11/03/2018

Travessia Mucugê x Andaraí (via Vale do Pati)

O Vale do Pati é, sem dúvida, um lugar peculiar. Para além daquele local escondido entre as serras da Chapada Diamantina, o que fascina é a diversidade de caminhos que dão acesso ao vale. Desde que cheguei à Chapada, o acesso ao Pati por Mucugê, via Gerais do Rio Preto, um dos menos percorridos atualmente, era o que mais me instigava. Numa dessas, aproveitei o feriado de Carnaval e a chance bem remota de encontrar grupos nessa trilha, para fazer uma travessia “alternativa” pelo Vale do Pati.

Foram 3 dias pelo Parque Nacional da Chapada Diamantina, a princípio percorrendo a unidade no sentido sul-norte e, depois, oeste-leste; tendo como principal atrativo o Cachoeirão, por cima e por baixo.


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1º Mucugê x Cachoeirão por cima (via Gerais do Rio Preto)

Depois de uma semana de chuvas frequentes em Andaraí e na Chapada, uma visita ao Cachoeirão parecia uma ótima pedida. Então combinei com Rodrigo, que trabalha comigo, de realizar essa travessia nos primeiros dias de Carnaval. Uma dúvida, porém, pairava sobre minha cabeça: seria possível cruzar o Rio Paraguaçu no seu encontro com o Rio Preto? Bom, parecia que sim.

Com tudo pronto, a madrugada de sábado nos presenteou com uma chuva forte em Andaraí. Pensando nos rios, que já estavam com um nível bem acima do normal, decidi adiar o primeiro dia da missão para domingo, esperando tempo firme no restante do dia. O tempo firmou, mas na madrugada/manhã de domingo outra garoa assombrou nossos planos, mas desta vez não dei o braço a torcer.

Encontrei com Rodrigo por volta das 06:00, no centro de Andaraí. A van que sobe pra Mucugê já tinha passado, mas o motorista havia informado que outra estava prestes a chegar. Esperamos cerca de 40 minutos e nada. Então decidimos subir até a pista, ver se aparecia alguma van, ônibus ou carona para Mucugê. Como se fosse combinado, logo que cheguei na saída de Andaraí, apareceu um ônibus da Viação Novo Horizonte. Sem titubear embarcamos na nave por volta das 07:00 e pagamos menos de R$10 pela viagem de 50km.


Encontro Rio Paraguaçu e Preto

Por volta das 08:00 desembarcamos no Posto Serra Verde, na saída de Mucugê. Uma fina garoa insistia em cair, o que nos fez enrolar por mais algum tempo, na expectativa do tempo melhorar em breve. Nada feito. Então às 08:41 deixamos o posto sobre uma leve garoinha que logo se dissipou.

Andamos quase 1km na beira da rodovia BA-142, sentido Barra da Estiva, e saímos pela tangente numa curva, entrando na RPPN por uma estrada de terra. Adiante, numa bifurcação, deixamos a estrada em melhores condições em favor de uma estradinha precária e arenosa. Foram mais 2.1km pela estradinha, sem muitos atrativos visuais, até chegarmos ao encontro do Rio Preto com o Paraguaçu, eram 09:21.

No local há uma espécie de barragem, feita com pedras empilhadas. Embora a água estivesse bem acima do normal, a travessia foi tranquila passando por essas pedras, mas tivemos que tirar botas e calças para não molhar de bobeira (mal sabíamos do que estava por vir rs). Fiz duas viagens para atravessar o rio e, em seguida, cruzamos o lajeado para encontrar a trilha na outra margem.

A trilha do Rio Paraguaçu até as proximidades da Toca do Gavião ainda está demarcada, com poucos pontos confusos e alguns trechos mais discretos. O importante é que ainda está lá. Qualquer montanhista com experiência em seguir trilhas não terá qualquer dificuldade de navegação, principalmente se tiver em mãos um GPS com o tracklog carregado.

Deixando o Rio Paraguaçu, a vegetação neste ponto inicial é uma transição entre cerrado e campos de altitude. Como a trilha tem sido pouco utilizada, a vegetação está bem rente em alguns pontos, por isso o ideal é caminhar com braços e pernas protegidos. 3Km após a passagem pelo rio, percebo uma trilha batida que sai à esquerda do eixo em que seguíamos. Como nas proximidades havia uma grande rocha, acredito que do outro lado esteja a chamada Lapa do Caboclo, local que pode ser utilizado para pernoite. Como estávamos começando o dia e a caminhada, passamos direto, continuando no sentido noroeste.

Adiante a trilha dá uma guinada para nordeste, iniciando uma ligeira subida com alguns degraus. Neste ponto vimos diversas teias com dezenas de aranhas. As teias, bem mais grossas do que estou habituado a ver, cruzavam a trilha, formando verdadeiros varais. rs.

A vegetação vai mudando para um campo de altitude e vamos nos aproximando da cabeceira do Córrego da Pedra Redonda, afluente do Paraguaçu. Cruzamos um muro de pedras e, logo a frente, um riachinho, primeiro ponto de água da travessia. Logo após o riacho há um trecho um pouco confuso, é possível observar algumas trilhas em diferentes direções. Continuamos por uma trilha à direita, seguindo no sentido norte e, alguns metros depois, viramos praticamente 90º à esquerda, tomando um trilho no rumo oeste-noroeste.


Gerais do Rio Preto

Cruzamos outro muro de pedras e seguimos por um aclive suave, ainda numa zona de transição entre cerrado e campos de altitude. A nossa direita temos a Serra da Continguiba, com diversas nascentes que abastecem o Rio Preto, que está à esquerda, no fundo do vale. Até a entrada para a trilha que desce para o Cachoeirão, cruzamos 14 riachos ao todo, sem contar outras muitas nascentes de menor porte. Tanta água na região dos gerais faz com que a trilha esteja debaixo da água por longos trechos, tornando a caminhada um pouco mais lenta e muito úmida, o que é péssimo para os pés.

Às 12:02 paramos na beira de um riacho para “almoçar”, em pouco mais de 3 horas de caminhada havíamos percorrido 11.3km, o que não era nem metade do esperado para o dia. Dentro do possível o almoço foi rápido, e antes das 12:45 já tínhamos voltado para caminhada.

A medida que a caminhada avança vamos ganhando elevação, num ritmo bem tranquilo. Afinal são menos de 300 metros de desnível em 30km de caminhada. A vegetação vai se tornando, definitivamente, um campo de altitude. Árvores são quase inexistentes nesse trecho, tirando algumas pequenas nas proximidades dos riachos. Vamos seguindo sempre paralelos ao Rio Preto, embora seja bem difícil vê-lo neste ponto da caminhada.

Imprimi um ritmo forte e constante, conseguindo andar na média de 4km/h em alguns trechos. Ter que cumprir os 29km não nos dava muita opção além de andar. Às 16:46 parei numa sombra, próximo a um dos vários riachos, para verificar algo que me incomodava na bota. Achei que alguma pedra tinha entrado no calçado, mas já era a umidade constante dando as caras: uma bolha se formava no centro do pé.

Depois de horas e horas de caminhada pelo gerais, enfim vamos nos aproximando de um vão na Serra da Continguiba, ponto onde interceptamos a trilha que desce para o Cachoeirão. Enquanto esperava Rodrigo se aproximar, vi que um atalho nos pouparia alguns minutos de caminhada. Quando ele chegou saímos da trilha principal tomando uma bem discreta à direita. Ainda tínhamos mais 2.6km de caminhada e o por do sol era iminente.

Às 17:46 passei pela entrada da Toca do Gavião, local que pode ser utilizado para pernoite, até mesmo em bivaque. Como Rodrigo estava próximo, fui me adiantando para chegar ao Rio Cachoeirão com luz suficiente para tomar um merecido banho e lavar uma parte das roupas utilizadas no dia. A trilha estava bastante encharcada e com diversos atoleiros. Às 18:18 cheguei ao poço do Rio Cachoeirão e tratei logo de entrar na água, que estava bem geladinha. Depois de alguns minutos Rodrigo apareceu, tão cansado que tinha desistido até do banho rs.

Ajeitei as coisas e, de chinelo, desci mais algumas dezenas de metros até o mirante do Cachoeirão por cima, ponto onde armaríamos as barracas. Próximo ao mirante havia somente uma pequena área, com menos de 10m², única onde seria possível fincar os espeques. Ali decidimos ficar e encerramos o expediente às 18:42.

Noite de céu estrelado no topo do Cachoeirão e sem ninguém por perto. Depois da janta só foi possível dormir. Neste dia caminhamos 27.9km.

2º Cachoeira por cima x Cachoeirão por baixo

Depois de uma boa noite de sono, acordei antes das 6 pra ver o sol nascendo por trás da Ladeira do Império. O céu estava bem aberto, então, como não poderia deixar de ser, foi um espetáculo. Depois voltei pra barraca e dormi mais algumas horas rs. Rodrigo aproveitou minha preguiça para curtir o poço do Rio Cachoeirão e tomar café.

Um pouco antes da 9 o sol já fritava a barraca e eu estava assando dentro dela. Então levantei e fui apreciar um pouco da vista do mirante. Deu pra perceber a diminuição do nível d’água, em relação à noite anterior. Ainda assim o Cachoeirão estava magnífico, bateu uma vontade súbita de descer correndo até o poço, então fui chamar o Rodrigo pra começarmos a descida.


Cachoeirão de corpo inteiro

Para quem deseja fazer o Cachoeirão por cima e por baixo num único dia, ou na sequência, o ideal é fazer a trilha conhecida como “fenda do Cachoeirão”. Quem cantou a pedra pra mim foi André, vulgo Badega, guia de Andaraí. Sem essa preciosa dica, meus planos eram de descer pela fenda da Prefeitura, o caminho mais curto que eu conhecia. A dica foi excelente, mas a questão era: conseguiríamos achar essa trilha?

Às 09:26 deixamos a parte alta do Cachoeirão, seguindo por uma trilha bem demarcada que segue à esquerda do mirante, sentido norte. O caminho está bem limpo e demarcado, embora existam vários trechos sobre os lajeados, há algumas setas discretas marcadas na rocha. A navegação foi puramente visual, já que não tinha a rota no GPS. Então nas duas bifurcações que identifiquei, tive que conferir para onde as trilhas mais discretas iam.

Saindo do Cachoeirão, 150 metros depois, há uma descida íngreme, onde foi colocada uma escada. Depois de cruzar esse pequeno vale, continuamos no caminho demarcado por mais 580 metros e chegamos a uma espécie de lapa. Contornamos o local pela esquerda e logo adiante, descemos por uma espécie de fenda, uma descida bem acentuada. Atravessamos mais um vale e iniciamos uma subida moderada. Ao fim do aclive chegamos na bifurcação que eu tanto esperava. E a identificação do local não poderia ser melhor. Nas pedras colocaram duas setas: uma pra esquerda, indicando casa de Jailson; e outra pra direita, indicando Toca do Gavião. Não sabia que o nome seria esse, mas era o que eu procurava.

Chegamos à bifurcação às 10:26, depois de andar 1.1km. À direita a trilha seguia limpa e bem demarcada. Parece que limparam a área recentemente, já que havia alguns capins cortados nas beiradas da trilha. De agora em diante a trilha segue em constante declive. Passamos por um ponto de água 5 minutos após a bifurcação, aproveitei para hidratar e encher minha garrafinha pois tinha saído do Cachoeirão sem água. Nessas travessias não levo nenhum produto para tratamento da água, embora não seja o recomendado. Também não pego água de qualquer local, dou preferência pros pequenos riachos e pras nascentes. Como já acostumei a beber a “água da serra”, não costumo sofrer nenhum “efeito colateral” durante ou depois das trilhas.

Depois de abastecer as garrafinhas, rapidamente chegamos na beira da serra, por onde boa parte da trilha se desenvolve. É um trecho com visual belíssimo do vale do Cachoeirão, a trilha fica entre a serra e o precipício. O que me surpreendeu, além da paisagem, foi a existência de um cabo de aço fixado na parede, o que dá mais segurança aos caminhantes.

Por uma curva de nível vamos descendo a serra, mas a “engenharia” não impede que os declives sejam acentuados. Em algumas partes conseguiram escavar degraus na terra, facilitando pros joelhos. Passamos por um ponto de água e, depois de descer bastante, por um riacho. Na travessia do riacho há um cabo de aço pra ajudar a transposição, pois algumas rochas são escorregadias e, em caso de cabeça d’água, ainda existe a possibilidade de conseguir atravessar.

Embrenhados em um capão de mata, continuamos por um declive acentuado até interceptar a trilha que leva aos poços do Cachoeirão, onde chegamos às 11:11, depois de 3.3km de caminhada. Como voltaríamos a esse ponto depois de visitar o poço do Cachoeirão, entocamos as cargueiras na mata e continuamos a trilha sem peso. É absolutamente recomendável fazer desta forma, pois a trilha para o poço é muito irregular, com diversos trechos de pula-pedra.

Desde o entroncamento, a caminhada para o poço tem aproximadamente 1km de extensão. O GPS neste trecho não é muito preciso (pelo menos o eTrex 20), pelo fato de estarmos avançando dentro de um cânion, então a marcação da distância percorrida não é muito precisa. O fato é que a trilha segue, sempre, à direita do Rio Cachoeirão. Às 11:37 chego ao leito do rio, mas é preciso ter atenção: a trilha continua discreta ainda pela direita. Nada de ir pulando as pedras do leito. Avançamos mais um pouco e chegamos, novamente, ao leito do rio. Desta vez não tem escapatória, vamos pulando pedra até os poços.

Cachoeirões

O primeiro poço está à direita, próximo a uma queda d’água (nas estiagens mais longas essa cachoeira pode não existir). A queda, porém, não cai diretamente no poço. Como o que me chamou atenção lá do alto foi o segundo poço, tratei de ir direto pra lá. Subi um pouco pelo leito e vi que um casal entrou na mata à direita. Fui atrás deles e percebi uma trilha bem discreta, que facilmente passaria despercebida. A trilha é bem irregular, mas é a melhor opção de acesso ao segundo poço, já que as rochas do leito são grandes e demandaria um bom esforço físico.

Às 11:58 estava no segundo poço do Cachoeirão, ao meu ver, o principal. Haviam alguns grupos por lá, mas ninguém na água. A coluna de água, com 270 metros de queda livre, dançava de acordo com os ventos e caía em todos os cantos, molhando até aqueles distantes do poço. Como o sol ainda batia no poço, tratei logo de entrar. A água estava em uma temperatura bem agradável e fui possível aproveitar bastante o local. Fiquei até não restar raio de luz no local, então voltei para o primeiro poço, onde Rodrigo estava.

No meio do caminho de volta encontrei um francês radicado no Brasil, que me convidou para tomar um banho em algumas das várias quedas d’água que existem na parte de baixo do Cachoeirão. Pulamos muitas pedras, algumas bastante escorredias, e visitamos algumas cachoeiras que ficam entre o primeiro e o segundo poço. Depois dessa exploração não esperada, voltei ao segundo poço e iniciamos a caminhada de volta, com destino a casa de Domingos.

Voltamos pouco mais de 1km até as mochilas e caminhamos mais 2.3km até a casa de Domingos, nosso local de pernoite. Optamos pela pensão completa, com direito a janta, café da manhã e cama. A diferença entre acampar e dormir na cama era de R$20, como a casa não estava cheia, decidi evitar o trabalho de armar e desarmar a barraca. Em relação à comida, também me programei para jantar e fazer o desjejum no local, fazendo com que a caminhada fosse um pouco mais leve.

Chegamos ao local às 16:33, fomos tomar um banho no rio Cachoeirão, que passa em frenta a casa, e foi só esperar a janta, servida somente às 19:00. Depois de muita comida, histórias e roda de violão, era hora de descansar.

Neste dia caminhamos, aproximadamente, 8.3km.

3º Casa de Domingos x Andaraí

As descidas pesadas do dia anterior e um escorregão na serrapilheira fizeram com que uma dor no meu joelho esquerdo aparecesse com planos de ficar. Por conta disso, além do fato de ter pernoitado na casa de Domingos, decidi abortar uma visita ao Cânion do Guariba, que fica abaixo da casa de Seu Joia, próximo a Ladeira do Império. Uma visita ao cânion implicaria em mais 6km de caminhada e em subir a serra com sol a pino. Ficou pra próxima.

Vale do Pati próximo a casa de Joia

Tomamos café com tranquilidade em Domingos e, depois de ver alguns grupos saindo, decidimos partir também e às 08:20 estávamos com o pé na trilha. Em terreno mais amistoso, menos irregular, a caminhada segue paralela ao Rio Cachoeirão. Próximo à casa de Antônio, 500 metros após Domingos, chegamos a uma bifurcação, onde seguimos pela direita. À esquerda a trilha segue para a Prefeitura e Pati de cima. Adiante cruzamos uma pinguela sobre o Rio Cachoeirão e seguimos por uma trilha sombreada, enfrentando alguns aclives.

Depois de 1.6km, às 08:58 chegamos a casa de Seu Joia. Paramos um pouco para tomar uma água gelada e prosear com Xande, um dos filhos de Joia. Sem muitas delongas, reiniciamos a caminhada, agora teríamos pela frente a Ladeira do Império. Após cruzar o Rio Pati, pela ponte de madeira, são 2.7km de subida contínua. O trecho é todo calçado por pedras e possui ótimo visual para o vale do Cachoeirão e do Pati, para além da Serra do Sobradinho e Morro do Castelo.

Coloquei pressão na subida e com 1h08 cheguei ao mirante, um pouco abaixo do final da subida. Aproveitei o local para descansar e esperar Rodrigo, que chegou 35 minutos depois rs. Agora começava o trecho que eu considero o mais chato, a descida até Andaraí. Depois de bater os 1.082 metros de elevação, na virada da serra, é preciso descer até os 407 metros, que é onde está Andaraí. São 675 metros de desnível em 9km, desafio para um joelho dolorido.

A descida até Andaraí intercala declives moderados com trechos praticamente planos, que davam um alívio para o joelho cansado. Logo no início da descida temos a bela visão de uma cachoeira no Rio Baiano, um dos poucos atrativos visuais no percurso. A trilha se desenvolve por campos rupestres, com poucas sombras e muito sol na cabeça. Só pra varir, o sol estava de rachar mamona. Menos mal que é um trecho abundante em água, então tem sempre um riachinho ou nascente para se refrescar e hidratar.

Vista da Ladeira do Império, com Serra do Sobradinho (centro), Morro do Castelo (centro-direita, em último plano)

Durante a descida fiz duas pausas mais longas, uma na sombra pra comer e outra na “Boa Vista”, ponto no qual temos a visão de toda a cidade de Andaraí e onde pega sinal de celular. Avisei em BH que estava a 4km de terminar e continuei na labuta. Na descida predominam os afloramentos rochosos e os calçamentos irregulares, tornando a caminhada “dura”.

Depois de 3h14, enfim venci os 9km de descida. Como estou morando no final da trilha, já lancei o chinelo nos pés e fiquei esperando Rodrigo, que chegou logo depois. Mais uma travessia na conta, elaborada e concluída com êxito. Esse roteiro “alternativo” nos proporcionou atravessar o vale do Pati, numa época de alta temporada, sem encontrar grupos imensos na trilha ou atrativos cheios, o que é sempre bom.

Neste dia caminhamos 14.2km.

No total caminhamos aproximadamente 50.5km em três dias.

DICAS E INFOS:

Trata-se de uma travessia de dificuldade moderada, oferecendo poucos desafios e barreiras aos caminhantes. Entretanto, faz-se necessário um bom condicionamento físico e familiaridade no transporte de cargueiras, já que no primeiro dia a pernoite é em camping natural.

A rota pode ser realizada nos dois sentidos, sem qualquer prejuízo para os caminhantes. Porém, iniciando em Andaraí, o trajeto terá mais subidas que descidas. À exceção de alguns pontos do trecho Mucugê x Cachoeirão por cima, a trilha é bem demarcada em toda sua extensão, sendo de fácil navegação. No primeiro e no último dia a maior parte da caminhada é por áreas não sombreadas, expostas ao tempo.

Há boa oferta de água no caminho, com muitas nascentes e riachos, principalmente no período após as chuvas.

Uma alternativa para caminhar mais leve é antecipar o “camping” no primeiro dia, fazendo a pernoite na Toca do Gavião, local coberto onde não é necessário barraca. E no segundo dia usar a infraestrutura da casa de Seu Eduardo, hoje sob responsabilidade de Domingos. Atualmente (março/2018) é cobrado um valor de R$120 por pessoa, a título de pensão completa (janta + cama + café da manhã). Se preferir, é possível acampar no quintal ao invés de utilizar a cama, neste caso tem um desconto de R$20.

No modo tradicional autônomo, recomendo acampar na proximidade do Cachoeirão por cima e depois acampar em uma área anterior à Casa de Seu Eduardo, com terreno plano e próxima ao rio. Desta forma não há qualquer custo nesta travessia.

Sinal de telefone somente no trecho final da travessia, já chegando a Andaraí.

Em caso de emergência/necessidade, o caminhante pode utilizar as seguintes rotas de fuga:
> 1º dia: Retorno à Mucugê
> 2º dia: Antes de descer ao poço do Cachoeirão, saída para Guiné pela trilha do Beco. Depois de descer ao poço, o ideal é se deslocar até a casa de Seu Eduardo e solicitar o transfer de mula para Andaraí.
> 3º dia: Saída para Andaraí a pé ou alugando alguma mula com os moradores.


LOGÍSTICA:

Como é normal em uma travessia, o ponto inicial e o final são distintos e relativamente distantes. Portanto, é preciso organizar uma logística de ida e volta. No entanto, diferentemente de outras travessias, essa conta com algumas facilidades para chegar e sair.

Se estiver com veículo próprio ou alugado, deixe-o em Andaraí. Daí são 3 opções para subir até Mucugê:
1ª: Ônibus de linha da viação Novo Horizonte. O primeiro carro passa em Andaraí por volta das 07:00, o bilhete custa menos de R$10 e a viagem dura cerca de 1h.
2ª: Van “de linha”. Existem algumas que fazem, principalmente, o trajeto Nova Redenção x Cascavel. As primeiras passam em Andaraí logo antes das 06:00, sendo que no domingo só passa uma (horário aproximado 05:50). Pode ser que a viagem seja um pouco mais cara que a de ônibus, o tempo gasto é praticamente o mesmo.
3ª: Transfer contratado, pode ser carro ou mesmo moto. A viagem de moto deve sair por pelo menos R$50. Há algumas pessoas em Andaraí que fazem o trajeto.

Nos dois primeiros casos, peça para descer no Posto Serra Verde, ao invés de descer na cidade de Mucugê. No caso de transfer contratado, a melhor opção é que o carro entre na RPPN Adília Paraguassu e avance pela estradinha o máximo possível, cortando alguns quilômetros de caminhada.

Se não estiver de carro, vá para Mucugê no dia anterior ao início da travessia. Além da viação Novo Horizonte, que possui linhas para Bonito, Seabra e Vitória da Conquista; há também a viação Cidade Sol, que faz a linha Salvador x Mucugê, com saída de SSA às 08:30 (com ônibus extra nas sextas 20:30) e retorno às 05:30.


Se preferir deixar o veículo em Mucugê, a alternativa é chegar em Andaraí a tempo de pegar algum carro que sobe para Mucugê. O ônibus da Cidade Sol passa em Andaraí por volta das 16:00, com destino a Mucugê.

3 comentários:

  1. Fala Hélio, por puro destino não a fiz agora. no carnaval de 2019, mas será a ´próxima trilha, certamente! Pelo seu relato, com um mapa, búlssola e a trilha mapeada no wikiloc é possível realizar essa travessia. Não sou novato e tenho alguns pares de dezenas de anos de rolé pela Diamantina. O que acha?

    Abraço e obrigado! Seu tracks tem sido de muita utilidade para mim!

    Sorte pelos teus caminhos!

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    1. Comunica,
      como relatei, é uma trilha de navegação bem tranquila, com um GPS e sua experiência, imagino que não terá erro nenhum. Minha recomendação para o Cachoeirão é deixar pra ir após um período de chuvas na região, assim você poderá contemplar toda a beleza das cachoeiras.

      Bons ventos!

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  2. Excelente relato! Obrigado por compartilhar com tantos detalhes!

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