deve incomodar um pouco os moradores de lá. Vale ressaltar que antes da porteira há uma saída à direita da estradinha, que dá a volta e intercepta a Estrada Real adiante. ATENÇÃO: a passagem por este desvio é OBRIGATÓRIA para carros, quadriciclos e afins, já que após a casa há um curto trecho de trilha onde é IMPOSSÍVEL passar com qualquer veículo mais largo que uma moto.
Enquanto uma parte do grupo decidia se ia ou não pela trilha, resolvi descer na frente. A primeira parte da trilha, cruzando o portão da casa, é praticamente uma escada, onde é preciso descer por pedras bem escorregadias, já que passa um filete de água por lá. Passada a escadinha, é um trecho sempre descendo com várias pedras, até que se toma à esquerda numa bifurcação e começa um single track na terra. No final do single track é preciso ter atenção numa descida curta e íngreme, já que de um lado há uma bela vala esperando alguém pra ser enterrado. Mesmo com todos esses desafios, ainda sim foi relativamente tranquilo passar com todas as motos por lá, até mesmo a KTM 990. Nada que uma mãozinha ali e outra acolá não resolvesse.
Após reencontrar a estradinha, descemos até o fundo do vale e cruzamos um riacho raso. Em seguida tornamos a descer, desta vez é uma descida interessante, com muitas pedras (estilo calhau de brita) soltas por todo o caminho, talvez uma tentativa de minimizar a ação erosiva da água descendo pela estrada. Numa dessas um dos nossos companheiros resolveu comprar terreno por lá. Depois dessa descida com pedras, começa um aclive moderado, também com muitas pedras e cascalhos. Algum roia bobeou na subida e acabou fazendo todo mundo que tava atrás parar. Arrancar com a DR numa subida cheia de cascalho e pedra solta não é das tarefas mais fáceis…
Passado o trecho da trilha, seguimos por uma estradinha até Raposos, onde paramos para almoçar 13:21. O almoço foi no bar Recanto da Floresta, um tropeiro bem servido com arroz e fritas. E o melhor, dividindo com todo mundo ficou bem em conta, com a bebida deu cerca de 15$ pra cada. O almoço demorou um bocado pra sair, é verdade, então ficamos um bom tempo por lá. Na hora de retomar a Estrada Real, metade do grupo amoleceu. Alguns vieram de longe, de Sete Lagoas, então preferiram retornar cedo, já que beirava as 15:00 e ainda tínhamos cerca de 65km pela frente. Um ponto que teve discussão foi o caminho a seguir. Depois de Raposos, Sabarabuçu segue por trilhas de alta dificuldade até Honório Bicalho. É um trecho relativamente curto, com cerca de 14km, mas muito travado e altamente complicado para motos trail e bigtrail. Alguns companheiros já haviam passado por lá e tiveram aperto com moto de trilha… Até que estávamos preparados, com alguns metros de corda na bagagem, mas pelo horário e pela dificuldade decidimos abortar o traçado original e fazer o desvio pelo asfalto. Alguns não viram sentido em dar a volta pelo asfalto e também resolveram retornar.
Em três motos, duas DRs e uma Tenere seguimos viagem. Depois de 15km tranquilos pelo asfalto chegamos a Honório Bicalho, onde retomamos o Caminho de Sabarabuçu. O trajeto Honório Bicalho e Rio Acima é bem interessante, trata-se de uma estrada estreita, bem sombreada, que segue margeando o Rio das Velhas, em uma leve subida. Na seca é um trecho relativamente fácil, que merece atenção somente em algumas curvas. Com o terreno molhado é que a brincadeira começa, alguns pontos ficam bem escorregadios com pequeno acúmulo de barro. Como a chuva só estava ameaçando, não tivemos dificuldade para vencer o trecho de 10km até Rio Acima.
Belo visual do Gandarela e região
Nem tinha visto a chuva chegando, mas o Luan e o Bruno avisaram e também decidi me preparar, guardando o celular numa sacolinha. Depois de uma breve parada, saímos de Rio Acima beirando as 16:00. Saindo de Rio Acima e se aproximando de Acuruí e São Vicente, é o único trecho mais longo do Sabarabuçu que está asfaltado, já que a estradinha dá acesso a algumas propriedades nos arredores da cidade.
O trecho final, entre Rio Acima e Glaura é o mais longo do caminho, com quase 43km. Alterna subidas e descidas moderadas e acentuadas desde a saída da cidade até um pouco após a passagem por Acuruí, onde reencontramos o Rio das Velhas. Nos trechos mais altos se tem um belo visual da Serra do Gandarela, do Ouro Fino e da represa próxima a Acuruí.
Quando reecontramos o Rio das Velhas, o estradão aberto dá lugar a uma estradinha bem sombreada e praticamente plana. É um trecho bem interessante, que também deve revelar algumas surpresas (pequenos atoleiros) caso o terreno esteja encharcado. Após alguns quilômetros margeando o Rio das Velhas, encontramos o asfalto da rodovia que sai da BR-356 e segue em direção à mineração da Serra do Capanema. Depois de entrar à direita numa estrada de terra para Glaura e cruzar o Rio das Velhas mais uma vez, começa um longo e moderado aclive. Do alto temos um belo visual da Serra do Ouro Fino, na divisa entre Itabirito e Ouro Preto.
No final da subida interceptamos um estradão e chegamos a um pequeno povoado. Adiante começa um calçamento e, enfim, chegamos a Glaura. Era 17:33 quando estacionamos as motos em frente à Igreja Matriz de Glaura, ainda tínhamos mais algum tempo de claridade para descansar e prosear antes de iniciar o retorno para BH.
Ao todo foram 153km entre Cocais e Glaura, contando o deslocamento que tivemos até o restaurante em Raposos, coisa de 1km a mais. No total foram cerca de 310km, contando o deslocamento de ida e volta a BH mais o trecho de Sababuçu. O trajeto de 153km foi percorrido em 8h, demonstrando um bom ritmo, já que neste tempo está icluído o reparo do pneu furado e a longa parada de almoço. Supondo que alguém consiga fazer os Caminho de Sabarabuçu direto, sem parar e sem imprevistos, é possível percorrê-lo em cerca de 5h ou menos.
Igreja Matriz
DICAS E INFOS:
Considero este um legítimo passeio, ideal para iniciantes no offroad, já que grande parte do trecho é de baixa dificuldade. Se a ideia for passar pelo trajeto original, inclusive os 14km de trilha entre Honório Bicalho e Raposos, o ideal é fazer o caminho em dois dias, para não trilhar noite adentro.
Nas cidades (Caeté, Sabará, Raposos e Rio Acima) o viajante pode encontrar assistência para eventualidades básicas. Nos distritos e povoados essa assistência não é garantida. Em todos os trechos urbanos o viajante encontra comércio e locais para estadia, já postos de gasolina somente nas cidades.
Tendo em vista o trajeto que fizemos, Cocais x Glaura é o melhor sentido. No sentido contrário, se o meio de transporte for moto, é recomendável evitar a pequena trilha entre Raposos e Sabará, já que será preciso carregar as motos na subida dos degraus; neste caso faça o “desvio”. Terminando em Glaura a volta para BH é mais tranquilo, já que não é preciso enfrentar a BR-381. Se o meio de transporte for a bicicleta, comece em Glaura, assim o total acumulado de subidas será menor que o de descidas.
Os marcos da Estrada Real estão em boa parte da rota, somente a navegação dos trechos urbanos é mais complicada. No trecho entre Morro Vermelho e Sabará, tendo em vista a precariedade do traçado originalmente proposto, o IER recomenda um traçado alternativo, que nós fizemos. Este caminho alternativo não possui marcos de sinalização. Baixe o tracklog AQUI.
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