02/03/2015

Parque Estadual do Rio Preto (São Gonçalo do Rio Preto-MG)

BH x PERPreto: 367km


Era agosto e a vontade de viajar me acompanhava. Por mais que já tivesse uma viagem pra Brasília programa para o fim do mês, o que eu queria era sair da cidade, tomar um banho de cachoeira e relaxar.  O último feriado prolongado do ano se aproximava, era a nossa oportunidade. Lembrei de uma revista Ecológico que passei o olho durante o trampo, falava de um tal Parque Estadual do Rio Preto, que ficava próximo a Diamantina, a umas 5h de distância de BH. Nem precisei pesquisar muita coisa sobre o lugar (além de como chegar), as poucas fotos que tinham na revista bastavam para animar. Então partimos, Juliana, Giulia e eu; numa sexta feira de um feriado pouco movimentado.


O Parque Estadual do Rio Preto - PERPreto - está situado no município de São Gonçalo do Rio Preto, na região do Alto Jequitinhonha, na porção central da Serra do Espinhaço. Pelo caminho que fizemos, está a 367km de Belo Horizonte, sendo os 18 quilômetros finais por estrada de terra em boas condições, tranquila para qualquer carro de passeio. É possível cortar 6km ao não passar pelo centro de São Gonçalo, pegando uma estrada de terra às margens da BR-367. Em relação a Diamantina, o Parque está a 70km de distância.


1º BH x PERPreto: Circuito do Cerrado


Saímos cedo de Belo Horizonte, aproveitando o feriado municipal e seguimos com tranquilidade até o nosso destino. Embora sejam cerca de 370km, a viagem demora pelo menos 5 horas, em virtude dos trechos sinuosos que acompanham boa parte do trajeto. Almoçamos em um restaura na beira da estrada, em Diamantina, e chegamos ao parque no início da tarde.


Como optamos por acampar dentro da unidade, foi preciso, antes de sair de BH, entrar em contato com Tonhão, gerente do parque, e informar do nosso interesse. O camping no parque só é possível com reserva prévia. O telefone de contato para conseguir as reservas é o (38) 99976-5621.


A primeira identificação é feita na portaria do Parque, onde somos encaminhados para o centro de visitantes. Pela estrada interna seguimos até o centro de visitantes, onde um funcionário local faz uma breve apresentação da unidade e fala sobre as normas e riscos. Devidamente informados, fomos para a área de camping que fica a alguns minutos dali, preparar nossa moradia.


A área de camping é toda gramada, com um heliponto ao centro (favor não montar barraca ali!). Existem alguns quiosques espalhados ao redor da área, equipados com churrasqueiras, mesas e bancos. Os vestiários também ficam perto, equipados com sanitários e chuveiros. Ótima infraestrutura com um preço justíssimo, 10$ por pessoa a pernoite (agosto/2014).

Poço do Veado

Depois de montar nossas barracas, hora de esticar as pernas. Escolhemos para conhecer o Poço do Veado, atrativo que pertence à Trilha do Cerrado. Nos fundos do camping, no lado oposto ao vestiário, uma trilha batida segue por um trecho de transição entre cerrado e mata galeria. A trilha é um atalho, que sai na estrada interna do parque, por onde passamos de carro para chegar ao camping. Seguimos por um curto trecho de estrada, logo após a ponte sobre o Córrego Boleiras tomamos à direita, entrando na Trilha do Cerrado. A trilha tem cerca de 4km de extensão e passa pelo Poço do Veado, Rio Lento, Vau das Éguas e Vau Bravo.


Seguimos por uma trilha bem sinalizada em meio ao cerrado e cerca de 1,5km depois de sair do camping chegamos a bifurcação para o Poço do Veado. Descemos um pouco pela trilha e logo aparece uma escada e um deck, com vista panorâmica do poço. Pela escadinha descemos até a beira do Rio Preto. O Poço do Veado é belíssimo, um cenário composto por águas escuras, afloramentos rochosos, pinturas rupestres e praias de areia branca. Nosso fim de tarde foi por lá, aproveitando o poção de águas calmas.


No fim da tarde retornamos ao camping e usufruímos de toda infraestrutura do parque, encerrando um dia com um churrasquinho mirrado de linguiça.


2º: Circuito Cachoeira do Crioulo e Sempre Viva


Esse circuito é o cartão postal do parque, passa por duas belas cachoeiras: Crioulo e Sempre-vivas. A trilha tem, ao todo, cerca de 15km de extensão. Embora fácil tecnicamente, é uma trilha que exige algum condicionamento físico, principalmente pela subida da primeira metade do percurso. A princípio o circuito deve ser feito com o acompanhamento de um guia, que é funcionário do parque e não envolve custos adicionais. São três horários diários, a saída ocorre próximo ao restaurante do parque as 9, 10 e 11 horas. Este é um passeio para o dia inteiro, portanto é preciso levar água e comida, já que não há nenhuma infraestrutura pelo caminho, com exceção de uma ducha e banheiros no começo (e fim) da trilha.


Como ficamos de preguiça durante a manhã, saímos no segundo horário. Antes, porém, demos uma passadinha na Prainha, que fica a 5 minutos de caminhada do camping, atrás do vestiário. O Rio Preto passa tranquilamente pelo local, que é ideal para ir com crianças e pessoas com mobilidade reduzida.


Crioulo

Um pouco antes das 10 horas chegamos ao ponto de encontro. Como o parque estava vazio no sábado, talvez pelo tempo meio nublado, fomos somente nós três e o guia. O início da caminhada é por uma estradinha interna, depois de alguns minutos de caminhada começamos a descer por uma trilha bem larga. Quase no final da descida chegamos aos sanitários, onde também há uma bica d’água. Fizemos uma parada rápida para tomar água, entramos à direita na bifurcação que tem a frente e começamos a subir. A parte mais puxada da subida tem cerca de 1.200 metros, o caminhar neste trecho é lento. Até o tempo nublado contribuiu para que a subida fosse menos extenuante, tendo em vista que nem todo mundo estava em forma. Uma garoinha passou rapidamente por nós. Conforme ganhávamos altitude, éramos presentados com belas vistas do vale do Ribeirão das Éguas.


Quando a subida fica mais suave, a trilha passa a acompanhar a “beirada” da serra, proporcionando também belos visuais. Depois de passar por alguns mirantes, com infraestrutura de guarda-corpo, topamos com a bifurcação que leva a cachoeira Sempre-Viva, oportunidade para quem deseja cortar o caminho até lá. Não era nosso caso, agora começávamos a descer, cada vez mais próximos da Cachoeira do Crioulo. Próximo ao topo da cachoira, o relevo suave dá lugar a uma descidinha acentuada por um capão de mata. Logo chegamos ao topo do Crioulo, como estávamos na seca a água era pouca, mas a vista sensacional. Depois de observar rapidamente a vista do topo, era hora de ver como era lá de baixo.

Ribeirão das Éguas


Depois de descer por afloramentos rochosos e um pequeno capão de mata, chegamos a uma prainha de areia branca, local belíssimo, bem característico do Espinhaço. Mesmo com o Sol aparecendo de vez em quando, o poço era muito convidativo. A queda ficava distante da praia, mas algumas pedras posicionadas estrategicamente ao longo do poço permite que o banhista vá até
a cachoeira sem se arriscar muito. Próximo a praia, numa passagem rasa do rio, é possível avistar um sem-número de peixinhos, que se aproximam sem medo da gente e fazem de tudo para beliscar nossos pés.


São cerca de 7km do camping até a cachoeira do Crioulo, marcados pela longa subida de uma das vertentes do Ribeirão das Éguas.


Aproveitamos um pouco da cachoeira e do poço e retomamos a caminhada, agora em direção a cachoeira Sempre-Viva. Esta segunda metade do circuito tem o relevo favorável por grande parte. A trilha vai margeando o Ribeirão das Éguas, que corre lentamente, formando diversos pontos propícios para banho. Rio abaixo seguimos, próximo a cachoeira mais uma facilidade proporcionada pelo parque para os montanhistas: uma escadinha ajuda a vencer um belo degrau do rio.

Sempre-Viva


A cachoeira Sempre-Viva escorre por um paredão e forma um poço de águas calmas mais abaixo. Na cachoeira mesmo só é possível tomar uma ducha, mas não deixa de ser interessante. Ficamos menos tempo por lá, se compararmos com a queda do Crioulo, aproveitamos bem o leito rochoso do rio para calangar no Sol que aparecia de vez em quando. A Sempre-Viva está a cerca de 9,5km do camping pelo circuito, 2,2km após o Crioulo.


Continuamos rio abaixo, observando as interessantes formações rochosas do entorno. Acompanhados pelo guia e pelas prainhas seguimos até o local conhecido como Forquilha, encontro do Rio Preto com o Ribeirão das Éguas. Pela proximidade do fim, o guia permite que os visitantes sigam sozinho a partir deste ponto. A Giu e eu aproveitamos um pouco das águas lentas do Ribeirão das Éguas, enquanto a Ju tentava recuperar as forças. Havíamos caminhado cerca de 11,5km até lá.


Quase no fim da tarde saímos da Forquilha, seguindo por uma trilha bem batida à esquerda do encontro das águas, um trecho de capão de mata. São mais 3,5km até retornarmos ao camping, sempre por trilha bem demarcada. Depois de cerca de 15km e 8 horas de caminhada, retornamos ao acampamento. O resto do dia foi descansar as pernas e comer.


3º PERPreto x BH: Retorno ao Poço do Veado


Como faríamos o retorno a BH no mesmo dia, a ideia era fazer um passeio mais curto e leve. Acordamos cedo, tomamos café e partimos, novamente, para o Poço do Veado. Dessa vez nos demos o privilégio de farofar, levando também um colchão inflável para curtir o poço.


O Sol apareceu pouco durante a manhã, mas não tivemos problemas para aproveitar o poço, que é MUITO convidativo! rs. Quando ameaçou uma chuva, fizemos o caminho da roça e ajeitamos nossas coisas para retornar a BH.

Rupestre


No caminho de volta paramos novamente em Diamantina para almoçar. A viagem, outra vez, seguiu tranquila até as proximidades de Belo Horizonte, onde agarramos em um trânsito típico de final da tarde de domingo.


COMO CHEGAR:
Em veículo próprio, saindo de Belo Horizonte, é preciso pegar a BR-040, saída para Brasília. Após Paraopeba, é preciso entrar à direita no trevão e seguir pela BR-135 até Curvelo. De Curvelo siga sentido Diamantina, primeiro pela BR-259 e depois pela 367. Em Diamantina continue pela rodovia, seguindo para o norte, sentido Couto Magalhães de Minas e região. Os trevos são todos sinalizados, inclusive com placas indicando a proximidade do Parque.

O trecho de terra também é bem sinalizado, com placas muito interessantes, diga-se de passagem. A estrada possui aclives e declives bem acentuados, com curvas fechadas. É preciso ter atenção. Os pontos mais críticos foram calçados, permitindo o acesso de veículos de passeio no período da seca. Em período chuvoso é melhor consultar a gerência do parque.



De ônibus a opção é a viação Pássaro Verde. Existe um horário diário entre BH e São Gonçalo. Para mais opções de embarque, uma opção é seguir para Diamantina e, de lá, pegar o ônibus para São Gonçalo do Rio Preto. Chegando a cidade, é preciso tomar um táxi ou conseguir carona até o parque, que fica a 18km de distância.

O Parque Estadual do Rio Preto, se não for o melhor, está entre os melhores no quesito infraestrutura e acolhimento aos visitantes. Tonhão e sua equipe tiram leite de pedra para manter o parque em boas condições, inclusive melhorando o acesso ao mesmo. Espero, em breve, ter a oportunidade de voltar com mais tempo e realizar as outras trilhas por completo. Também espero ter, logo, a oportunidade de realizar a Travessia de Parques, entre o Rio Preto e o Itambé.

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