12/07/2015

PN Serra do Cipó: Cachoeira Braúnas


Conheci a Braúnas através dos Caçadores de Cachoeiras, quando eles listaram os mitos da Serra do Cipó, que seriam cachoeiras distantes, pouco visitadas e com pouca informação. A partir de então passei a procurar mais informações sobre como chegar na cachoeira e me deparei com relatos de insucesso e poucos tracklogs disponíveis no Wikiloc. Sua localização era a única informação concreta, a cachoeira fica acima do Cânion Bandeirinhas, dentro do Parque Nacional da Serra do Cipó.

Depois de um tempo de pesquisa surgiu uma boa informação. Havia uma trilha mais tranquila e curta, que tinha início perto do distrito de Altamira, no município de Nova União. Salvei o tracklog e esperei a oportunidade, que veio semanas depois. No meio de junho a coisa se concretizou e marcamos a data. Até aí tudo bem, só tinha um problema: meu GPS tinha dado pau e estava na assistência técnica da Garmin, em São Paulo. Na verdade isso não atrapalhou em nada, Pedro me convenceu que dava pra ir só pelo visual, pois caminharíamos na crista da serra. Sem auxílio do GPS começamos mais uma jornada.

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1º dia: Altamira x Camping selvagem

O dia começou cedo, às 7h30 peguei minha carona nas proximidades da UFMG e já seguimos para Altamira. A BR-381, como sempre, nos presenteou com um trânsito muito ruim, que parou na altura de Caeté. Com muita luta chegamos à Nova União, de lá seguimos por estrada de terra, bem sinalizada e em boas condições, até Altamira. Chegamos por volta de 11h e nada do restante do pessoal. Aproveitamos pra comer um belo pão no comércio que tem ao lado da igreja do distrito.

Lá perto de meio-dia a galera apareceu e, rapidamente, tratamos de seguir para o vilarejo de Mutuca de cima, onde a trilha realmente se inicia. De Altamira até lá são cerca de 8km, numa estrada de terra ruim para carros baixos.

A ideia era deixar os carros numa pousada bem conhecida que fica no fim do vale, mas a estrada não permitiu que o Fit e o Palio continuasse, então deixamos o carro perto do portão dessa última pousada, numa clareira, perto do rio. Tiramos todos equipos e tratamos de já começar a caminhada. Segundo um dos Pedros, a trilha se iniciava numa porteira que passamos um pouco antes, à direita da estrada.


Rapidamente chegamos na porteira e começamos a subida, estávamos no fundo do vale e precisávamos subir até o patamar superior da serra. Lá de baixo a subida já se mostrava bem pesada, e foi. Seguimos pela estradinha da porteira e logo uma bifurcação. O caminho a se seguir é o da DIREITA (pra variar, começamos pela esquerda e caminhamos até uma trilha sem saída). Passamos por algumas porteiras e, depois de muito subir, chegamos ao fim dessa estrada, numa casa. Lá o rapaz que trabalhava nos informou que a trilha tradicional passava por trás dessa propriedade. Por volta de 14h seguimos o rumo indicado por ele e interceptamos a trilha mais a frente, após cruzar um pasto e pular uma cerca.

A trilha é bem batida, não descobrimos o início exato dela (nem na volta), mas não tem errada. Ela leva até uma passagem, uma espécie de corredor que atravessa esse patamar mais elevado da serra, entrando em outra bacia, provavelmente a do ribeirão Bandeirinhas. Após essa passagem, a trilha segue por um trecho pouco alagado, que nos fez pegar uma trilha que corre paralela à direita, só que um pouco mais elevada.

Seguimos por uma trilha bem demarcada e, algum tempo depois, cruzamos um córrego com pouca água, indo para a margem esquerda deste. Existe uma trilha menos batida que segue à direita desse córrego, mas ela seguia o rumo de uma mata mais fechada, logo, seguimos pelo caminho mais batido.

Depois do córrego há uma ligeira subida, a partir daí começamos a descer até o fundo do vale. No começo dessa descida há uma bifurcação e decidimos seguir pela direita, pois achamos que a trilha da esquerda levava para o Vale da Lagoa Dourada, o que não é verdade. Depois que cheguei em casa, vi que se tivéssemos seguido a trilha da esquerda em direção ao fundo do vale, atravessaríamos o ribeirão Bandeirinhas mais a frente, evitando passar pelas matas de samambaia.

Seguindo pela direita, após uma longa descida, chegamos ao segundo córrego, com mais água que o primeiro, o que dificultava a travessia sem molhar as botas. Molhando o mínimo possível, conseguimos atravessar o córrego e nos deparamos com uma cerca bem judiada. Esta cerca tinha umas passagens aberta, passei por uma delas e logo começou uma trilha pouco batida. Era mais um caminho de vaca, mas ela seguia para a direção que queríamos.

Andamos mais um pouco que a trilha entrou por uma mata mais fechada e logo chegamos a um curral abandonado. Isso explicava porque o trilho parecia ter sido aberto por bois ou vacas. Também parecia o fim do caminho, mas visualizamos uma trilha à esquerda do curral. Logo ela nos levou a uma mata de samambaia, bem fechada, mas que aparentemente já tinha sido trespassada, pois havia um vestígio de trilho. Como as samambaias crescem rápido e essa trilha deve ser pouco utilizada, logo encontramos algumas dificuldades. Por sorte, lá perto do curral, tinha encontrado um pau parecido com um cabo de enxada, que nos ajudou na hora de abrir caminho.

Após alguns minutos dentro das samambaias, chegamos a outra área aberta, com vestígios de trilha. Seguimos mais um pouco e logo encontramos outra mata de samambaia, desta vez bem menor. Rapidamente cruzamos, saímos em uma área de capim alto e com vestígios de trilho de vaca. Tínhamos que atravessar um pequeno córrego, mas não achávamos o ponto correto. Decidimos descer em direção ao rio para ver se interceptávamos a trilha certa, mas não encontramos nada, nem uma forma de cruzar a água. Como o sol já descia no horizonte e a escuridão era uma questão de – pouco – tempo, a turma já estava disposta a montar acampamento sobre aquele capim.

Decidi, então, seguir na direção contrária, indo de costas pro rio que se formava mais abaixo e acompanhando para cima aquele córrego que nos impedia de continuar caminhando. Um trilho de vaca surgiu com mais nitidez e uma divisão dele partia em direção o córrego que queríamos transpor. Era nossa saída dali. Acompanhado do Natan e do Pedro, passei para o outro lado do córrego, mas antes enfretamos um pequeno atoleiro. Deste lado do córrego a trilha seguia bem mais nítida e, enquanto a galera esperava do outro lado, decidimos explorar um pouco do terreno.


Não tinha tanto capim e o terreno também era mais plano. A trilha se dividia e passava numa parte mais baixa, que podia nos abrigar do vento que descia a serra. Encontramos um lugar perfeito pra acampar, tendo em vista nossas condições. Era uma área plana, com pouca pedra e pouco mato, só alguns tufos de canela de ema poderiam atrapalhar a montagem da barraca. Também estávamos entre dois córregos, já que mais a frente havia outro.

Montamos nossas barracas e a noite caiu. O vento que intensificava o frio deixou todo mundo sem vontade de ficar do lado de fora. Com muito custo resolvemos fazer a janta, colocando o fogareiro num espaço entre duas barracas, abrigado do vento. A comida nem ficou das melhores, mas deu pra encher o pandu dos viventes e esquentar um pouco do corpo. A noite foi fria.

2º dia: Camping x Braúnas (e a volta)

O dia amanheceu bem fechado e o frio permanecia. As dificuldades do dia anterior, a falta de precisão sobre o quanto faltava e como seria o caminho pela frente desanimou grande parte do nosso grupo. A verdade é que tínhamos começado a caminhar bem tarde, paramos muitas vezes e encontramos alguma dificuldade com o caminho, principalmente na parte das samambaias. Nessa hora pensei que a Braúnas ficaria pra uma próxima.

Como o Pedro, a Paty e eu ainda estávamos confiantes em encontrar a cachoeira, combinamos de um jeito que fosse bom para todos. O pessoal iria pra Altamira, ficaria por lá aproveitando o dia e o Pedro do jipe faria nosso resgate perto de onde havíamos deixado os carros no dia anterior, em Mutuca de Cima, às 17h.


O meu instinto, pois mais nada restava, dizia que faltava algo próximo de 1h30 de caminhada. Algo próximo de 6km. Deixamos nossas tralhas escondidas atrás de umas pedras e seguimos pela trilha só com água e comida.

Após a área de acampamento a trilha estava bem demarcada, seguimos por campos de altitude e com um bom visual de toda a região. Imaginávamos entre quais morros e morrotes estaria a cachoeira. E após uma extensa subida, fomos presenteados com a vista do poço. Encontramos! E era bem o que havia imaginado, com 1h30 de caminhada estávamos nas margens do poço da Braúnas.

O dia não era dos mais quentes, então a água estava realmente geladíssima. O poço é MUITO GRANDE, acho que da mesma proporção que o de Tabuleiro. E é bem fácil chegar debaixo da queda, mas é preciso nadar um pouco. Nas proximidades do poço não existe um bom lugar pra acampar, se existe, não vi. Tudo que encontramos foi uma clareira coberta de pedras pra todos os gostos. Nada confortável para passar a noite. Sem falar que a área é pequena, não dá pra colocar muitas barracas.

No sábado, embora tudo parecesse ter dado errado, deu certo. Encontramos o melhor lugar pra acampar de toda a trilha, plano, espaçoso, sem muitas pedras e com água por perto. Na volta marcamos o tempo que levamos pra percorrer desde o poço da cachoeira até aquela primeira porteira, perto de onde deixamos os carros. A pernada toda levou em torno de 4h, sendo só material de “ataque” entre o poço e o camping e cargueiras completas na outra metade. A trilha tem aproximadamente 12km, com desnível considerável só no começo (subida da serra) e no final (descida até o poço). Há água por todo caminho, duas garrafinhas pequenas bastam.


Braúnas é realmente uma cachoeira incrível. Parece que em breve o Parque Nacional da Serra do Cipó vai implantar uma travessia oficial que passa por lá. De quebra, ainda ficamos sabendo a provável origem do nome da cachoeira, numa conversa com um morador lá de Mutuca de Cima. Segundo a lenda, havia um rapaz chamado Braúna, que morava lá no alto da serra, era tropeiro e gostava de tomar umas. Numa dessas, já bebaco, ele foi atravessar um rio cheio com sua mula. Primeiro ele mandou a mula, que com dificuldade conseguiu cruzar o rio. Vendo aquilo, ele achou que também era capaz e tentou, mas acabou sendo levado pela correnteza. A tropa que estava com ele passou a procurá-lo rio abaixo, mas não tiveram sucesso. No outro dia o encontraram (não sei se morto ou vivo) num poço, que passou a ser chamado Poço do Braúna. Daí o nome da cachoeira. É mole?

COMO CHEGAR:

O acesso mais fácil para a cachoeira Braúnas é via Altamira, um distrito de Nova União. De carro, tendo como referência Belo Horizonte, siga pela BR-381, sentido Vitória/Espírito Santo, até o trevo de entrada para Nova União. São cerca de 60km de BH até a cidade. Chegando a sede de Nova União, continue pela rodovia e, depois, por estrada de terra até Altamira. O estrada está em boas condições e é sinalizada. Chegando ao pequeno povoado de Altamira, continue pela estradinha, agora em condições medianas, até a entrada da trilha. São cerca de 25km de Nova União até o ponto final, grande parte por terra.

Há ônibus de linha que faz o trajeto BH x Nova União. De Nova União para Altamira somente de táxi ou por meio do coletivo Transtatão, que tem apenas dois horários por dia. O coletivo sai da praça principal da cidade.

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