O Vale do Pati é, sem dúvida, um lugar peculiar. Para além daquele local escondido entre as serras da Chapada Diamantina, o que fascina é a diversidade de caminhos que dão acesso ao vale. Desde que cheguei à Chapada, o acesso ao Pati por Mucugê, via Gerais do Rio Preto, um dos menos percorridos atualmente, era o que mais me instigava. Numa dessas, aproveitei o feriado de Carnaval e a chance bem remota de encontrar grupos nessa trilha, para fazer uma travessia “alternativa” pelo Vale do Pati.
Foram 3 dias pelo Parque Nacional da Chapada Diamantina, a princípio percorrendo a unidade no sentido sul-norte e, depois, oeste-leste; tendo como principal atrativo o Cachoeirão, por cima e por baixo.
1º
Mucugê x Cachoeirão por cima (via Gerais do Rio Preto)
Depois
de uma semana de chuvas frequentes em Andaraí e na Chapada, uma
visita ao Cachoeirão parecia uma ótima pedida. Então combinei com
Rodrigo, que trabalha comigo, de realizar essa travessia nos
primeiros dias de Carnaval. Uma dúvida, porém, pairava sobre minha
cabeça: seria possível cruzar o Rio Paraguaçu no seu encontro com
o Rio Preto? Bom, parecia que sim.
Com
tudo pronto, a madrugada de sábado nos presenteou com uma chuva
forte em Andaraí. Pensando nos rios, que já estavam com um nível
bem acima do normal, decidi adiar o primeiro dia da missão para
domingo, esperando tempo firme no restante do dia. O tempo firmou,
mas na madrugada/manhã de domingo outra garoa assombrou nossos
planos, mas desta vez não dei o braço a torcer.
Encontrei
com Rodrigo por volta das 06:00, no centro de Andaraí. A van que
sobe pra Mucugê já tinha passado, mas o motorista havia informado
que outra estava prestes a chegar. Esperamos cerca de 40 minutos e
nada. Então decidimos subir até a pista, ver se aparecia alguma
van, ônibus ou carona para Mucugê. Como se fosse combinado, logo
que cheguei na saída de Andaraí, apareceu um ônibus da Viação
Novo Horizonte. Sem titubear embarcamos na nave por volta das 07:00 e
pagamos menos de R$10 pela viagem de 50km.
Encontro
Rio Paraguaçu e Preto
Por
volta das 08:00 desembarcamos no Posto Serra Verde, na saída de
Mucugê. Uma fina garoa insistia em cair, o que nos fez enrolar por
mais algum tempo, na expectativa do tempo melhorar em breve. Nada
feito. Então às 08:41 deixamos o posto sobre uma leve garoinha que
logo se dissipou.
Andamos
quase 1km na beira da rodovia BA-142, sentido Barra da Estiva, e
saímos pela tangente numa curva, entrando na RPPN por uma estrada de
terra. Adiante, numa bifurcação, deixamos a estrada em melhores
condições em favor de uma estradinha precária e arenosa. Foram
mais 2.1km pela estradinha, sem muitos atrativos visuais, até
chegarmos ao encontro do Rio Preto com o Paraguaçu, eram 09:21.
No
local há uma espécie de barragem, feita com pedras empilhadas.
Embora a água estivesse bem acima do normal, a travessia foi
tranquila passando por essas pedras, mas tivemos que tirar botas e
calças para não molhar de bobeira (mal sabíamos do que estava por
vir rs). Fiz duas viagens para atravessar o rio e, em seguida,
cruzamos o lajeado para encontrar a trilha na outra margem.
A
trilha do Rio Paraguaçu até as proximidades da Toca do Gavião
ainda está demarcada, com poucos pontos confusos e alguns trechos
mais discretos. O importante é que ainda está lá. Qualquer
montanhista com experiência em seguir trilhas não terá qualquer
dificuldade de navegação, principalmente se tiver em mãos um GPS
com o tracklog carregado.
Deixando
o Rio Paraguaçu, a vegetação neste ponto inicial é uma transição
entre cerrado e campos de altitude. Como a trilha tem sido pouco
utilizada, a vegetação está bem rente em alguns pontos, por isso o
ideal é caminhar com braços e pernas protegidos. 3Km após a
passagem pelo rio, percebo uma trilha batida que sai à esquerda do
eixo em que seguíamos. Como nas proximidades havia uma grande rocha,
acredito que do outro lado esteja a chamada Lapa do Caboclo, local
que pode ser utilizado para pernoite. Como estávamos começando o
dia e a caminhada, passamos direto, continuando no sentido noroeste.
Adiante
a trilha dá uma guinada para nordeste, iniciando uma ligeira subida
com alguns degraus. Neste ponto vimos diversas teias com dezenas de
aranhas. As teias, bem mais grossas do que estou habituado a ver,
cruzavam a trilha, formando verdadeiros varais. rs.
A
vegetação vai mudando para um campo de altitude e vamos nos
aproximando da cabeceira do Córrego da Pedra Redonda, afluente do
Paraguaçu. Cruzamos um muro de pedras e, logo a frente, um
riachinho, primeiro ponto de água da travessia. Logo após o riacho
há um trecho um pouco confuso, é possível observar algumas trilhas
em diferentes direções. Continuamos por uma trilha à direita,
seguindo no sentido norte e, alguns metros depois, viramos
praticamente 90º à esquerda, tomando um trilho no rumo
oeste-noroeste.
Gerais
do Rio Preto
Cruzamos
outro muro de pedras e seguimos por um aclive suave, ainda numa zona
de transição entre cerrado e campos de altitude. A nossa direita
temos a Serra da Continguiba, com diversas nascentes que abastecem o
Rio Preto, que está à esquerda, no fundo do vale. Até a entrada
para a trilha que desce para o Cachoeirão, cruzamos 14 riachos ao
todo, sem contar outras muitas nascentes de menor porte. Tanta água
na região dos gerais faz com que a trilha esteja debaixo da água
por longos trechos, tornando a caminhada um pouco mais lenta e muito
úmida, o que é péssimo para os pés.
Às
12:02 paramos na beira de um riacho para “almoçar”, em pouco
mais de 3 horas de caminhada havíamos percorrido 11.3km, o que não
era nem metade do esperado para o dia. Dentro do possível o almoço
foi rápido, e antes das 12:45 já tínhamos voltado para caminhada.
A
medida que a caminhada avança vamos ganhando elevação, num ritmo
bem tranquilo. Afinal são menos de 300 metros de desnível em 30km
de caminhada. A vegetação vai se tornando, definitivamente, um
campo de altitude. Árvores são quase inexistentes nesse trecho,
tirando algumas pequenas nas proximidades dos riachos. Vamos seguindo
sempre paralelos ao Rio Preto, embora seja bem difícil vê-lo neste
ponto da caminhada.
Imprimi
um ritmo forte e constante, conseguindo andar na média de 4km/h em
alguns trechos. Ter que cumprir os 29km não nos dava muita opção
além de andar. Às 16:46 parei numa sombra, próximo a um dos vários
riachos, para verificar algo que me incomodava na bota. Achei que
alguma pedra tinha entrado no calçado, mas já era a umidade
constante dando as caras: uma bolha se formava no centro do pé.
Depois
de horas e horas de caminhada pelo gerais, enfim vamos nos
aproximando de um vão na Serra da Continguiba, ponto onde
interceptamos a trilha que desce para o Cachoeirão. Enquanto
esperava Rodrigo se aproximar, vi que um atalho nos pouparia alguns
minutos de caminhada. Quando ele chegou saímos da trilha principal
tomando uma bem discreta à direita. Ainda tínhamos mais 2.6km de
caminhada e o por do sol era iminente.
Às
17:46 passei pela entrada da Toca do Gavião, local que pode ser
utilizado para pernoite, até mesmo em bivaque. Como Rodrigo estava
próximo, fui me adiantando para chegar ao Rio Cachoeirão com luz
suficiente para tomar um merecido banho e lavar uma parte das roupas
utilizadas no dia. A trilha estava bastante encharcada e com diversos
atoleiros. Às 18:18 cheguei ao poço do Rio Cachoeirão e tratei
logo de entrar na água, que estava bem geladinha. Depois de alguns
minutos Rodrigo apareceu, tão cansado que tinha desistido até do
banho rs.
Ajeitei
as coisas e, de chinelo, desci mais algumas dezenas de metros até o
mirante do Cachoeirão por cima, ponto onde armaríamos as barracas.
Próximo ao mirante havia somente uma pequena área, com menos de
10m², única onde seria possível fincar os espeques. Ali decidimos
ficar e encerramos o expediente às 18:42.
Noite
de céu estrelado no topo do Cachoeirão e sem ninguém por perto.
Depois da janta só foi possível dormir. Neste dia caminhamos
27.9km.
2º
Cachoeira por cima x Cachoeirão por baixo
Depois
de uma boa noite de sono, acordei antes das 6 pra ver o sol nascendo
por trás da Ladeira do Império. O céu estava bem aberto, então,
como não poderia deixar de ser, foi um espetáculo. Depois voltei
pra barraca e dormi mais algumas horas rs. Rodrigo aproveitou minha
preguiça para curtir o poço do Rio Cachoeirão e tomar café.
Um
pouco antes da 9 o sol já fritava a barraca e eu estava assando
dentro dela. Então levantei e fui apreciar um pouco da vista do
mirante. Deu pra perceber a diminuição do nível d’água, em
relação à noite anterior. Ainda assim o Cachoeirão estava
magnífico, bateu uma vontade súbita de descer correndo até o poço,
então fui chamar o Rodrigo pra começarmos a descida.
Cachoeirão
de corpo inteiro
Para
quem deseja fazer o Cachoeirão por cima e por baixo num único dia,
ou na sequência, o ideal é fazer a trilha conhecida como “fenda
do Cachoeirão”. Quem cantou a pedra pra mim foi André, vulgo
Badega, guia de Andaraí. Sem essa preciosa dica, meus planos eram de
descer pela fenda da Prefeitura, o caminho mais curto que eu
conhecia. A dica foi excelente, mas a questão era: conseguiríamos
achar essa trilha?
Às
09:26 deixamos a parte alta do Cachoeirão, seguindo por uma trilha
bem demarcada que segue à esquerda do mirante, sentido norte. O
caminho está bem limpo e demarcado, embora existam vários trechos
sobre os lajeados, há algumas setas discretas marcadas na rocha. A
navegação foi puramente visual, já que não tinha a rota no GPS.
Então nas duas bifurcações que identifiquei, tive que conferir
para onde as trilhas mais discretas iam.
Saindo
do Cachoeirão, 150 metros depois, há uma descida íngreme, onde foi
colocada uma escada. Depois de cruzar esse pequeno vale, continuamos
no caminho demarcado por mais 580 metros e chegamos a uma espécie de
lapa. Contornamos o local pela esquerda e logo adiante, descemos por
uma espécie de fenda, uma descida bem acentuada. Atravessamos mais
um vale e iniciamos uma subida moderada. Ao fim do aclive chegamos na
bifurcação que eu tanto esperava. E a identificação do local não
poderia ser melhor. Nas pedras colocaram duas setas: uma pra
esquerda, indicando casa de Jailson; e outra pra direita, indicando
Toca do Gavião. Não sabia que o nome seria esse, mas era o que eu
procurava.
Chegamos
à bifurcação às 10:26, depois de andar 1.1km. À direita a trilha
seguia limpa e bem demarcada. Parece que limparam a área
recentemente, já que havia alguns capins cortados nas beiradas da
trilha. De agora em diante a trilha segue em constante declive.
Passamos por um ponto de água 5 minutos após a bifurcação,
aproveitei para hidratar e encher minha garrafinha pois tinha saído
do Cachoeirão sem água. Nessas travessias não levo nenhum produto
para tratamento da água, embora não seja o recomendado. Também não
pego água de qualquer local, dou preferência pros pequenos riachos
e pras nascentes. Como já acostumei a beber a “água da serra”,
não costumo sofrer nenhum “efeito colateral” durante ou depois
das trilhas.
Depois
de abastecer as garrafinhas, rapidamente chegamos na beira da serra,
por onde boa parte da trilha se desenvolve. É um trecho com visual
belíssimo do vale do Cachoeirão, a trilha fica entre a serra e o
precipício. O que me surpreendeu, além da paisagem, foi a
existência de um cabo de aço fixado na parede, o que dá mais
segurança aos caminhantes.
Por
uma curva de nível vamos descendo a serra, mas a “engenharia”
não impede que os declives sejam acentuados. Em algumas partes
conseguiram escavar degraus na terra, facilitando pros joelhos.
Passamos por um ponto de água e, depois de descer bastante, por um
riacho. Na travessia do riacho há um cabo de aço pra ajudar a
transposição, pois algumas rochas são escorregadias e, em caso de
cabeça d’água, ainda existe a possibilidade de conseguir
atravessar.
Embrenhados
em um capão de mata, continuamos por um declive acentuado até
interceptar a trilha que leva aos poços do Cachoeirão, onde
chegamos às 11:11, depois de 3.3km de caminhada. Como voltaríamos a
esse ponto depois de visitar o poço do Cachoeirão, entocamos as
cargueiras na mata e continuamos a trilha sem peso. É absolutamente
recomendável fazer desta forma, pois a trilha para o poço é muito
irregular, com diversos trechos de pula-pedra.
Desde
o entroncamento, a caminhada para o poço tem aproximadamente 1km de
extensão. O GPS neste trecho não é muito preciso (pelo menos o
eTrex 20), pelo fato de estarmos avançando dentro de um cânion,
então a marcação da distância percorrida não é muito precisa. O
fato é que a trilha segue, sempre, à direita do Rio Cachoeirão. Às
11:37 chego ao leito do rio, mas é preciso ter atenção: a trilha
continua discreta ainda pela direita. Nada de ir pulando as pedras do
leito. Avançamos mais um pouco e chegamos, novamente, ao leito do
rio. Desta vez não tem escapatória, vamos pulando pedra até os
poços.
Cachoeirões
O
primeiro poço está à direita, próximo a uma queda d’água (nas
estiagens mais longas essa cachoeira pode não existir). A queda,
porém, não cai diretamente no poço. Como o que me chamou atenção
lá do alto foi o segundo poço, tratei de ir direto pra lá. Subi um
pouco pelo leito e vi que um casal entrou na mata à direita. Fui
atrás deles e percebi uma trilha bem discreta, que facilmente
passaria despercebida. A trilha é bem irregular, mas é a melhor
opção de acesso ao segundo poço, já que as rochas do leito são
grandes e demandaria um bom esforço físico.
Às
11:58 estava no segundo poço do Cachoeirão, ao meu ver, o
principal. Haviam alguns grupos por lá, mas ninguém na água. A
coluna de água, com 270 metros de queda livre, dançava de acordo
com os ventos e caía em todos os cantos, molhando até aqueles
distantes do poço. Como o sol ainda batia no poço, tratei logo de
entrar. A água estava em uma temperatura bem agradável e fui
possível aproveitar bastante o local. Fiquei até não restar raio
de luz no local, então voltei para o primeiro poço, onde Rodrigo
estava.
No
meio do caminho de volta encontrei um francês radicado no Brasil,
que me convidou para tomar um banho em algumas das várias quedas
d’água que existem na parte de baixo do Cachoeirão. Pulamos
muitas pedras, algumas bastante escorredias, e visitamos algumas
cachoeiras que ficam entre o primeiro e o segundo poço. Depois dessa
exploração não esperada, voltei ao segundo poço e iniciamos a
caminhada de volta, com destino a casa de Domingos.
Voltamos
pouco mais de 1km até as mochilas e caminhamos mais 2.3km até a
casa de Domingos, nosso local de pernoite. Optamos pela pensão
completa, com direito a janta, café da manhã e cama. A diferença
entre acampar e dormir na cama era de R$20, como a casa não estava
cheia, decidi evitar o trabalho de armar e desarmar a barraca. Em
relação à comida, também me programei para jantar e fazer o
desjejum no local, fazendo com que a caminhada fosse um pouco mais
leve.
Chegamos
ao local às 16:33, fomos tomar um banho no rio Cachoeirão, que
passa em frenta a casa, e foi só esperar a janta, servida somente às
19:00. Depois de muita comida, histórias e roda de violão, era hora
de descansar.
Neste
dia caminhamos, aproximadamente, 8.3km.
3º
Casa de Domingos x Andaraí
As
descidas pesadas do dia anterior e um escorregão na serrapilheira
fizeram com que uma dor no meu joelho esquerdo aparecesse com planos
de ficar. Por conta disso, além do fato de ter pernoitado na casa de
Domingos, decidi abortar uma visita ao Cânion do Guariba, que fica
abaixo da casa de Seu Joia, próximo a Ladeira do Império. Uma
visita ao cânion implicaria em mais 6km de caminhada e em subir a
serra com sol a pino. Ficou pra próxima.
Vale
do Pati próximo a casa de Joia
Tomamos
café com tranquilidade em Domingos e, depois de ver alguns grupos
saindo, decidimos partir também e às 08:20 estávamos com o pé na
trilha. Em terreno mais amistoso, menos irregular, a caminhada segue
paralela ao Rio Cachoeirão. Próximo à casa de Antônio, 500 metros
após Domingos, chegamos a uma bifurcação, onde seguimos pela
direita. À esquerda a trilha segue para a Prefeitura e Pati de cima.
Adiante cruzamos uma pinguela sobre o Rio Cachoeirão e seguimos por
uma trilha sombreada, enfrentando alguns aclives.
Depois
de 1.6km, às 08:58 chegamos a casa de Seu Joia. Paramos um pouco
para tomar uma água gelada e prosear com Xande, um dos filhos de
Joia. Sem muitas delongas, reiniciamos a caminhada, agora teríamos
pela frente a Ladeira do Império. Após cruzar o Rio Pati, pela
ponte de madeira, são 2.7km de subida contínua. O trecho é todo
calçado por pedras e possui ótimo visual para o vale do Cachoeirão
e do Pati, para além da Serra do Sobradinho e Morro do Castelo.
Coloquei
pressão na subida e com 1h08 cheguei ao mirante, um pouco abaixo do
final da subida. Aproveitei o local para descansar e esperar Rodrigo,
que chegou 35 minutos depois rs. Agora começava o trecho que eu
considero o mais chato, a descida até Andaraí. Depois de bater os
1.082 metros de elevação, na virada da serra, é preciso descer até
os 407 metros, que é onde está Andaraí. São 675 metros de
desnível em 9km, desafio para um joelho dolorido.
A
descida até Andaraí intercala declives moderados com trechos
praticamente planos, que davam um alívio para o joelho cansado. Logo
no início da descida temos a bela visão de uma cachoeira no Rio
Baiano, um dos poucos atrativos visuais no percurso. A trilha se
desenvolve por campos rupestres, com poucas sombras e muito sol na
cabeça. Só pra varir, o sol estava de rachar mamona. Menos mal que
é um trecho abundante em água, então tem sempre um riachinho ou
nascente para se refrescar e hidratar.
Vista
da Ladeira do Império, com Serra do Sobradinho (centro), Morro do
Castelo (centro-direita, em último plano)
Durante
a descida fiz duas pausas mais longas, uma na sombra pra comer e
outra na “Boa Vista”, ponto no qual temos a visão de toda a
cidade de Andaraí e onde pega sinal de celular. Avisei em BH que
estava a 4km de terminar e continuei na labuta. Na descida predominam
os afloramentos rochosos e os calçamentos irregulares, tornando a
caminhada “dura”.
Depois
de 3h14, enfim venci os 9km de descida. Como estou morando no final
da trilha, já lancei o chinelo nos pés e fiquei esperando Rodrigo,
que chegou logo depois. Mais uma travessia na conta, elaborada e
concluída com êxito. Esse roteiro “alternativo” nos
proporcionou atravessar o vale do Pati, numa época de alta
temporada, sem encontrar grupos imensos na trilha ou atrativos
cheios, o que é sempre bom.
Neste
dia caminhamos 14.2km.
No
total caminhamos aproximadamente 50.5km em três dias.
DICAS
E INFOS:
Trata-se
de uma travessia de dificuldade moderada, oferecendo poucos desafios
e barreiras aos caminhantes. Entretanto, faz-se necessário um bom
condicionamento físico e familiaridade no transporte de cargueiras,
já que no primeiro dia a pernoite é em camping natural.
A
rota pode ser realizada nos dois sentidos, sem qualquer prejuízo
para os caminhantes. Porém, iniciando em Andaraí, o trajeto terá
mais subidas que descidas. À exceção de alguns pontos do trecho
Mucugê x Cachoeirão por cima, a trilha é bem demarcada em toda sua
extensão, sendo de fácil navegação. No primeiro e no último dia
a maior parte da caminhada é por áreas não sombreadas, expostas ao
tempo.
Há
boa oferta de água no caminho, com muitas nascentes e riachos,
principalmente no período após as chuvas.
Uma
alternativa para caminhar mais leve é antecipar o “camping” no
primeiro dia, fazendo a pernoite na Toca do Gavião, local coberto
onde não é necessário barraca. E no segundo dia usar a
infraestrutura da casa de Seu Eduardo, hoje sob responsabilidade de
Domingos. Atualmente (março/2018) é cobrado um valor de R$120 por
pessoa, a título de pensão completa (janta + cama + café da
manhã). Se preferir, é possível acampar no quintal ao invés de
utilizar a cama, neste caso tem um desconto de R$20.
No
modo tradicional autônomo, recomendo acampar na proximidade do
Cachoeirão por cima e depois acampar em uma área anterior à Casa
de Seu Eduardo, com terreno plano e próxima ao rio. Desta forma não
há qualquer custo nesta travessia.
Sinal
de telefone somente no trecho final da travessia, já chegando a
Andaraí.
Em
caso de emergência/necessidade, o caminhante pode utilizar as
seguintes rotas de fuga:
>
1º dia: Retorno à Mucugê
>
2º dia: Antes de descer ao poço do Cachoeirão, saída para Guiné
pela trilha do Beco. Depois de descer ao poço, o ideal é se
deslocar até a casa de Seu Eduardo e solicitar o transfer de mula
para Andaraí.
>
3º dia: Saída para Andaraí a pé ou alugando alguma mula com os
moradores.
LOGÍSTICA:
Como
é normal em uma travessia, o ponto inicial e o final são distintos
e relativamente distantes. Portanto, é preciso organizar uma
logística de ida e volta. No entanto, diferentemente de outras
travessias, essa conta com algumas facilidades para chegar e sair.
Se
estiver com veículo próprio ou alugado, deixe-o em Andaraí. Daí
são 3 opções para subir até Mucugê:
1ª:
Ônibus de linha da viação Novo Horizonte. O primeiro carro passa
em Andaraí por volta das 07:00, o bilhete custa menos de R$10 e a
viagem dura cerca de 1h.
2ª:
Van “de linha”. Existem algumas que fazem, principalmente, o
trajeto Nova Redenção x Cascavel. As primeiras passam em Andaraí
logo antes das 06:00, sendo que no domingo só passa uma (horário
aproximado 05:50). Pode ser que a viagem seja um pouco mais cara que
a de ônibus, o tempo gasto é praticamente o mesmo.
3ª:
Transfer contratado, pode ser carro ou mesmo moto. A viagem de moto
deve sair por pelo menos R$50. Há algumas pessoas em Andaraí que
fazem o trajeto.
Nos
dois primeiros casos, peça para descer no Posto Serra Verde, ao
invés de descer na cidade de Mucugê. No caso de transfer
contratado, a melhor opção é que o carro entre na RPPN Adília
Paraguassu e avance pela estradinha o máximo possível, cortando
alguns quilômetros de caminhada.
Se
não estiver de carro, vá para Mucugê no dia anterior ao início da
travessia. Além da viação Novo Horizonte, que possui linhas para
Bonito, Seabra e Vitória da Conquista; há também a viação Cidade
Sol, que faz a linha Salvador x Mucugê, com saída de SSA às 08:30
(com ônibus extra nas sextas 20:30) e retorno às 05:30.
Se
preferir deixar o veículo em Mucugê, a alternativa é chegar em
Andaraí a tempo de pegar algum carro que sobe para Mucugê. O ônibus
da Cidade Sol passa em Andaraí por volta das 16:00, com destino a
Mucugê.
Fala Hélio, por puro destino não a fiz agora. no carnaval de 2019, mas será a ´próxima trilha, certamente! Pelo seu relato, com um mapa, búlssola e a trilha mapeada no wikiloc é possível realizar essa travessia. Não sou novato e tenho alguns pares de dezenas de anos de rolé pela Diamantina. O que acha?
ResponderExcluirAbraço e obrigado! Seu tracks tem sido de muita utilidade para mim!
Sorte pelos teus caminhos!
Comunica,
Excluircomo relatei, é uma trilha de navegação bem tranquila, com um GPS e sua experiência, imagino que não terá erro nenhum. Minha recomendação para o Cachoeirão é deixar pra ir após um período de chuvas na região, assim você poderá contemplar toda a beleza das cachoeiras.
Bons ventos!
Excelente relato! Obrigado por compartilhar com tantos detalhes!
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