16/02/2017

PN Serra do Cipó: Cachoeira Braúnas 2.0

Um dos tesouros da Serra do Cipó, a cachoeira Braúnas é considerada por alguns um mito da região. A verdade é que seu acesso nem é tão complicado assim, prova disso é que fizemos um bate-volta até ela, começando a pernada nos arredores do povoado de Altamira (Nova União-MG), em uma localidade conhecida como Mutuca de Cima.


Braúnas está inserida no Parque Nacional Serra do Cipó, fica na porção sul da unidade de conservação, a uns 4km acima do famoso Cânion Bandeirinhas. Ela é formada pelas águas do Córrego Mutuca e da Garça, que se encontram em uma região próxima ao topo da queda. Tanto a cachoeira como o poço devem ser um dos maiores, se não for o maior, do Parque Nacional.

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Em junho de 2015, no dia mais curto do ano, fiz com um grupo de amigos o trekking até a cachoeira. Estávamos sem GPS, ninguém sabia o caminho e eu tinha a carta topográfica da região impressa em um pedaço de papel. Tinha quase tudo pra dar errado. Sofremos com a trilha, acampamos no meio do caminho, mas encontramos a Braúnas. Agora era hora de ir a desforra, fazer a trilha com tranquilidade na companhia da Giulia e da Amanda. 2017 começando da melhor forma possível.


Numa manhã sem nuvens de sábado saímos dos arredores de Sabará e pegamos a BR-381 sentido Vitória-ES. Dentro do possível a 381 estava tranquila, com movimento considerável de veículos, mas sem retenções. Gastamos por volta de um hora de viagem para chegar a sede da pequena Nova União, a 45km de distância. Depois de passar pelo centro do município pegamos mais 25km de estrada, quase tudo de terra. Até Carmo da União a estrada estava em boas condições. Piorou um pouquinho até Altamira e depois piorou bastante até o ponto em que deixamos o carro, numa localidade conhecida como Mutuca (ou Altamira de Cima). Embora a condição da estrada não seja das melhores, qualquer carro de passeio consegue percorrer o trajeto. Claro que carros mais baixos, como sedãs, sofrem mais.


Deixamos a viatura bem no início da trilha, que é uma bifurcação. Depois de arrumar as mochilas de ataque, demorei um pouco até entender qual dos caminhos deveria seguir. Depois de perceber que o certo era o da direita, começamos a subir por uma trilha bem batida e erodida, provavelmente uma passagem de gado, por dentro de um capão de mata. São várias as bifurcações e trilhas paralelas nesse início, quase sempre indo na mesma direção, o alto da serra.



Saindo do primeiro capão de mata, topamos com uma casinha de madeira à esquerda trilha, equipada com um fogãozinho a lenha, provavelmente um ponto estratégico para os vaqueiros da fazenda. Continuamos a subida por um outro capão de mata e saímos novamente em um trecho mais aberto; a vegetação era uma transição entre os capões de mata atlântica e campos de altitude/rupestres.


Após 800 metros de caminhada, entramos por uma porteira e continuamos, adivinha?, subindo! Adiante entramos à direita em uma tronqueira, cada vez mais próximos do ponto mais alto da caminhada. A trilha sobe em direção a uma pequena fenda na serra, uma passagem natural pela Serra da Mutuca. Depois de 1,5km alcançamos o ponto mais alto da jornada, o GPS marca 1469m. Uma placa avisa que estamos entrando na área do Parque Nacional da Serra do Cipó.


Começamos uma suave descida por campos de altitude, com amplo visual das serras ao nosso redor. Logo passamos por uma afluente do Ribeirão Bandeirinha (IBGE), com águas cristalinas e em boa quantidade. 500 metros após cruzar o córrego, há a bifurcação mais importante desta trilha. Os dois caminhos levam ao fundo do vale e ao nosso destino, mas o da esquerda é uma trilha mais batida e tranquila, enquanto o da direita tem vários sufocos entre matas de samambaia e trechos de trilha de vaca. Da primeira vez escolhemos a trilha da direita e sofremos para chegar a Braúnas, precisando acampar no meio do caminho.



Pela trilha da esquerda seguimos, por um relevo bem suave, descendo aos poucos, caminhando na direção norte. Passamos por outros afluentes do Ribeirão Bandeirinha e trechos de areia, sempre com um bom visual do horizonte. Após o terceiro córrego da trilha, seguimos mais alguns metros sentido norte e logo a trilha dá uma guinada para leste. Agora a descida fica um pouco mais puxada, partindo em direção ao fundo do vale.


Quase chegando ao ribeirão, passamos por uma boa área para acampamento, toda gramada, plana e relativamente próximo a água. Uma pena que ela fica no meio do caminho entre Altamira e a cachoeira. O fundo do vale é o trecho que merece mais atenção. Logo chegamos a um pequeno afluente do Ribeirão Bandeirinhas, onde começa um pequeno trecho de vegetação mais cerrada. Em alguns pontos os arbustos cresceram de tal forma que trilha some um pouco, então é preciso ter atenção para não cair em tentação e sair do rumo. Nesta passagem, o que chamou nossa atenção foi uma mangueira de captação que passava por lá, longe de qualquer habitação que tenho conhecimento.


Após cruzar o pequeno córrego, andamos mais um pouco por um trecho de cerrado e, finalmente, chegamos ao Ribeirão Bandeirinhas, depois de caminhar 5,5km. Como já tínhamos quase 2 horas de caminhada, aproveitamos uma das poucas sombras do caminho para lanchar e descansar um pouco, pois o Sol estava de rachar mamona.


Esta parte do ribeirão é bem aconchegante e muito convidativa para um banho. Ficamos só querendo mesmo, pois tínhamos mais 5km pela frente. Na saída de lá, atenção para a continuação da trilha, a vegetação também encobriu algumas partes dela, mas é tranquilo de seguir. Depois de um curto trecho de mata ciliar, estávamos novamente em campo aberto, a trilha retomava o rumo norte e agora tínhamos uma ligeira subida pela frente.



Cerca de 500 metros após o ribeirão passamos pelo último ponto de água antes da Braúnas. É bom abastecer a garrafinha aqui. Do outro lado do vale continuávamos por campos de altitude, seguindo uma trilha bem batida e de fácil navegação. Este trecho alterna pequenas subidas e descidas bem suaves.


Quando nos aproximamos de um capão de mata bem interessante que fica à direita da trilha, começamos a perceber vestígios de fogo naquela região. Em alguns pontos a trilha funcionou como um aceiro, já que a vegetação queimou só de um lado. Após o capão de mata os campos de altitude dão lugar aos campos rupestres, estamos cada vez mais próximos da cachoeira.


Depois de uma ligeira subidinha, começamos a descer e também a visualizar, por partes, a  Braúnas. Primeiro aparece o poço superior, tão grande quanto o último, conhecido como Brauninha. Depois aparece o topo da Braúnas e, por fim, a queda de corpo inteiro. Estava grandiosa, com boa vazão d’água.


Depois de visualizar a queda por inteiro, a trilha começa uma descida mais acentuada em direção ao poço, que está bem abaixo. Em 500m de trilha há um desnível aproximado de 120m, com muito cascalho solto. É preciso ter atenção e pisar firme, pra não correr o risco de chegar rolando a cachoeira. Ao fim da parte mais puxada da descida, chegamos a uma espécie de área de camping selvagem, a única na proximidade do poço. A área tem muito cascalho espalhado, mas há um ponto mais plano e gramado, que pode oferecer o mínimo de conforto durante a noite. Não é um local que cabe muitas barracas, quem sabe duas pequenas e olhe lá. Mais que isso, terão que se contentar com os campos rupestres.


Na área para acampamento, outra bifurcação. O caminho da esquerda leva ao mirante frontal da cachoeira, que proporciona uma vista belíssima do conjunto queda + poço. O da direita segue descendo e em dois minutos estamos na beira da cachoeira.


O poço é enorme, ótimo para o banho, principalmente no verão, período que a água fica numa temperatura bem agradável, muito refrescante. À direita da queda algumas árvores fornecem um pouco de sombra. São várias rochas de várias formas e dispostas dos mais variados jeitos, que proporcionam uma ampla área para descanso. A cachoeira é ainda mais bela de perto. Nadando é possível chegar com facilidade ao local da queda, já que a água cai em algumas rochas e não direto no poço.


Em pouco menos de 3h30, com direito a uma boa parada para descanso, fizemos os 10,4km que separam a localidade de Mutuca da Cachoeira Braúnas. No geral, classifico a trilha como de baixa dificuldade. O que pesa aqui é o preparo fisico para cumprir os quase 21km (ida e volta) em um dia, além dos desníveis acentuados no começo e no final da trilha.



DICAS E INFOS:
Todo o acesso é feito por estrada e trilha de livre acesso, não há qualquer restrição em relação a passagem de veículos e ao acesso a pé. Trilha gratuita;


Grande parte do trajeto é feito por áreas abertas, capriche no protetor solar e não se esqueça do chapéu;


Boa disponibilidade de água no caminho, em grande parte do ano;


Sinal de telefone durante a subida da Serra da Mutuca (trecho inicial);


A cachoeira Braúnas está inserida no Parque Nacional da Serra do Cipó, independente disso, contribua para a conservação do local. Recolha seu lixo e o leve de volta. Discrição se for acampar no local. Não faça fogueiras;


Atente-se para o horário de retorno, saímos da Braúnas por volta das 16h30 e chegamos ao carro beirando as 20h. Como era horário de verão, não tivemos que caminhar a noite. Em todos os casos, leve uma lanterna.


COMO CHEGAR:
De carro, saindo de Belo Horizonte, siga pela BR-381 (sentido Vitória-ES) até o trevo de entrada para Nova União. O asfalto vai até a sede do município. Mantenha a esquerda ao chegar na cidade, seguindo sentido Carmo da União e Altamira. Logo após a entrada da cidade começa o trecho de terra, que tem cerca de 25km de extensão até Mutuca (Altamira de cima). Até Altamira a estrada é bem sinalizada, de lá é só seguir pela principal para a localidade de Mutuca. 2,2km após a ponte de concreto sobre o Rio Preto, entre à direita na bifurcação e siga até onde for possível de carro. Há uma bifurcação no fim da estradinha, cada caminho vira uma trilha, siga pela da direita. É o início da trilha marcada para a Braúnas.


De ônibus, há linha regular de coletivo entre BH e Nova União. Consulte o número, o itinerário e os horários no site do DER. De Nova União até Altamira o trajeto pode ser feito no coletivo da Transtatão, que tem dois horários diários, táxi ou carona. Lembrando que o início da trilha está a cerca de 8,5km da igreja de Altamira e a parte final do trajeto tem pouca movimentação de veículos.

3 comentários:

  1. Rapaz, eu fui lá uma vez sem mapa e gps tb! Na bifurcação mais importante eu peguei o caminho da direita, e voltei por ele! Muito ruim e complicado! Sabia que tinha algo errado! Rsrs

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    1. Eu não sei se ali é realmente ruim ou se fizemos todas as escolhas erradas na primeira vez kkkkk porém serviu de aprendizado.

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  2. ha alguma marcacao no maps de onde se para com o carro?

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