06/04/2015

Cumuruxatiba (Prado-BA)

BH – Cumuruxatiba: 820km

O nome só é complicado de lembrar até você conhecer o lugar.

Depois de 7 dias pela Chapada Diamantina na companhia do Tião, estava devendo uma boa viagem “de casal” com a Giulia. Já no meio de 2014 decidimos que o destino no final do ano seria Caraíva, no litoral sul da Bahia, queríamos um lugar bem tranquilo longe da farofa. E assim ficou decidido até o início de dezembro, quando, pelo Facebook, conheci Cumuruxatiba.

Aí não tive dúvidas, falei com a Giulia que a primeira parada seria Cumuru e de lá seguiríamos para Caraíva. Ela aceitou bem a mudança de planos, até porque as fotos que vimos de lá eram animadoras. Pesquisando mais um pouco sobre a vila vimos que dividir a semana entre Cumuru e Caraíva seria muita correria, então a decisão natural foi deixar Caraíva de lado e passar toda a semana do feriado de Natal nas praias de Cumuruxatiba.

Barraquinha

Cumuruxatiba era uma vila de pescadores pertencente à Prado, hoje prefiro dizer que é um distrito de Prado, a 30km da sede do município. Está na região do litoral sul da Bahia conhecida como Costa das Baleias, junto com os municípios de Nova Viçosa, Mucuri, Caravelas e Alcobaça. Como não é difícil de se imaginar, o nome da região vem das baleias jubartes, que aparecem por lá no inverno do hemisfério sul, em busca de águas mais aconchegantes.



Chegando em Alcobaça, se não me engano, há uma placa indicando que, dali pra frente, são mais de 70km contínuos de praia. É muita praia! Então fizemos um roteiro de 6 dias, pra conhecer algumas praias de Cumuru e também a Ponta do Corumbau e a Barra do Cahy.

1º dia: Praia do Píer, do Peixe Grande e do Peixe Pequeno


O primeiro dia foi de aprendizado. Acordamos bem cedo, tomamos café e por volta de 7 horas já estávamos na beira-mar. A intenção era conhecer as praias mais próximas do centro da vila. A maré estava bem baixa, andamos muitos metros em direção ao mar e a água não passava dos joelhos. Ficamos um bom tempo na água e caminhando bajo el sol de um céu limpo de nuvens. Economizei no protetor em algumas partes e os raios ultraviolentos não perdoaram. A Giu já se assemelhava a um camarão. Aprendemos e nos dias que se sucederam caprichamos no protetor e evitamos o sol sempre que possível. Caminhada de preferência na sombra e com algum pano cobrindo as partes expostas.

Píer

A Praia do Píer foi nossa primeira parada. Sobraram só as estacas, concretadas na areia, do que um dia foi um píer bem extenso. Dizem que foram os próprios moradores de Cumuru que botaram fogo e destruíram o píer, para manter a tranquilidade da vila.

Seguindo para o norte, passamos pelas praias do Peixe Grande e do Peixe Pequeno, que são rios que desaguam no mar. Nada de mais e os rios são pouco convidativos para a entrada. Subimos mais um pouco até chegar nas primeiras falésias. De lá retornamos pela estrada, na tentativa de escapar do sol, mas já era tarde demais.

2º dia: Praia do Japara Grande e do Japara Mirim


Já vacinados com o sol do primeiro dia, decidimos ir até o Japara Grande de carro, já que pela praia seriam uns 10km de caminhada sem uma sombra sequer. É bom comentar que todos os acessos às praias estão sinalizados com placa, então não tem mistério. Seguindo no sentido Cumuru-Prado, entramos à esquerda na placa que indica a praia do Japara Grande, logo após a ponte sobre o rio de mesmo nome. Da estrada que dá acesso à praia é possível ver o mar ao fundo. Chegamos numa área gramada, perto de uma casa. Esta casa funciona como restaurante da semana do reveillon até o carnaval, e só. Como ainda era semana de Natal, tudo fechado, só o caseiro por lá.


Japara Grande

Descemos até a praia, depois de apreciar bastante a vista do alto da falésia. A praia do rio Japara Grande é a melhor e a mais bonita que já vi. Pela paisagem, pela tranquilidade (quando chegamos tinham outras 4 ou 5 pessoas lá) e pelo rio, ideal pra se refrescar daquele calor do mar e do sol.

Depois de ficar um bom tempo por lá fomos até a foz do rio Japara Mirim, a uns 15 ou 20 minutos de caminhada. Se for mais de 12:00h, as falésias proporcionam alguma sombra neste trajeto. Como o próprio nome indica, lá o rio é um pouco menor, e encontramos só uma família por lá também. Depois de improvisar na montagem de uma barraca pra ficar na sombra, descansamos um pouco sob as falésias e voltamos pro Japara Grande.

Quem pretende ir com crianças pequenas ou não sabe nadar, é bom prestar atenção na subida da maré. O rio deve ter aproximadamente 8 metros de largura nessa parte final, quando a maré vira o nível da água sobe e a correnteza fica um pouco mais forte. A opção pra quem ficar ilhado é voltar até o Japara Mirim e de lá subir até a estrada de terra, e caminhar de volta para a praia do Japara Grande.

3º dia: Praia do Moreira e Imbassuaba

Não queria ficar andando de carro todo dia, até mesmo pra aproveitar o local, mas o sol do litoral baiano desanima qualquer cidadão. Então, pensando nas duas coisas, resolvemos seguir sentido Imbassuaba pedindo carona pelo caminho. Depois de andar boa parte da beira-mar paramos perto da Praia do Peixe Grande e lá conseguimos carona com um broder que seguia até o fim da praia de Cumuru (mais ou menos até onde fomos no primeiro dia). Já era um trecho razoável sem sol. De lá seguimos pela praia até o Moreira, que quando a maré está baixa forma várias piscinas naturais e mostra seus recifes. Acompanhados por um dog, que estava nos seguindo desde o final da praia de Cumuru, continuamos caminhando até chegar na praia de Imbassuaba, que é a foz do rio de mesmo nome. Só mesmo água do rio pra refrescar.

Imbassuaba

Quando a fome deu seus primeiros sinais, decidimos marchar de volta pro camping. Não havia ninguém por lá pra oferecer uma carona, o negócio era caminhar até a estrada e tentar a sorte. O sol estava caprichado nesse dia e caminhamos um bocado até chegar numa porteira. Lá seguíamos por uma estrada com vestígios de mais movimento, estávamos até perto do estacionamento da Praia do Moreira, mas ninguém lá dava sinal de que iria embora. Sofremos mais um pouco bajo el sol até avistar, de longe, um carro vindo em nossa direção, mas ele parecia estar cheio (tinha um tanto de coisa no banco da frente). Fizemos aquele famoso gesto e o motorista parou, o banco, na verdade, estava cheio de brinquedos de criança, mas o carro só tinha o motorista, a esposa e o filho pequeno. Eles nos deram carona e foi assim que escapamos de muito sol na moleira e eventual bolhas nos pés.

4º dia: Ponta do Corumbau

Acordamos cedo e já tomamos um bom café, já nos preparando pra ficar o dia todo na Ponta do Corumbau, a 62km de Cumuru por estrada de terra e areia. Dessa vez não tinha como arriscar uma carona até lá, muito menos ir a pé. Então foi a nossa vez de dar carona pra um casal que estava no camping com a gente, que por coincidência também estudavam na UFMG (mundo pequeno!).


Ponta do Corumbau

A estrada pra Corumbau é razoável, dá pra ir tranquilamente com carro de passeio, mas é preciso ter atenção nas pontes estreitas e nas descidas e subidas fortes, que tem muitos buracos formados pela passagem da água. Em uma parte do caminho é possível avistar o Monte Pascoal, oh linda vista! Até Corumbau são cerca de 1h30, então é bom sair cedo pra chegar cedo e tentar pegar o pico da maré baixa.
Chegamos na Ponta por volta de 9:30h, se bem me lembro. A maré estava alta, mas, pra nossa sorte, estava abaixando. Deu pra caminhar um pouco pela areia e se afastar bem da terra firme. Ficamos por lá um bom tempo, sem se preocupar com o sol. Quando a fome apareceu, decidimos procurar por uma barraquinha (lá tem dezenas delas, com os mais variados preços). Optamos por uma com um preço levemente salgado, mas a ocasião merecia algo especial e comemos bem. Nem só de macarrão vive o homem.

5º dia: Praia da Areia Preta e Dois Irmãos

Neste dia bateu aquela preguiça de praia e do sol sapecando. Ficamos a manhã toda no camping, lavamos roupa, arrumamos nossas coisas e o carro, não ficamos só curtindo preguiça. Fizemos o almoço e consegui dobrar a Giulia pra ficarmos mais um tempo quieto. Lá pelas 4 horas da tarde, resolvemos sair da toca. Como já era meio tarde pra andar alguns km até a praia, decidimos ir de carro até a Praia da Areia Preta, que fica pertinho do centro de Cumuru.
De carro, a Areia Preta é acessada através de um bairro mais afastado de Cumuruxatiba, a rua termina numa pirambeira, uma descida bem íngreme pela falésia até chegar na beira-mar. A Giu não curtiu muito descer por ali, então decidimos voltar ao carro e seguir até a praia Dois Irmãos, cuja entrada está um pouco mais adiante na estrada principal. A estrada que dá acesso à praia é um pouco estreita (muita vegetação em volta) e o trecho final tem muito buraco e é uma descida de respeito. Esse acesso vira uma trilha no final da descida, daí o jeito é estacionar no mato mesmo. A areia dessas primeiras praias ao sul de Cumuruxatiba é mais escura, e a praia é uma porção estreita dessa areia entre as falésias e o mar. Entramos no mar, jogamos um bocado de frescobol e conversamos um pouco com um pescador que voltava dos recifes com um balde cheio de lagostas. No fim da tarde retornamos para o camping, sem muita dificuldade para subir o morro cheio de buraco com o carro. (Aliás, uma coisa que tem muito nas estradas de terra de Cumuruxatiba é buraco! (Preguiça até de tirar foto nesse dia)

6º dia: Barra do Cahy

Sexta feira (26/12), último dia nas praias da Bahia, já que sairíamos cedo de Cumuru no sábado rumo a BH. Tomamos café e fomos de carro pra Barra do Cahy, que, segundo os moradores, foi onde Cabral aportou quando chegou no Brasil. São 18km de terra e areia seguindo pro norte, na mesma direção da Ponta do Corumbau. Em uma bifurcação na estrada, há uma pequena placa indicando “Restaurante da Glória”, aqui você segue à direita, indo para o restaurante. A praia da Barra do Cahy fica nos fundos desse restaurante, ou na frente, dependendo do referencial. Quem vai de carro, obrigatoriamente estaciona na área do restaurante (sem custos) e passa por uma porteira. Dizem que eles proibem a entrada de pessoas com isopor, churrasqueira, panela, etc… o consumo deve ser feito no bar. Se entrar com uma mochila, de boa, como nós entramos, dá pra chegar na praia com algum alimento e bebida. Ou então deixa no carro.


Barra do Cahy

Enfim, pros meus padrões esse restaurante da Glória era muito caro, a garrafa de cerveja custava R$9, as porções eram de R$30 pra cima. Não curti muito esse clima comercial da praia, o que era pra ser um passeio de um dia inteiro ficou limitado até a hora que a fome bateu. O rio que deságua no mar, onde os portugueses chegaram, ficam um pouco mais pro norte do restaurante da Glória, é só subir pela praia alguns minutos de caminhada.
Sem curtir muito a praia, que também estava bastante cheia, bem diferente do tínhamos nos acostumado, voltamos pra Cumuru em busca de almoço. Comemos num restaurante grande da rua principal, o PF lá saiu por R$14, é uma boa opção.


COMO CHEGAR:
Saindo de BH, é seguir a BR-381 sentido Governador Valadares. Prepare-se para pegar um trânsito daqueles em feriadões, a 381 está em obras de duplicação e alguns trechos tem quebra-molas que fazem o tudo parar. Em Valadares, pegar a BR-116 sentido Teófilo Otoni (famosa Tchotchó) e Salvador. Em Teófilo Otoni (a 116 passa por dentro da cidade) pegar a BR-418 rumo a Porto Seguro/Litoral Sul da Bahia, prepare-se para andar bem devagar nesse trecho, são vários radares e quebra-molas dentro de T. Otoni. A BR-418 é mais estreita que as outras, praticamente não há acostamento, o asfalto é ruim em alguns trechos (buracos) e o trânsito de bitrens levando eucalipto e cana pra Bahia e voltando vazias é grande. Ou seja, dirigir com muita atenção neste trecho. Ao se aproximar de Nanuque, na divisa com a Bahia, a estrada fica menos sinuosa, com alguns trechos de reta. Na Bahia nem se fala, é quase tudo reto e plano.

Após passar o distrito de Posto da Mata, você chega no entroncamento com a BR-101 (Rio-Bahia). É uma grande rotatória, mas terrivelmente sinalizada. Dá pra passar direto sem nem perceber (como fizemos), mas à partir desse ponto a BR-418 perde toda e qualquer sinalização horizontal (as faixas), então dá pra perceber que você está entrando num local diferente. No entroncamento com a BR-101, entrar à esquerda, sentido Teixeira de Freitas/Salvador. Este trecho da Rio-Bahia está bem ruinzinho, em vários km’s o acostamento é impraticável, mas o asfalto está bom. O trânsito de carretas e bitrens é grande por aqui.

Ao chegar em Teixeira de Freitas, seguir à direita sentido Alcobaça, pela rodovia estadual BA-290, em bom estado, mas com algum movimento de bitrens de eucalipto e cana. Um pouco antes de Alcobaça, em uma rotatória, pegar à esquerda sentido Prado, por outra rodovia estadual (BA-001). A estrada continua boa e com pouco movimento até Prado. Após passar a ponte estreita que dá acessso a cidade, seguir pela rua principal até visualizar a entrada para Cumuruxatiba (só seguir as placas indicativas). Poucos km’s depois do centro de Prado, termina o asfalto e começa uma estrada de terra e areia, bem batida, até Cumuru são aproximadamente 30km pelo litoral, entre palmeiras, falésias e praias desertas.
De ônibus a trabalheira é menor, há empresas que fazem o trajeto BH x Prado regularmente (Gontijo/São Geraldo). Em Prado dá pra pegar outro ônibus pra Cumuru, eles existem porque cruzei por alguns na estrada de terra/areia.

Depois de 13 horas de estrada com algum trânsito, percorremos os 820km que separam BH e Cumuru, chegando lá no começo da noite de sábado (20/12). Não sei o que esperava da vila, mas me pareceu bem mais calma e pequena do que realmente era. Na verdade os moradores ainda estavam ajeitando o lugar para receber os turistas de reveillon, que pelo visto são muitos.

ONDE FICAR:
Cumuru tem opções pra todos os bolsos ou gostos. Desde camping a casas alugadas, passando por pousadas na beira-mar. Tudo no litoral fica mais caro, não sei o porquê disso se existem lugares muito mais interessantes entre serras e chapadas, mas isso é uma discussão pra outra hora. Ficamos no Camping  da Matinha, um dos campings mais em conta que vimos. A infraestrutura lá é mediana, com dois banheiros e um chuveiro de água fria (de água quente no litoral baiano já basta o mar), cozinha comunitária, duchas e um bom espaço pra camping entre as árvores e sobre areia. E o pessoal que administra a área é gente boníssima, parte da turma também mora em Minas. Sem café da manhã, a diária do camping sai por R$20/pessoa, com café sobe para R$25. Ficamos 7 dias por lá, pechinchamos e ainda conseguimos um desconto com o Naruan. O Camping da Matinha fica próximo ao restaurante Mama Africa (que é bem conhecido por lá), no Morro da Fumaça, a uns 10 minutos a pé da Praia do Píer.

Camping Matinha: (73) 8835 9171 // (31) 99123-6697


CONSIDERAÇÕES:
Cumuru: Pra quem curte um sol no coco, praias desertas e tranquilidade, é o destino certo. Pra quem não curte muito a água do mar, tem a opção de nadar nos rios, que são vários!


A Estrada Litorânea: Muitos buracos em vários pontos, mas pode ser pela época também: antes de chegarmos caiu muita chuva na região. Dá pra ir tranquilo com carro de passeio. Segundo os moradores, trafegar por ela só é complicado quando chove dois ou três dias forte e sem parar.

A Noite: Duvido muito que Cumuru seja um local de “baladas”, mesmo na altíssima temporada. É um lugar pra relaxar. Claro que pode ter algum batuque em algum canto.


Imperdível: Melhor praia pra mim foi Japara Grande, ô lugarzinho! Estando em Cumuru, não esquecer de passar na Cocada da Lucinha, na rua principal. Se possível, leve uma remessa pra casa, são muito boas! Tem também um hot dog completo, em algum canto da rua principal, e a baiana do acarajé, na pracinha que tem quase no fim do calçamento da rua principal.

No mais, é boa viagem e muito protetor solar!

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